Título: PIB cresce 2,7% e põe 2012 em risco
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2012, Economia, p. 9

Mesmo esperado, o fraco desempenho da economia mexeu com o governo, que espera juros menores. Teme-se que o segundo ano de Dilma seja outra decepção

Enviado especial

Rio de Janeiro — O governo já sabia. O mercado financeiro, também. Mas o crescimento de apenas 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, o primeiro ano da gestão de Dilma Rousseff, mexeu com os brios do Palácio do Planalto. O "pibão bão" de 7,5% em 2010, segundo a versão bem-humorada da própria presidente, agora virou pibinho. Por isso, não só foi iniciada uma maratona de convencimento dos diretores do Banco Central, para que acelerem o passo na redução dos juros, como Dilmae o ministro da Fazenda, Guido Mantega, trataram de avisar que novas medidas de estímulo à atividade estão saindo do forno. O temor é de que, neste ano, a soma de todas as riquezas produzidas pelo país tenham um resultado semelhante, o que fará com que a média de expansão do PIB na era Dilma fique mais próxima dos 2,3% do governo Fernando Henrique Cardoso do que dos 4% de Lula.

Muitos foram os fatores que levaram a economia a ter um resultado tão ruim, bem abaixo dos 3,8% da média mundial. Primeiro, a necessidade do governo de conter a inflação provocada em 2010, quando o PIB deu um salto, com o intuito de eleger Dilma. Para arrumar a casa, o Banco Central foi obrigado a botar amarras no crédito e a elevar a taxa básica de juros (Selic). Segundo: o tranco imposto pela autoridade monetária acabou potencializado pelo agravamento da crise europeia. Para completar, a indústria, que havia liderado a expansão da economia em 2010, sentiu o tranco da forte desvalorização do dólar ante o real, que provocou uma invasão de importados no Brasil.

Boa parte desse quadro, porém, ficou para trás. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, depois de ir ao fundo do poço entre julho e setembro, quando o PIB levou um tombo de 0,1% (número revisado), a atividade reagiu e cresceu 0,3% no último trimestre de 2011. Apesar de comedidos em suas análises, os especialistas acreditam que 2012 será melhor, apesar de só carregar 0,3% do ano anterior. Mas longe de se chegar ao incremento entre 4,5% e 5% previsto pelo governo. Para eles, se o Brasil conseguir crescer 3,5%, como estima o BC, ou 4%, já será uma vitória, dada à dificuldade do mundo em sair do atoleiro em que se meteu. Os analistas são unânimes em afirmar, que, no segundo semestre, tanto o consumo quanto a produção já estarão com um ritmo bem mais forte.

"O ano de 2011 é passado. Agora, é preciso dar estímulos à economia, sem, contudo, pressionar a inflação", disse a economista Inês Filipa, da Corretora Icap Brasil. Por enquanto, ela estima alta entre 3,2% e 3,5% para o PIB em 2012. No seu entender, a recomposição do PIB continuará sendo puxada pelo consumo das famílias. No ano passado, devido ao aumento da renda e da criação de quase 2 milhões de empregos formais, os gastos com lares aumentaram 4,1%, o oitavo avanço seguido (leia matéria na página 10). O PIB total atingiu R$ 4,1 trilhões e a renda per capita R$ 21.252 — alta de 1,8%.

Tsunami monetário Em um ranking elaborado pelo IBGE com 12 nações, o Brasil teve o sexto melhor resultado, atrás da China (9,2%), da Índia (6,9%), da Coreia do Sul ( 3,6%), da África do Sul (3,1%) e da Alemanha (3%). A boa notícia foi que, mesmo com o crescimento de 2,7%, o país se consolidou como a sexta principal economia do planeta, superando o Reino Unido, que, no ano passado, avançou somente 0,8% e está flertando com a recessão. Para continuar avançando nessa lista, porém, o governo terá de focar suas ações na indústria, que registrou retração por três trimestres consecutivos e fechou 2011 com incremento de 1,6%, desempenho decepcionante, por ser o setor que cria os empregos de melhor qualidade. Hoje, o dólar em baixa, fruto do "tsunami monetário" criticado por Dilma, é a grande ameaça à produção.

O câmbio bate, principalmente, na indústria de transformação, que praticamente não saiu do lugar em 2011 — alta de 0,1%. "Foi o subgrupo que mais segurou o crescimento do PIB, em qualquer comparação que se faça", comentou o coordenador de contas nacionais do IBGE, Roberto Luís Olinto Ramos. "A indústria foi o segmento que mais sofreu, porque é a parte da economia mais aberta à competição internacional", explicou o economista-chefe do Deutsche Bank Brasil, José Carlos Faria. No seu entender, em 2012, a indústria deve se recuperar um pouco em função da queda dos juros, que barateará os investimentos. Mas ainda assim continuará sofrendo", completou.

No ano passado, segundo o IBGE, as exportações de bens e serviços cresceram 4,5%, enquanto as importações avançaram 9,7%. Essa diferença retirou 0,7 ponto percentual do PIB, o chamado vazamento externo. Na prática, o avanço da economia poderia ter chegado a 3,4% se toda a produção importada de outros países fosse realizada aqui. O governo, porém, teve o que comemorar. Com a entrada maciça de mercadorias de fora do Brasil, a arrecadação de impostos, pelos cálculos do IBGE, totalizou R$ 612 bilhões, um salto de 4,3% sobre 2010.

O IBGE também constatou menor expansão dos investimentos. Em 2010, os desembolsos haviam crescido 21,3%. No ano passado, aumentaram minguados 4,7%. Assim, a taxa de investimentos, que o governo afirmava estar acima de 20% do PIB, recuou de 19,5% para 19,3%. Uma péssima notícia, pois esse indicador é importante para garantir o avanço sustentado da economia sem pressões inflacionárias. "Quando comparada a de outros países emergentes, como a China e a Índia, a taxa de investimento brasileira é frustrante", destacou Rating Felipe Queiroz, analista da agência de classificação de risco Austin.

Os sinais emitidos pelo campo, porém, foram animadores. A agropecuária registrou um salto de 3,9%, o melhor desempenho do PIB quando analisado da ótica da oferta. Tal desempenho decorreu do aumento de produtividade de culturas como o fumo, algodão, soja e mandioca. Já os serviços caminharam no ritmo do PIB, com alta de exatos 2,7% "Emprego em alta, dinheiro no bolso. Tudo isso fomenta a demanda não só por bens de consumo, mas também por serviços", disse Queiroz.