O Estado de São Paulo, n. 45291, 18/10/2017. Política, p. A6.

 

Uma mão lava a outra?

Vera Magalhães

18/10/2017

 

 

O PMDB de Michel Temer que salvava Aécio Neves. E o PSDB, de Aécio, salvava Temer? A primeira parte da versão Lava Jato da Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, se confirmou. Mas a segunda ainda é uma incógnita.

O tucano deve a restituição de seu mandato e de seu direito a sair de casa à noite ao PMDB do presidente. O partido votou de forma quase monolítica, a despeito, inclusive, de suas divisões internas. As exceções foram Kátia Abreu, uma quase ex-peemedebista, e Rose de Freitas, que não compareceu.

Nada indica que o PSDB vá retribuir a força votando em peso pelo arquivamento da denúncia contra Temer. O presidente resolveu apostar tudo em fidelizar os tucanos.

O palácio atuou na bancada em defesa da tese de que Aécio não era sequer réu. Mas essa influência é relativa, uma vez que a ala renanzista, por exemplo, votou mais por interesse próprio do que por uma inexistente afinação com Temer.

No PSDB os caminhos são mais tortuosos. Aécio já não tem quase nenhuma influência sobre os deputados para cobrar alguma retribuição. Por isso, Temer age perante os novos caciques influentes. Jantou ontem com João Doria Jr. no Jaburu, e conta com uma boa vontade maior do segmento alckmista da bancada, que tem dado declarações de que a segunda denúncia não tem a força da primeira, e que foi maculada pelos problemas da delação de Joesley Batista e seus asseclas.

No fim, Temer deverá se salvar, como Aécio. Mesmo que um não tenha força para, sozinho, jogar a boia para o outro.

 

VERÃO PASSADO

Bastidores da votação tiveram recados de aliados de Aécio

O clima nos bastidores nos dias que antecederam a sessão de ontem do Senado foi tenso. Senadores relatam que foram bombardeados com recados de que o tucano não cairia sozinho se fosse jogado ao mar por aqueles a quem ajudou com recursos para campanhas recentes, quando era presidente do partido. Em alguns casos, dizem os que contabilizaram votos, esse apelo à memória foi fundamental para definir votos.

 

DAY AFTER

Mineiro reluta em se afastar do comando do partido

Aliados de Aécio dizem que, mesmo diante do desgaste das últimas semanas, o mineiro ainda não aparenta ter a dimensão exata de que precisa “sair de cena”. “Ele não quer largar o osso, acha que vai voltar fortalecido”, observa um interlocutor. A ordem na tropa de choque que votou com ele é evitar qualquer tentativa da oposição de ressuscitar o tema no Conselho de Ética. E o sonho é usar o colegiado para “dar o troco” no PT, que votou pelo afastamento do tucano.

 

COFRE ABERTO

Cortejado por Temer, Doria leva R$ 72 mi para creches

Antes do jantar político com o presidente, o prefeito João Doria negociou a liberação de R$ 72 milhões do Ministério da Educação para a construção de 22 creches na capital – 12 a serem iniciadas ainda neste ano, e dez em 2018 – e R$ 90 milhões para a construção de três CEUs (Centros Educacionais Unificados). “Em janeiro, estou aqui para pedir mais R$ 26 milhões”, anunciou o tucano, ao se despedir do ministro Mendonça Filho.

 

CAMPO ROSA

Pesquisa mostra perfil das mulheres no agronegócio

Uma pesquisa feita com produtoras rurais, executivas e trabalhadoras do campo divulgada ontem, durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, mostra que, a despeito do crescimento da presença feminina no setor, o preconceito ainda impera: 44,2% das entrevistadas relataram sofrer preconceito evidente, enquanto 30% apontam preconceito sutil. Apenas 25,8% dizem não terem sido alvo de discriminação.

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Por Maia, Temer avalia troca no BNDES

Igor Gadelha / Vera Rosa

18/10/2017

 

 

Peemedebista pode mudar comando do banco para agradar ao presidente da Câmara e apaziguar ânimos às vésperas de se votar 2ª denúncia

 

 

O governo avalia mudar o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atualmente presidido por Paulo Rabello de Castro, como uma forma de tentar agradar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Michel Temer na Casa, por obstrução da Justiça e organização criminosa, Maia vem demonstrando mal-estar com o Palácio do Planalto e busca se descolar do governo, com foco na disputa eleitoral de 2018.

Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara tem usado o discurso de que é preciso uma nova agenda para o País e, com isso, almeja maior protagonismo na condução das decisões econômicas. Esse é, de acordo com aliados do deputado, um dos motivos dos recentes atritos com o Planalto, que tiveram seu ápice no fim de semana, após a divulgação de vídeos da delação do operador financeiro Lúcio Funaro no site da Câmara. O episódio levou a um bate-boca público entre Maia e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós.

Amigo de Temer, Rabello de Castro assumiu o BNDES em junho, após a saída de Maria Silvia Bastos Marques. À época, Maia tentou emplacar Luciano Snel, da Icatu Seguros, e ficou contrariado por não ter sido consultado sobre a escolha. Segundo auxiliares de Temer, a mudança no BNDES pode ser feita após a votação da denúncia, prevista para o fim deste mês no plenário da Câmara. Caso não haja acordo sobre o nome, a troca deve ser feita no início de 2018.

O presidente da Câmara nega que esteja pressionando o governo a trocar o presidente do BNDES. “Se o Palácio quiser trocar, que troque. Não queira colocar na minha conta”, afirmou Maia ao Estadão/Broadcast. “Se não fui consultado na primeira vez, não é agora que vou ser consultado”, disse. Em relação aos atritos com o Planalto, ele afirmou ontem que “esse tema está superado”.

A assessoria do banco informou que não comenta o assunto. Oficialmente, o Planalto afirmou que não houve nenhuma negociação para a troca do presidente do BNDES. Em conversas reservadas, Rabello de Castro diz saber que não é unanimidade na equipe econômica e no Congresso, mas tem respaldo de funcionários da instituição. Aliados de Temer lembram, no entanto, que Rabello de Castro, filiado ao PSC, quer ser candidato em 2018 à Presidência da República.

De qualquer forma, interlocutores de Temer no Congresso afirmam que a ordem do governo é resolver todas as pendências de Maia a toque de caixa, principalmente em meio à tramitação da segunda denúncia. Nas palavras de um influente parlamentar ligado ao Palácio do Planalto, os pedidos de Maia devem ser atendidos.

 

Impasses. Na semana passada, Maia também se incomodou com a manobra do governo para não votar a Medida Provisória 784 que, entre outros pontos, autoriza o Banco Central a firmar leniência dos bancos. Líderes orientaram a base a não dar presença na sessão em que a matéria seria votada no plenário da Câmara. O objetivo era deixar caminho aberto para acelerar a tramitação da segunda acusação contra Temer na CCJ.

Maia fez duras críticas ao governo e chegou a dizer que não aceitaria mais MPs. Na estratégia para acalmá-lo e atender a suas demandas, o Planalto deu aval para a substituição da MP por um projeto de lei.

Um dos principais patrocinadores do acordo de recuperação fiscal do Rio, Maia também voltou a pressionar o Planalto para fazer deslanchar o empréstimo ao governo fluminense e pôr os salários do funcionalismo em dia. Passado um mês e meio da assinatura do plano – concluído quando Maia ocupava a Presidência da República, durante viagem de Temer à China –, o crédito ainda não foi liberado a seu Estado.

Para piorar, o conselho de supervisão criado para acompanhar a execução do plano está sendo mais duro do que o próprio Tesouro. O clima tenso com Maia fez com que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participasse de reunião ontem com os integrantes do conselho. / COLABORARAM ADRIANA FERNANDES e IDIANA TOMAZELLI

 

Na Câmara. Rodrigo Maia, presidente da Casa, com o ministro do STF Alexandre de Moraes

 

FATURA

Trabalho escravo

O governo baixou portaria que dificulta a punição de empresas que submetem trabalhadores a condições análogas à escravidão. Para a Frente Parlamentar da Agropecuária, a norma vai ao “encontro” de pautas da bancada.

 

Ajuste fiscal

Para não aumentar o clima de tensão sobre deputados da base, Temer só deve assinar o pacote de medidas para cumprir a meta fiscal de 2018 após a votação da segunda denúncia na Câmara.

 

Servidores

Em meio às negociações para barrar a segunda denúncia, Temer desistiu de marcar uma data para o envio da revisão do Orçamento de 2018, com medidas para conter gastos com servidores. Como essas medidas são consideradas impopulares, ele decidiu deixá-las em banho-maria.

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Não diga 'alô', diga 'alô Temer', diz presidente

Carla Araújo / Tânia Monteiro

18/10/2017

 

 

Celular / Após ser surpreendido por repórter ao telefone, peemedebista faz brincadeira mas muda número

 

 

Após ter o número de seu telefone celular tornado público na imprensa, o presidente Michel Temer adotou posturas antagônicas: mudou o número do aparelho e, nas redes sociais, brincou sobre o assunto. Temer publicou trechos de sua conversa que teve anteontem com um repórter do jornal O Globo com os dizeres: “Quando atender ao telefone, não diga ‘alô’. Diga ‘alô, Temer’. #FaleComOPresidente”. O texto é ilustrado por um vídeo que mostra parte do diálogo em que o presidente foi surpreendido pelo repórter ao telefone.

Apesar da brincadeira e da hashtag #FaleComOPresidente, a assessoria do Planalto confirmou que o presidente já mudou o número de sua linha.

O número do celular de Temer constava de um dos documentos divulgados no site da Câmara dos Deputados desde 29 de setembro, mas só descoberto anteontem pela imprensa. No material também estavam vídeos com o depoimento do operador Lúcio Funaro em colaboração premiada.

Ao citar Temer diretamente, as declarações de Funaro causaram constrangimento ao presidente a dias da votação do parecer sobre a segunda denúncia, por obstrução da Justiça e organização criminosa, da qual é alvo na Comissão de Constituição e Justiça.

A divulgação dos vídeos resultou em um bate-boca público entre o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, no fim de semana. Também motivou o presidente a enviar uma carta aos deputados na qual afirmou que “jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República”.

De acordo com interlocutores do Planalto, a carta teve como alvo também o Supremo Tribunal Federal, responsável por enviar o material, que estaria sob sigilo, para a Câmara.

 

‘Por engano’. Telefone de Temer foi divulgado pela Câmara