O Estado de São Paulo, n. 45287, 14/10/2017. Política, p.A6

 

 

 

 

Fux impede extradição de Battisti até decisão

Ministro, que é relator do caso no Supremo, concede liminar a pedido da defesa do italiano

Por: Breno Pires

 

Breno Pires / BRASÍLIA

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem limi- nar que impede que Cesare Battisti seja extraditado enquanto não for julgado o habeas corpus apresentado pela defesa do italiano.

Segundo o ministro, o caso será julgado no dia 24 de outubro pela Primeira Turma da Corte. “Defiro a liminar para, preventivamente, obstar eventual extradição do paciente, até que esta Corte profira julgamento definitivo”, escreveu Fux no sua decisão.

A defesa de Battisti entrou com o habeas corpus preventivo no Supremo no fim de setembro, alegando temor de uma eventual extradição ser determinada pelo presidente Michel Temer. Uma semana depois, o italiano foi preso em flagrante tentando atravessar a fronteira do Brasil com a Bolívia. A Polícia Federal apreendeu US$ 6 mil e ¤ 1,3 mil euros, além de “documentos diversos”.

Battisti já está em liberdade, beneficiado por um habeas corpus do desembargador José Marcos Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF-3), que acolheu pedido do advogado de defesa Igor Tamasauskas.

Após esses episódios, a defesa enviou nova manifestação ao Supremo pedindo a suspensão de qualquer procedimento que vise extradição, deportação ou expulsão do País até que seja analisado o pedido de habeas corpus apresentado no fim de setembro. Esse foi o pedido atendido ontem pelo ministrorelator do caso na Corte.

A alegação da defesa é de que há risco de irreversibilidade no caso, diante da possibilidade de o presidente Michel Temer decidir pela extradição do italiano.

Battisti foi condenado na Itália a prisão perpétua por envolvimento em quatro homicídios ocorridos na década de 1970, quando era militante do Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Em 2010, recebeu autorização do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para residir legalmente no País.

‘Aplausos’. “Um ato como a extradição, nessa situação, deve ser refletido e pesados todos os argumentos. A decisão do ministro vai nesse sentido e merece aplausos porque garante a manifestação da defesa”, afirmou Tamasauskas, sobre a decisão do ministro Fux.

 

 

 

“Foi uma quebra de confiança, uma tentativa de saída suspeita do Brasil”

Torquato Jardim enviou parecer ao Palácio do Planalto defendendo a extradição do italiano; ‘É um ato de soberania’
Por: Tânia Monteiro

 

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse, em entrevista ao Estado, que a “suspeita” envolvendo a tentativa de Cesare Battisti de atravessar a fronteira com a Bolívia, no início do mês, foi uma “quebra de confiança”, o que justifica uma eventual decisão pela extradição do italiano. Battisti foi condenado à prisão perpétua em seu país, acusado de ter participado de quatro assassinatos. Ele sempre negou os crimes.

O italiano foi preso em 5 de outubro ao tentar entrar em território boliviano. Ele estava com US$ 6 mil e ¤ 1.300 e foi detido por crime de evasão de divisas. “Se ele podia sair do Brasil, por que foi para a Bolívia e não para o Uruguai ou a Argentina? Se ia pescar, por que não foi pescar no Rio Araguaia?”, questionou Torquato, que enviou parecer ao Planalto defendendo a extradição.

Antes de o ministro Luiz Fux, do Supremo, conceder liminar para impedir que o italiano seja extraditado antes do julgamento do habeas corpus preventivo apresentado pela defesa, o titular da Justiça disse que o presidente Michel Temer só tomará uma decisão final após a decisão do STF. Torquato rebate a tese de que já se passaram cinco anos e a decisão de mantê-lo no País não poderia ser revista. “Este não é um ato administrativo. É um ato de soberania.”

Em entrevista ao Estado, publicada anteontem, o italiano acusou a Polícia Federal de promover uma armadilha contra ele com ajuda da Embaixada da Itália e negou que o dinheiro apreendido fosse todo dele – ele viajava com dois amigos quando foi detido.

A seguir, os principais trechos da entrevista de Torquato.

A ideia do presidente Temer é expulsar imediatamente Battisti, caso o Supremo não conceda o habeas corpus ao italiano?

Tudo está em suspenso. Depende se o Supremo vai conceder o HC ( habeas corpus) e se for concedido, em que condições isso será feito. A preocupação era que o presidente assinasse um ato que pudesse ser contestado pelo STF.

Mas se o STF conceder o HC, o governo considera afastada a hipótese de mandá-lo para fora do Brasil definitivamente?

Não podemos adiantar nada. Precisamos aguardar como o Supremo vai se posicionar porque o juiz Lunardelli ( José Marcos Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, de São Paulo) quando suspendeu a prisão preventiva dele, teceu comentários sobre a sua prisão. Precisamos saber se o STF fará ou não o mesmo. Por isso, precisamos aguardar.

A expulsão dele se justificava por conta da prisão?

A prisão do Battisti é um fato novo. Foi uma quebra de confiança. Além de tudo, foi uma tentativa de saída suspeita do Brasil. Se ele podia sair do Brasil, por que foi para a Bolívia e não para o Uruguai ou a Argentina? Se ia pescar, por que não foi pescar no Rio Araguaia?

O governo perdeu o timing de expulsar o Battisti?

O caso está sub judice. Vamos aguardar a decisão do STF.

Há uma declaração do ministro Marco Aurélio do STF dizendo que depois de cinco anos da decisão do ex-presidente Lula, o governo brasileiro não poderia revê-la e extraditar Battisti.

O ministro Marco Aurélio é um ministro importante do Supremo, mas não concordo com a tese dele porque a decisão de expulsar o Battisti não é que é um ato administrativo, mas um ato de soberania do País. Pelo tratado bilateral Brasil-Itália a extradição é ato de soberania. E como ato de soberania, não se pode falar em prescrição de cinco anos.

A Itália pressiona o Brasil para que Battisti seja expulso?

A Itália quer muito isso e defende isso ainda mais que, para os italianos, trata-se de crime de sangue, homicídio, e não crime político, como ele alega. A manutenção dele aqui é um entrave nas relações entre os dois países.

A defesa de Battisti alega que expulsá-lo agora cria insegurança jurídica no País.

É um argumento da defesa. Os advogados de defesa são livres para dizer o que quiserem. Não vou comentar.

O presidente tem pressa em devolver Battisti e resolver esta questão?

Conversei no sábado passado com o presidente Temer sobre isso. E a decisão foi de que aguardaríamos a decisão do STF. Temos que esperar para não haver contestação.