O Estado de São Paulo, n. 45298, 25/10/2017. Economia, p.B8

 

 

 

 

Petrobrás põe fim a grandes concursos

Companhia afirma que seu encolhimento e reforma trabalhista também levam estatal a acabar com programas de demissão voluntária

Por: Denise Luna / Fernanda Nunes

 

Denise Luna

Fernanda Nunes / RIO

 

A Petrobrás vai acabar com os grandes concursos para contratação de novos empregados e também com os programas de incentivo à demissão voluntária (PIDV), disse o diretor de Recursos Humanos da empresa, Hugo Repsold. Com a reforma trabalhista, que passa a valer no mês que vem, e também com o encolhimento da estatal, a empresa considera não haver mais motivo para manter o ritmo de contratações e lançar planos de desligamento.

“Nunca mais vai ter concurso para 2 mil pessoas. Agora, vamos fazer concursos de 100 pessoas, 50 pessoas, de 30 vagas, coisas pontuais para resolver aposentadorias”, disse Repsold. Ele participou ontem do evento OTC Brasil 2017, uma versão local da maior feira mundial do setor, que acontece no Texas (EUA).

No caso dos PIDVs, daqui para frente, toda vez que a Petro- brás quiser demitir, vai entrar em acordo direto com os trabalhadores, uma modalidade de desligamento que se tornará viável com a reforma trabalhista. Até então, a estatal era obrigada a cumprir as condições previstas no acordo coletivo fechado com os sindicatos.

O último programa foi encerrado em setembro deste ano, com a adesão de 11,7 mil funcionários, a maior parte em idade para se aposentar. Desde 2014, 16 mil foram incentivados a deixar a empresa.

 

Reação. A notícia não agradou à Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa a maioria dos empregados e promete buscar “ações nos campos jurídico e político quando o processo for colocado em prática”, como afirmou o presidente da entidade sindical, José Maria Rangel. Ele disse não ter sido informado da decisão de que a empresa vai acabar com os grandes concursos e partir para os acordos diretos de demissão.

“Essa posição do diretor só reforça nossa certeza de que a empresa vai se adaptar à reforma e caminhar para a terceirização, voltando-se exclusivamente para o pré-sal”, disse Rangel.

O fim das contratações em massa contrapõe o discurso de otimismo do presidente da empresa, Pedro Parente, na abertura do evento. “Conseguimos iniciar a recuperação da indústria do petróleo. O setor deu uma virada para melhor e o ambiente se tornou mais atrativo”, afirmou. Ele destacou o interesse especial pelo pré-sal que, em sua opinião, não só é viável como é competitivo em relação a outras oportunidades existentes no mundo.

A Petrobrás não descarta apresentar ofertas no leilão de pré-sal, que acontecerá na sexta-feira, para mais do que as três áreas nas quais já exerceu o direito de preferência de ser operadora – Sapinhoá, Alto Cabo Frio e Peroba. Pela lei de partilha, que define as condições de exploração e produção na região, a estatal tem o direito de liderar os projetos da sua preferência. Mas pode também concorrer pelos demais blocos ofertados pelo governo em pé de igualdade com as outras petroleiras.

Nas áreas onde já opera, a empresa trabalha para reduzir o custo em US$ 5,3 bilhões até 2026, com a adoção de 16 inicia-

tivas focadas exclusivamente em sistemas submarinos. A expectativa é cortar gastos na compra e na instalação de dutos, os itens que mais pesam na conta.

 

Leilão-surpresa. Também presente na OTC, o secretário do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Felix, anunciou que haverá uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para redefinir os blocos que serão ofertados na 15.ª Rodada, de pós-sal, prevista para março de 2018. A ideia é colocar “uma área surpresa” que torne o leilão mais atraente.

 

Saída

11,7 mil

trabalhadores aderiram ao último programa de demissão voluntária da Petrobrás que foi encerrado em setembro; desde 2014, 16 mil funcionários foram incentivados a deixar a empresa