O globo, n.30914 , 28/03/2018. PAÍS, p.3

Edson Fachin pede ao STF e à Polícia Federal medidas de proteção à família

Em entrevista, ministro sinaliza que algumas providências de apoio não foram atendidas

 

 

 

Preocupação. Relator da Lava-Jato, Edson Fachin disse que família não pode sofrer por causa de sua exposição

 O relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) pediu providências à Polícia Federal e à ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, para investigar ameaças endereçadas a seus familiares. Na entrevista à GloboNews, Fachin não detalhou o teor das intimidações.

— Uma das preocupações que tenho não é só com julgamento, mas também com a segurança de membros da minha família — disse o ministro, antes de completar: — Tenho tratado desse tema e de ameaças que têm sido dirigidas a membros da minha família.

Fachin substituiu o ministro Teori Zavascki, morto em janeiro de 2017 em acidente aéreo, em Paraty, na relatoria dos processos da Lava-Jato no Supremo. Na entrevista, ele afirmou ainda ter solicitado “algumas providências” à presidente do STF e à PF “por intermédio da delegada que trabalha no tribunal”.

— Nem todos os instrumentos foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso e esperando que não troquemos fechadura de uma porta já arrombada também nesse tema — disse o magistrado, em programa gravado anteontem.

Fachin salientou que a família não pode sofrer por causa de sua carreira na magistratura.

— De fato, essas circunstâncias não são singelas, mas em relação a mim, que aqui estou por ter respondido afirmativamente a esse chamamento que a vida me fez, e sou grato à vida por isso, fico preocupado, sim, com aqueles que, membros da minha família, não fizeram essa opção e poderão eventualmente sofrer algum tipo de consequência. Mas espero que nada disso se passe.

Depois da entrevista, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou que a PF está à disposição do ministro. Jungmann diz que a PF tem duas equipes prontas, uma para ajudar na segurança do ministro, se for necessário. A outra será para abrir um inquérito sobre o caso. Fachin informou à PF, no entanto, que, por enquanto, não precisa reforçar sua segurança pessoal.

A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, informou, por meio da assessoria da Corte, que já autorizou medidas para reforçar a proteção ao ministro Edson Fachin, antes mesmo de ele relatar à imprensa as ameaças sofridas. Ela determinou aumento de agentes que fazem a escolta permanente do ministro e de familiares dele em Curitiba.

Por solicitação da ministra, duas delegadas da Polícia Federal, especializadas em segurança para casos envolvendo magistrados ameaçados no país, foram à capital paranaense para verificarem as providências mais eficazes a serem adotadas.

Sobre a afirmação de Fachin, de que “nem todos os instrumentos foram agilizados”, a assessoria de Cármen foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Sobre ameaças, o relator da Operação Lava-Jato no Supremo espera que não troquem “a fechadura com a porta já arrombada”

OFÍCIO A TODOS OS MINISTROS Cármen Lúcia também encaminhou ofício a todos os ministros do STF para saber da necessidade de alteração e aumento do número de agentes de segurança. A Corte não divulga quais ministros têm escolta nem o número de servidores envolvidos na proteção de cada um por questões de segurança.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou “grave” o fato de Fachin e sua família estarem sofrendo ameaças. Maia disse que a PF deverá tomar medidas duras para coibir estas práticas.

— Ele (Fachin) já relatou ao Ministério Público e à Polícia Federal que certamente tomarão providências de forma enérgica. É grave em relação a qualquer cidadão que recebe ameaças, principalmente na posição em que ele está.