Valor econômico, v. 17, n. 4361, 13/10/2017. Brasil, p. A2.

 

 

Mercosul e UE reconhecem ser preciso ampliar as concessões para obter acordo

Assis Moreira

13/10/2017

 

 

O Mercosul e a União Europeia (UE) reconheceram que precisam fazer mais concessões para tentar chegar em dezembro com as barganhas centrais equacionadas em vista de um anúncio político do acordo de livre comércio.

A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström se reuniu no começo desta semana separadamente com os ministros de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, e da Produção da Argentina, Francisco Cabrera, em Marrakesh (Marrocos), à margem de encontro de 40 países para discutir negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Os europeus têm sinalizado que o prazo de liberalização do mercado do Mercosul, que seria para a maioria dos produtos industriais entre 12 a 15 anos, é muito longo, e esperam uma redução importante para algo entre 8 e 10 anos.

Por sua vez, o Mercosul tem insistindo que uma oferta com credibilidade na área agrícola precisa aumentar significativamente o acesso não só para carne bovina e etanol, mas também para outros produtos que não são exatamente sensíveis para produtores europeus.

Considerando que as concessões agrícolas europeias foram amplamente insatisfatórias, o Mercosul propôs três maneiras de negociar, com metodologias que poderiam facilitar o entendimento, segundo fontes.

As reunião entre representantes do Mercosul e da União Europeia, sob o sol do Marrocos, mostrou que os dois blocos continuam comprometidos em avançar, apesar do reconhecimento de que o prazo de dezembro para fechar um pré-acordo é algo bem arriscado.

A negociadora europeia para o Mercosul, Sandra Gallina, sugeriu, na semana passada em Brasília, que seria bom o Mercosul ter mais tempo para melhorar sua oferta de abertura do mercado. Por sua vez, um importante negociador do Mercosul, indagado se havia chance de acordo até dezembro, nas grandes linhas, pelo menos, respondeu: "não".

A delegação brasileira se reuniu também com representantes do Canadá. E a mensagem foi de que o Mercosul começa a negociar um acordo de livre comércio a partir do momento em que os canadenses estiverem preparados.

Com relação à reunião da OMC, comandada pelo diretor-geral Roberto Azevêdo, ficou claro que não há perspectiva real de entendimento em nenhum tema para negociação, no momento, o que joga sombras sobre a conferência ministerial de Buenos Aires, em dezembro.

No entanto, o mais importante foi que ministros deram o mandato para os negociadores continuarem tentando chegar a um acordo em Genebra pelo menos até novembro. Isso cortou o movimento dos mais relutantes, como a África do Sul, que queriam encerrar as conversações já em Marrakesh.

Os Estados Unidos, de seu lado, contestam a noção de que a toda reunião ministerial da OMC - realizadas de dois em dois anos - deve ter algum resultado, como ocorreu em Bali (acordo de facilitação de comércio) e em Nairobi (acordo para eliminação de subsídios à exportação agrícola).

Alegando que não veem convergências, os americanos deixaram claro que não viam motivo para se engajar agora. Mas pelo menos não bloquearam os esforços de ainda se tentar algum resultado até dezembro.