Título: O inferno astral de Mantega
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2012, Economia, p. 12/13

Em vez de se dedicar apenas a temas econômicos, o ministro da Fazenda vem sendo obrigado a lidar com denúncias de corrupção e briga por poder entre seus subordinados

» VICENTE NUNES » ROSANA HESSEL » VERA BATISTA

O ano de 2012 tem sido um martírio para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Não bastasse ter de lidar com um drama pessoal — o câncer de sua mulher, Eliane Berger —, envolveu-se em denúncias de corrupção, meteu-se numa guerra por poder entre seus subordinados e, para completar, viu crescer, de forma excepcional, a força de seu secretário executivo, Nelson Barbosa, no Palácio do Planalto. O desgaste foi tamanho, que o ministro chegou a conversar com a presidente Dilma Rousseff sobre a possibilidade de deixar o cargo. O que foi imediatamente descartado por ela.

Apesar de todo o apoio da chefe e do reconhecimento do trabalho executado nos seis anos que em está à frente da Fazenda — especialmente entre 2008 e 2009, auge da crise mundial que ainda atormenta o mundo —, o Palácio do Planalto reconhece que Mantega vem demorando muito para reagir e debelar os problemas em sua seara. Isso ficou evidente, sobretudo, quando surgiram as denúncias de que o então presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, teria recebido propina de US$ 25 milhões em contas abertas em paraísos fiscais.

Apesar de saber das suspeitas há quase um ano, o ministro só demitiu Denucci quando a imprensa passou a investigar o caso. Pior: demorou quase uma semana para dar uma explicação sobre a demissão. E só o fez por determinação da presidente Dilma, ainda assim para jogar a culpa da nomeação do subordinado para o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO) — um embaraço a mais nas relações entre o Planalto e a base aliada.

Na última quarta-feira, também por determinação da presidente da República, Mantega teve de intervir na guerra travada entre Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, e Ricardo Flores, presidente da Previ, o bilionário fundo de pensão dos empregados da instituição. O ministro minimizou o assunto, alegando que a briga entre os dois estava sendo alimentada por "fofocas da imprensa". O caso, porém, ganhou dimensão de crise, devido à quebra de sigilo de Allan Toledo Simões, ex-vice-presidente do BB.

Ao tomar conhecimento de que extratos do ex-executivo circulavam livremente pela Esplanada dos Ministérios, Dilma se disse horrorizada. Para a presidente, dados dos correntistas são "cruciais e sagrados". Porém, mais do que a indignação com o vazamento de informações confidenciais, o Planalto teme ver repetido o escândalo da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa pela Caixa Econômica Federal, que resultou na demissão de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.