O Estado de São Paulo, n. 45285, 12/10/2017. Política, p.A9

 

 

 

Contador nega versão de Glaucos sobre aluguéis

João Muniz declarou que recebeu do engenheiro comprovantes de 2011 a 2015; defesa de Lula diz que vai entregar recibos originais

Por: Julia Affonso / Ricardo Brandt / Luiz Vassallo

 

Em declaração por escrito assinada e registrada em cartório, o contador João Muniz Leite afirmou que recebeu comprovantes de pagamento dos aluguéis, do período entre 2011 e 2015, do apartamento 121 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo, que é utilizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A afirmação contradiz o que declarou o engenheiro Glaucos da Costamarques, proprietário do imóvel. Ao depor ao juiz Sérgio Moro, Glaucos disse que não recebeu pagamentos refe- rentes aos aluguéis deste período. Os advogados de Lula informaram que vão entregar os originais dos documentos apresentados em setembro para comprovar o pagamento dos aluguéis – o contrato de locação e 26 recibos. Além disso, outros seis comprovantes de 2011 também foram localizados e colocados à disposição para que passem por uma perícia.

Os originais foram exigidos por Moro, atendendo ao pedido do Ministério Público, que considerou as cópias dos recibos “ideologicamente falsas”. Os procuradores apontaram que os recibos tinham datas inexistentes, como 31 de novembro, e erros de português. A defesa de Lula também pediu a Moro que, “por cautela”, seja designada audiência formal para a entrega desses documentos na presença de perito habilitado.

Outro documento entregue a Moro contraria a informação fornecida por Glaucos de que os aluguéis só passaram a ser pagos após visitas do advogado e compadre de Lula, Roberto Teixeira, e do contador. A visita do advogado teria ocorrido, segundo ele, em novembro de 2015, e a do contador no mês seguinte. O hospital Sírio-Libanês afirmou ontem não ter registros da entrada de Teixeira no período citado e informou que apenas o contador fez três visitas a Glaucos, em 3 de dezembro de 2015 e nos dois dias seguintes.

 

Recibos. Na declaração, Muniz afirmou que prestou serviços contábeis para Glaucos entre 2010 e 2015, incluindo a “elaboração das guias do carnê-leão referentes ao recebimento de aluguéis auferidos pelo mesmo em relação à locação de um apartamento para dona Marisa Letícia Lula da Silva”. O contador disse que recebia do engenheiro, “periodicamente, os recibos relativos aos pagamentos dos aluguéis por parte da sra. Marisa Letícia Lula da Silva, de 2011 a 2015, os quais serviam também para dar lastro à declaração de Imposto de Renda”.

Muniz confirmou que esteve no hospital em 2015. “Não corresponde à verdade que naquela oportunidade eu teria colhido do sr. Glaucos as assinaturas em todos os recibos relativos à locação para a sra. Marisa Letícia Lula da Silva, e sim em apenas alguns meses, que embora tivéssemos os recibos, os mesmos não estavam assinados.”

O contador disse ainda que, de 2011 a 2015 também elaborou “as guias relativas ao ‘carnê-leão’ que eram recolhidos mensalmente pelo sr. Glaucos em relação aos recebimentos de locação”. / JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT e LUIZ VASSALLO

 

 

 

 

 

Delegado é afastado após buscas na casa do filho de Lula

Polícia diz que recebeu denúncia anônima de uso de drogas, não achadas; governo de SP afirma que vai investigar o caso

Por: José Maria Tomazela

 

José Maria Tomazela

 

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo determinou ontem o afastamento do delegado da Polícia Civil Rodrigo Galazzo, que liderou operação que realizou buscas na residência do filho adotivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marcos Cláudio Lula da Silva, para verificar denúncias de suposto uso de drogas no local. Por ordem do secretário Mágino Alves Barbosa, foi aberto procedimento administrativo “para apurar em que condições ocorreu a diligência de buscas”.

Galazzo disse ontem que está impedido de se manifestar sobre as investigações. Afirmou, no entanto, que “aqui tudo é investigado”, numa referência à denúncia anônima que teria dado origem ao pedido de buscas, autorizado pela Justiça.

O delegado disse que tinha recebido “ordens superiores” para não falar a respeito das investigações e recomendou à reportagem que se dirigisse à Secretaria da Segurança Pública. Um investigador que participou da operação disse à reportagem, sob o compromisso de não ser identificado, que as denúncias eram ricas em detalhes. “Quan- do iniciamos as buscas, muita coisa batia”, afirmou.

As buscas foram realizadas anteontem, com autorização judicial. A polícia alegou ter recebido denúncias sobre suposto uso de drogas na casa. Os agentes não encontraram entorpecentes no local, mas apreenderam computador e mídias. Uma juíza de Paulínia mandou devolver o material.

Na manhã de ontem, deputados estaduais do PT pediram ao secretário da Segurança Pública esclarecimentos sobre a ação realizada em Paulínia. Em nota assinada pelo deputado Alencar Santana Braga, líder da bancada na Assembleia, o PT afirmou que o delegado teria agido com clara finalidade política de perseguir Lula e sua família.

 

Defesa. “A busca e apreensão, feita a partir de denúncia anônima e sem base, não encontrou no local o porte de qualquer bem ou substância ilícita, o que é suficiente para revelar o caráter abusivo da medida”, afirmou o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende a família do ex-presidente.

Marcos Cláudio é filho do primeiro casamento de Marisa Letícia, mulher de Lula morta em fevereiro deste ano, e foi “adotado” pelo ex-presidente. Psicólogo e empresário, trabalhou na prefeitura de São Bernardo do Campo entre 2009 e 2012. Naquele ano, elegeu-se vereador na cidade do ABC paulista com 3.882 votos. Em 2016, não se reelegeu.