Título: País reforça ameaça de guerra sagrada
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2012, Mundo, p. 19

Depois de ter aceitado suspender os testes de seu controverso programa nuclear — o que tinha deixado potências ocidentais otimistas —, a Coreia do Norte reforçou ontem a ameaça de "guerra sagrada" contra a vizinha Coreia do Sul. Com isso, o país mostrou que a tensão entre as duas nações ainda está longe de acabar. Na última quarta-feira, o governo norte-coreano firmou um acordo com os Estados Unidos, no qual cancelaria os testes de armas, os lançamentos de mísseis e o enriquecimento de urânio em troca de ajuda alimentar norte-americana. Além disso, a Coreia do Norte concordou com a entrada de inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) no país para que fiscalizem o processo.

A força militar de Pyongyang justificou a nova ameaça, alegando que as tropas sul-coreanas exibiram slogans e cartazes de insultos contra os líderes da Coreia do Norte nos quartéis e em outras instalações militares. Os soldados "insultaram e difamaram abertamente a dignidade dos líderes supremos da República Democrática do nosso país", acusou a agência oficial KCNA. O comando declarou que fará a guerra "em seu próprio estilo, para eliminar o grupo de traidores". Pyongyang também ameaçou o vizinho no ano passado, quando descobriu que reservistas da Coreia do Sul usavam fotografias de dirigentes do regime norte-coreano como alvo em treinos de tiro. Para evitar conflitos, Seul, capital rival, proibiu a prática.

Especialistas não ficaram surpresos com a declaração. "Acredito que Pyongyang tem pouco incentivo para entregar as suas armas nucleares e se reaproximar do vizinho", opina o cientista político da Universidade de Berkeley, câmpus da Califórnia, T.J. Pempel, especialista em Coreia do Norte. "Os países não estão perto de uma reconciliação e de um fim às armas nucleares do regime fechado", disse. "Eu não acho que a Coreia do Norte fez qualquer decisão fundamental para mudar sua política externa." Além disso, a Coreia do Norte já aceitou interromper seu programa antes, mas, pela primeira vez desde 2009, permitiu que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) monitore o programa. Neste ano, quando o país começou a testar dispositivos nucleares, os fiscais foram expulsos da região.

Os governos da Coreia do Norte e dos Estados Unidos se reunirão na próxima semana em Pequim, China, para analisar o plano de ajuda alimentar. "A ideia é discutir os detalhes técnicos para que a assistência alimentar possa começar a ser transferida", explicou a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Victoria Nuland. Washington se comprometeu a enviar 240 mil toneladas de alimento a Pyongyang. O acordo foi feito depois de quase três meses da morte do ex-ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il. Esta foi a primeira negociação desde que o governo da isolada Coreia do Norte foi assumido por Kim Jong-un, filho do ex-mandatário.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 03/03/2012 02:28