MARIA LIMA
CRISTIANE JUNGBLUT
Após vários dias de mobilização envolvendo o presidente Michel Temer, dirigentes do PSDB, o PMDB e líderes de partidos governistas, o Senado devolveu ontem o mandato a Aécio Neves (PSDBMG). Por 44 votos a 26, apenas três a mais que os 41 necessários, o Senado derrubou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que havia afastado Aécio do mandato e lhe imposto o recolhimento noturno.
A tropa de choque a favor de Aécio teve como principais expoentes os peemedebistas Romero Jucá (RR), líder do governo; Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA). Segundo informações da Mesa do Senado, Aécio pode voltar ao mandato imediatamente. O nome dele voltou a lista dos senadores em exercício minutos depois da votação.
Antes da sessão, Aécio enviou carta a senadores, se dizendo vítima de uma “trama ardilosa”. Sem entrar no mérito do recebimento dos R$ 2 milhões em malas de dinheiro entregues por Joesley Batista, o principal argumento dos que votaram com Aécio foi que ele ainda não é réu, não foi ouvido pelo STF e não poderia ser condenado sem julgamento.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) chegou a criar uma manobra regimental, com nova interpretação da Constituição, para forçar a votação de todos. Por ela, os adversários do tucano precisariam dos mesmos 41 votos para manter a decisão do STF contra Aécio. Caso nenhum dos dois lados obtivesse tal apoio, haveria nova votação futuramente.
— Fiz o que o regimento determina. No voto aberto, é uma decisão às claras. Como cabia ao Senado, os senadores entenderam por bem fazer essa decisão — disse Eunício, negando atitude corporativa.
TUCANO COMEMORA
Após a votação, Aécio divulgou nota:
“O senador Aécio Neves recebeu com serenidade a decisão do plenário do Senado Federal que lhe permite retomar o exercício do mandato conferido pelo voto de mais de 7 milhões de mineiros. A decisão restabeleceu princípios essenciais de um Estado democrático, garantindo tanto a plenitude da representação popular, como o devido processo legal, assegurando ao senador a oportunidade de apresentar sua defesa e comprovar cabalmente na Justiça sua inocência em relação às falsas acusações das quais foi alvo”.
Foi montada uma estratégia de guerra para conquistar os votos pró-Aécio. Desde que chegou da Rússia, na segundafeira à tarde, Eunício vinha se reunindo com aliados do tucano, e o presidente Michel Temer entrou em campo abertamente para ajudar. A mobilização deu resultado: no PMDB, foram 18 votos a favor de Aécio e apenas dois contra.
Após o resultado, interlocutores de Temer comemoraram a vitória, apostando que ela dará força ao presidente no plenário da Câmara, onde ele enfrenta, na próxima semana, a denúncia por obstrução de Justiça e organização criminosa. Segundo essas avaliações, o apoio do PMDB para que o senador voltasse ao mandato “será retribuído”.
Aliados de Temer acreditam que aumentará o apoio ao presidente na bancada do PSDB na Câmara. Na votação da primeira denúncia, o partido ficou dividido, praticamente ao meio.
— Essa vitória repercute na votação da denúncia porque mostra que o PSDB comandado por Aécio ainda tem muita força. A tendência é que isso aumente o número de votos de tucanos a favor de Temer, até porque o Alckmin tirou a digital do processo — afirmou um assessor do presidente.
Apesar do voto unânime em favor de Aécio, a avaliação no PSDB é que ele retorna muito enfraquecido ao mandato. Além de ainda enfrentar um novo processo no Conselho de Ética do Senado, Aécio deve ser pressionado a renunciar prontamente, e de forma definitiva, à presidência do partido. A avaliação geral é que o PSDB sai desgastado perante a opinião pública pela defesa do senador.
Na discussão, Antonio Anastasia (MG), afilhado político de Aécio, fez a defesa mais enfática do colega, alegando que o Senado não estava tratando de um caso particular, mas da aferição de pesos e contrapesos entre os poderes.
Ao telefone com senadores e na companhia de deputados da bancada de Minas Gerais que foram à sua casa tão logo o Senado proclamou o resultado da votação, Aécio comemorou o fim do que chamou ser um “pesadelo”. Segundo os deputados mineiros, Aécio se prepara para reassumir o mandato hoje mesmo. (Colaborou Leticia Fernandes)
A FAVOR DE AÉCIO:
Antonio Anastasia (PSDB-MG) Ataídes Oliveira (PSDB-TO) Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) Dalirio Beber (PSDB-SC) Eduardo Amorim (PSDB-SE) Flexa Ribeiro (PSDB-PA) José Serra (PSDB-SP) Paulo Bauer (PSDB-SC) Roberto Rocha (PSDB-MA) Tasso Jereissati (PSDB-CE) Airton Sandoval (PMDB-SP) Dário Berger (PMDB-SC) Edison Lobão (PMDB-MA) Eduardo Braga (PMDB-AM) Elmano Férrer (PMDB-PI) Fernando Coelho (PMDB-PE) Garibaldi Alves (PMDB-RN) Jader Barbalho (PMDB-PA) João Alberto Souza (PMDB-MA) José Maranhão (PMDB-PB) Marta Suplicy (PMDB-SP) Raimundo Lira (PMDB-PB) Renan Calheiros (PMDB-AL) Romero Jucá (PMDB-RR) Simone Tebet (PMDB-MS) Valdir Raupp (PMDB-RO) Waldemir Moka (PMDB-MS) Zezé Perrella (PSDB-MG) Davi Alcolumbre (DEM-AP) José Agripino (DEM-RN) Maria do Carmo Alves (DEM-SE) Benedito de Lira (PP-AL) Ciro Nogueira (PP-PI) Ivo Cassol (PP-RO) Wilder Morais (PP-GO) Cidinho Santos (PR-MT) Vicentinho Alves (PR-TO) Wellington Fagundes (PR-MT) Eduardo Lopes (PRB-RJ) Fernando Collor (PTC-AL) Hélio José (PROS-DF) Omar Aziz (PSD-AM) Pedro Chaves (PSC-MS) Telmário Mota (PTB-RR)