Título: Mais conforto à população
Autor: Araujo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2012, Cidades, p. 23/24

Governo local exige ônibus equipados com ar-condicionado, bancos estofados e com encosto na cabeça, além de GPS

Ser usuário de ônibus no Distrito Federal não é tarefa fácil. Diariamente, cerca de um milhão de pessoas sofrem com ônibus velhos, lotados e com defeitos. Por diversas vezes, o Correio denunciou a situação caótica da frota brasiliense, hoje estimada em 3,9 mil veículos. Do total, muitos rodam com pneus carecas, extintores vencidos e assentos quebrados. Por conta disso, a Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) aplicou, em 2011, 7.706 autos de infração às empresas. Mesmo com a punição, os empresários do ramo se mostram incapazes de melhorar o sistema.

Em janeiro de 2012, quando as novas empresas começam a operar no DF, quem depende de coletivos sentirá mudanças razoáveis ao cruzar a roleta. Pelo menos é o que garantem as autoridades ligadas ao transporte. Os quatro decretos assinados por Agnelo Queiroz ontem dispõem do encerramento das "delegações precárias no sistema". O projeto estabelece que todos os veículos serão equipados com ar-condicionado, bancos e encostos de cabeça estofados, piso antiderrapante e acessibilidade para pessoas com deficiência, por meio de uma plataforma automática para embarque e desembarque de cadeira de rodas.

Se o que está no papel for seguido à risca, os rodoviários guiarão carros com direção hidráulica e sistema de GPS. As empresas também serão obrigadas a substituir, anualmente, pelo menos 17% da frota. A largura das portas será estendida. Hoje, todas têm cerca de 0,80m. A previsão é que os novos veículos tenham entre 0,95m e 1,10m em cada acesso. "Há 50 anos, o povo do DF é humilhado ao andar de ônibus e nós não podíamos fazer com que essa situação perdurasse. Tínhamos que garantir um transporte público de qualidade e essa responsabilidade era do Estado", afirmou Agnelo.

O número de linhas serão reduzidos, mas isso não necessariamente implicará em um tempo maior de espera nas paradas. A ideia é otimizar as viagens, fazendo com que os coletivos circulem mais vezes por dia. "Esperamos reduzir o número de linhas, de mil para 500. O mais importante nesse processo não é a quantidade de linhas ou de ônibus, mas, sim, a frequência com que eles passam", explicou o secretário de Transportes, José Walter Vazquez.

Os estudos de mobilidade para reformular o transporte público na capital foram financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O sistema adotado em Brasília foi inspirado nos modelos implantados em capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Curitiba.

Corredor exclusivo A empresa que conseguir o direito de explorar a bacia que engloba a Estrada Parque Taguatinga (EPTG), por exemplo, terá de apresentar frota adaptada para embarque e desembarque de passageiros do lado direito. Mas o governo só exigirá as mudanças quando a linha verde for concluída. Há três semanas, a rodovia foi contemplada com corredores exclusivos para ônibus, táxis e vans escolares, o que fez os usuários a economizarem pelo menos 20 minutos entre Taguatinga e a Rodoviária do Plano Piloto. A Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) foi a primeira estrada do DF a receber um corredor para coletivos. No dia 15 de março, será a vez de a W3 Sul ser contemplada com a faixa.

Eu achoStéfany Silva, 17 anos, estudante

"Problema tem aos montes. Posso ficar o resto do dia falando. Já deixei de entrar em ônibus por causa do estado dele. É porta que não fecha, banco solto... Tenho medo de sentar e cair. Muitas pessoas de mais idade têm de ficar em pé porque os veículos estão sempre cheios. Vou de Sobradinho ao Plano Piloto, nunca em menos de uma hora. Alguns também quebram no meio do caminho. Não é porque o transporte é público que tem que ser ruim."