O Estado de São Paulo, n. 45292, 19/10/2017. Política, p. A5.

 

Trocas no PSB resultam em votação menor

Isadora Peron / Daiene Cardoso

19/10/2017

 

 

Partido substitui de última hora integrantes da comissão que votariam a favor do presidente

 

 

O placar com dois votos a menos para o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados é fruto da decisão do PSB de trocar, na última hora, integrantes do colegiado para garantir os quatro votos do partido contra o peemedebista.

O governo, no entanto, atuou para garantir que as demais bancadas mantivessem a mesma configuração de votos da primeira denúncia. No PSD, por exemplo, o deputado delegado Éder Mauro (PA) foi substituído por Edmar Arruda (PR), que votou pelo não prosseguimento do processo.

Com isso, o chamado Centrão – bloco formado pelo PR, PP, PRB, PTB, PSC – manteve a fidelidade a Temer e garantiu quase 100% dos votos para o governo. A exceção ficou com o Solidariedade, que, assim como na primeira denúncia, deu um voto a favor do governo e um contra. No PMDB, a novidade foi o voto favorável a Temer de Osmar Serraglio (PR), que na primeira denúncia não participou da votação pois estava descontente com o governo depois de ter sido demitido do Ministério da Justiça.

Já esperando um placar favorável, os governistas não chegaram a fazer tantas mudanças de titulares do colegiado como ocorreu na votação da primeira denúncia contra Temer.

 

Votos contrários. As defecções vieram dos partidos que o governo já esperava. O PSDB repetiu o placar majoritário contra Temer. Foram cinco votos a três, contabilizando também o do relator Bonifácio de Andrada (MG), que permaneceu na comissão na vaga que cabia ao PSC.

No DEM, dos quatro deputados, Marcos Rogério (RR) manteve a posição e foi o único a votar a favor do prosseguimento da denúncia. Minoritária, a oposição (PT, PDT, PC do B, Podemos, PPS, PSOL e Rede) votou fechada a favor da investigação contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

 

Cartazes. Oposição protesta durante votação na CCJ

 

Substituição

Integrante da ala oposicionista do PSB, deputado Júlio Delgado (MG) foi escolhido como novo líder do partido na Câmara. Vinte dos 37 integrantes da bancada votaram pela destituição de Tereza Cristina (MS), aliada de Temer.

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Base já espera queda de apoio no plenário

Igor Gadelha

19/10/2017

 

 

Líderes de partidos da base aliada preveem que o presidente Michel Temer terá menos votos a seu favor na segunda denúncia em relação à primeira durante a votação da acusação no plenário da Câmara. A avaliação é de que a relação política entre os parlamentares e o Palácio do Planalto piorou. A votação da segunda denúncia no plenário da Casa está prevista para a próxima quarta-feira, dia 25.

Em linhas gerais, líderes partidários citam três motivos principais para o aumento dos votos contrários a Temer: 1) o não cumprimento de promessas do governo em relação a liberação de cargos e emendas; 2) o fato de os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) estarem juntos na segunda denúncia; 3) a perda do medo de punições, por o governo não ter punido deputados da base que votaram contra Temer na primeira denúncia.

“O clima está tenso. Com certeza, ele terá menos votos a favor dele”, afirmou o líder do PSD na Câmara, deputado Marcos Montes (MG), que comanda a quinta maior bancada da Casa, com 39 parlamentares. De acordo com ele, a bancada do PSD deve dar de três a cinco votos novos contra Temer na segunda denúncia. Na primeira denúncia, o partido tinha 40 deputados, dos quais 14 votaram contra Temer, 22, a favor e dois se ausentaram.

O líder do PR, José Rocha (BA), também prevê que Temer receberá menos votos a seu favor na segunda denúncia. “No PR, há uma insatisfação muito grande por não terem cumprido o compromisso de liberação de emendas impositivas. Ano que vem é ano eleitoral”, afirmou Rocha, sem dar uma estimativa de votos na bancada. Na primeira denúncia, o PR deu 28 votos a favor do presidente e nove contra. Outros três parlamentares se ausentaram.

 

Avisos. Apesar dos avisos ao governo, a maioria dos partidos da base aliada agiu para ajudar o governo. PR e PSD, por exemplo, mudaram seus integrantes titulares na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para ajudar Temer a barrar a segunda denúncia. O colegiado aprovou ontem o parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) recomendando a rejeição da denúncia.

Temer tem feito concessões a demandas mais gerais dos parlamentares. O governo, por exemplo, editou um decreto que dificulta, segundo especialistas, a punição de empresas que submetem trabalhadores a condições análogas à escravidão, demanda da bancada ruralista. Também concordou com regras mais benéficas para empresas no novo Refis, um programa de parcelamento tributário com a União.