O Estado de São Paulo, n. 45294, 21/10/2017. Política, p.A7

 

 

 

 

Com 3ª condenação, pena de Cabral chega a 72 anos 

Ex-governador do Rio é sentenciado, desta vez, pelo crime de lavagem de dinheiro; peemedebista ainda é réu em outras 13 ações penais

Por: Roberta Pennafort / Julia Affonso

 

Roberta Pennafort / RIO

Julia Affonso

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) foi condenado ontem pelo juiz Marcelo Bretas a 13 anos de prisão por lavagem de dinheiro na Operação Mascate. Esta é a terceira condenação do peemedebista em desdobramentos da Lava Jato no Rio.

Cabral, que completará no mês que vem um ano de prisão, ainda é réu em outras 13 ações da Lava Jato. Com a sentença de ontem, a pena total imposta ao ex-governador soma 72 anos de reclusão. Além dos 13 anos de prisão, Cabral terá de pagar 480 dias-multa (R$ 40 mil).

Também foram condenados Carlos Miranda, apontado como operador financeiro de Ca- bral, a 12 anos de reclusão por lavagem de dinheiro, e o ex-assessor da Casa Civil do governo do Rio Ary Ferreira da Costa Filho, a 9 anos e 4 meses por lavagem de dinheiro e pertinência à organização criminosa.

A denúncia aponta simulação de serviços de consultoria e aquisição de veículos e imóveis para lavar recursos ilícitos. A lavagem, segundo a acusação, ti- nha por objetivo converter os recursos de propina “em ativos de aparência lícita e/ou distanciar ainda mais de sua origem ilícita o dinheiro derivado de crimes de corrupção do esquema atribuído a Sérgio Cabral”.

Em setembro, Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, já havia sentenciado Cabral a 45 anos e 2 meses de reclusão, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Antes, o ex-governador havia sido condenado pelo juiz Sérgio Moro a 14 anos e 2 meses de prisão, por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Cabral está preso desde 17 de novembro do ano passado. “Toda a atividade criminosa aqui tratada teve a finalidade de que Sérgio Cabral, seus familiares e comparsas integrantes da organização criminosa desfrutassem de uma vida regalada e na- babesca”, escreveu Bretas.

O advogado de Cabral, Rodrigo Roca, disse que a sentença “choca, não só pela injustiça da condenação, mas por ter sido a que mais se afastou das provas e a que mais violou direitos e garantias”. As defesas de Ary Ferreira e Carlos Miranda não foram localizadas.

 

 

 

 

 

‘Para mim, o chefe era outro’, afirma Renan

Por: / JULIA LINDNER, THIAGO FARIA e BEATRIZ BULLA

 

Após uma série de críticas ao presidente Michel Temer ao longo da semana, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) rechaçou a tese da procuradorageral da República, Raquel Dodge, de que o ex-ministro Geddel Vieira Lima “parece” ter assumido a posição de líder de uma organização criminosa.

Ontem, no Twitter, Renan insinuou que Geddel teria outro chefe, sem citar o nome do presidente da República. “Engraçado... Nunca soube que Geddel era o Chefe. Para mim, o chefe dele era outro”, escreveu.

Duas horas depois da publicação, Renan destacou a letra “T” da palavra “outro” para tentar de evitar que a frase fosse vista como uma crítica à procuradora-geral. “Não me referi à decisão da procuradora, cujo trabalho acredito ter caráter técnico e não político, como (Rodrigo) Janot (ex-procurador-geral da República) fez”, reafirmou o senador ao Estado por meio de assessoria de imprensa.

Anteontem, Raquel Dodge usou o argumento de que Geddel seria chefe de uma organização criminosa para manter a sua prisão preventiva. Geddel foi preso em julho por tentativa de obstrução da Justiça, mas colocado em prisão domiciliar dias depois. Em setembro, o exministro foi novamente preso preventivamente após a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões atribuídos a ele em um apartamento em Salvador.

Críticas. Há dois dias, Renan fez um discurso na tribuna do Senado para pedir que a denúncia contra Temer, em análise na Câmara, tenha continuidade. O parlamentar alagoano acusou o presidente da República de comprar votos para barrar o processo de investigação.

“Eu sei que os turcos, os gregos e os libaneses – eu não sei se o presidente é grego ou é libanesa a sua família – deram uma contribuição muito importante ao desenvolvimento do comércio no Brasil. Mas o presidente Michel Temer não tem o direito de querer transformar o Congresso Nacional em uma Rua 25 de Março, como em São Paulo, onde se vende tudo”, declarou.

Renan também se posicionou contra a portaria do Ministério do Trabalho que muda as regras de fiscalização do trabalho escravo. Para ele, a nova portaria “favorece a escravidão no País”. Em conversa com aliados, o senador peemedebista afirmou que Temer tem cometido “erros em série”.

Procurada, a assessoria do Palácio do Planalto afirmou que não comentaria as declarações de Renan. / JULIA LINDNER, THIAGO FARIA e BEATRIZ BULLA