Valor econômico, v. 17, n. 4364, 19/10/2017. Política, p. A12.

 

 

Tucanos pressionam Aécio para deixar presidência do PSDB

Vandson Lima e Fabio Murakawa

19/10/2017

 

 

O retorno de Aécio Neves (PSDB-MG) ao Senado provocou uma série de desentendimentos dentro do partido. Um dia após a votação na qual seus pares reverteram a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e lhe devolveram o mandato, tucanos saíram em defesa da renúncia definitiva dele do comando da legenda. Mais radical, o senador Ricardo Ferraço (ES) anunciou que está indignado e irá se licenciar do cargo temporariamente.

No início da noite, senadores pressionaram Aécio. Cobraram que ele tenha a iniciativa de abdicar da presidência, poupando a sigla de mais desgaste. Aécio reagiu à ofensiva interna. Questionado sobre as falas do presidente em exercício, senador Tasso Jereissati (CE), e Cássio Cunha Lima (PB), que foram aos microfones dizer que ele deveria renunciar, Aécio rebateu: "Não trato de questões partidárias pela imprensa".

Momentos depois, ao deixar uma reunião de senadores tucanos com Aécio, Tasso disse acreditar que o mineiro deve tomar uma decisão até a semana que vem. Outro senador tucano afirmou o que vários outros colegas e assessores vêm repetindo nos últimos dias: "Ele sabe que não tem condições de continuar à frente do partido".

Em sua volta ao Congresso Nacional, do qual estava afastado desde 26 de setembro, Aécio evitou os repórteres. Tomou o elevador do café do Senado para ingressar no plenário - enquanto era aguardado no estacionamento, por onde entrou quando da primeira vez em que a Justiça o afastou do mandato, em maio.

No plenário fez um discurso no qual se disse vítima de "ardilosa armação" perpetrada pelo empresário Joesley Batista, com quem foi gravado pedindo um repasse de R$ 2 milhões, e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a quem não citou nominalmente. "Fui vítima de uma ardilosa armação, perpetrada por empresários inescrupulosos, que se enriqueceram às custas do dinheiro público e não tiveram constrangimento em acusar pessoas de bem na busca dos benefícios de uma inaceitável delação", disse. "Mas o mais grave: contribuíram para esta trama homens de Estado, notadamente alguns que tinham assento, até muito pouco tempo, na Procuradoria-Geral da República".

Apesar da veemência, Aécio sequer subiu à tribuna para discursar. Fez sua fala, curta, do microfone usado pelos líderes para deliberações. Ao final, não foi aplaudido e recebeu cumprimentos de apenas parte dos colegas de Senado. "No exercício desse mandato, irei trabalhar a cada dia para provar a minha inocência. Não retorno a essa Casa com rancor ou ódio. Minha história é honrada, digna, de dedicação aos mineiros e ao Brasil".

Presidente interino, Tasso não poupou Aécio, com quem tem diferenças em relação a que rumo deve tomar a sigla. Pediu que ele renuncie à presidência do partido "porque agora ele não tem condições, dentro das circunstâncias que está, de ficar e nós precisamos ter uma solução definitiva". Defendeu ainda que o senador mineiro dê explicações ao Conselho de Ética do Senado, "que é o foro adequado para ele se defender", afirmou. Em julho, o Conselho arquivou uma representação por quebra de decoro parlamentar contra Aécio, evitando que ele fosse sequer investigado na Casa.

Em nota oficial, o PSDB rechaçou que a votação que reverteu as medidas cautelares aplicadas pela Primeira Turma do STF a Aécio seja uma forma de protege-lo da Justiça. "O PSDB (...) defende a investigação contra quem quer que seja, inclusive membros do partido".

Tasso negou qualquer acordo com o PMDB para que, em troca do retorno de Aécio, os tucanos estejam ao lado do presidente Michel Temer na denúncia que tramita na Câmara dos Deputados. "vocês vão verificar isso na votação [da denúncia]", garantiu.