Título: Indústria estagnada
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2012, Economia, p. 11
» GABRIEL CAPRIOLI » VICTOR MARTINS
Rio de Janeiro — Solapada pela tensão oriunda da crise internacional e da invasão de produtos importados, a indústria apresentou o pior resultado em 2011 entre os três grandes segmentos que formam o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na comparação com 2010, cresceu 1,6%, bem abaixo dos 2,7% da média nacional. Parte desse resultado é reflexo também do menor ritmo de investimentos no ano passado — a taxa de expansão foi de apenas 4,7% em relação a 2010 e de 0,2% no último trimestre do ano.
A soma de todos os investimentos, em 2011, representaram 19,3% do PIB, taxa que ficou aquém do desempenho de 2010 (21%) e do objetivo do governo, que almejava pelo menos 20%. A taxa de poupança em relação ao PIB também desacelerou, passou de 17,5% para 17,2%. Tanto o setor privado como o público seguraram esses desembolsos.
Segundo economistas consultados pelo Correio, a crise internacional e o processo de aperto monetário durante o primeiro semestre de 2011 obrigaram o setor produtivo a adiar projetos. No setor público, afirmaram, a forte inflação do ano passado fez o governo diminuir a expansão dos gastos púbicos e, consequentemente, frear investimentos.
A indústria de transformação foi o segmento que mais se ressentiu com o menor ritmo de investimentos. Após praticamente não se mover no primeiro semestre de 2011 (com alta de 0,6% e 0,5% no primeiro e segundo trimestres do ano), esse setor produtivo registrou dois resultados negativos consecutivos. Entre julho e setembro caiu 1,6% e, nos últimos três meses do ano, recuou 2,5%.
A estagnação da indústria apontada pelo IBGE deixa um gosto amargo. Para o ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal Delfim Netto, o país precisa gerar pelo menos 150 milhões de empregos de qualidade até 2030 para atender ao crescimento constante da população. E somente a indústria e parte do segmento de serviços são capazes de oferecer essas vagas melhores.