O Estado de São Paulo, n. 45285, 12/10/2017. Esportes, p.A15

 

 

 

 

 

Renúncia acelera mudanças no COB

Carlos Nuzman, que teve pedido de habeas corpus negado, abre mão da presidência; Paulo Wanderley vai dirigir entidade, que discutirá novo estatuto

Por: Marcio Dolzan

 

Marcio Dolzan

 

Uma carta de renúncia assinada na Cadeia Pública José Frederico Marques, na zona norte do Rio, e lida ontem por um de seus advogados pôs fim a 22 anos de presidência de Carlos Arthur Nuzman no Comitê Olímpico do Brasil (COB). O cartola renunciou para cuidar de sua defesa na Justiça e levou “alívio” ao comitê, termo usado pelo novo presidente da entidade, Paulo Wanderley Teixeira. Vice de Nuzman, ele quer que um estatuto “mais moderno” fique pronto em até 45 dias para tornar mais democrática a eleição no COB – mas já antecipou que ficará no novo cargo pelo menos até 2020.

O novo presidente elogiou muito a trajetória de Nuzman, preso quinta passada no curso da Operação Unfair Play, que investiga suposto esquema de compra de votos para que o Rio sediasse os Jogos Olímpicos.

“Esportivamente, eu e nenhum outro dirigente que vier realizará o que o Nuzman fez no esporte brasileiro. Avanços de todos os tipos”, afirmou Paulo Wanderley. “Não vou, não pretendo e tenho consciência de que não vou conseguir.”

Como legado esportivo de Nuzman, citou a realização da Olimpíada e do Pan de 2007, e a atuação para a criação da Lei Agnelo-Piva – que prevê repasse de parte da arrecadação das loterias para financiar o esporte. Ao mesmo tempo, garantiu que não será mais um dos dirigentes esportivos do País com problemas na Justiça.

“Uma coisa eu acho que posso implementar: dar segurança ao nosso público de que as coisas serão corretas. Elas serão cobradas internamente. Aqui se delega, mas também se fiscaliza”, afirmou o novo presidente.

Sobre a renúncia de Nuzman, Paulo Wanderley lamentou “pessoalmente”, mas reiterou a importância do ato para tentar afastar o foco das investigações do COB. Vale lembrar que a enti- dade também está suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por motivos de “governança”, e a saída de Nuzman era uma exigência velada.

“Sobre a decisão pessoal do Carlos Arthur Nuzman, de renunciar, já era aguardado, mas era uma incógnita. O sentimento da comunidade (presidentes de confederações) é de lamentar. Mas da instituição, da organização, é de alívio.”

Ele já avisou que ficará no cargo até o fim do atual ciclo olímpico, e deu a entender que seguirá no cargo depois disso. “Eu fui eleito para um mandato de quatro anos, um ciclo olímpico, de acordo com o estatuto. Vim a convite do presidente Nuzman, como vice indicado pelas confe- derações. A intenção, a pretensão e a legalidade estatutária preveem mandato de quatro anos, o qual eu pretendo cumprir”, disse. Ao final, lembrou que a legislação brasileira prevê no máximo uma recondução ao cargo, e afirmou que “sua vida útil olímpica” é de oito anos.

Em até 45 dias, um novo estatuto deverá ser apresentado. Uma comissão formada por três presidentes de confederações (Atletismo, Vela e Esgrima) e o judoca Tiago Camilo, que preside a Comissão de Atletas do COB, vai cuidar da elaboração. Trabalharão em conjunto com advogados, entidades ligadas a atletas, Ministério do Esporte e comissão de esportes do Congresso. Pedido negado. Ontem à noite, a Justiça Federal no Rio de Janeiro negou o pedido de habeas corpus impetrado em favor de Nuzman no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região.

O desembargador Abel Gomes indeferiu. “Descreve-se suposto envolvimento do paciente não só na suposta compra de votos para que a cidade do Rio de Janeiro sediasse os Jogos Olímpicos de 2016, mas também suposta ligação sua com agentes públicos e contratos firmados por conta desse evento com empresas relacionadas à pessoas já identificadas como possíveis integrantes da organização criminosa que funcionava no âmbito do governo do Estado do Rio de Janeiro”, escreveu.

 

Paulo Wanderley Teixeira

NOVO PRESIDENTE DO COB ‘Uma coisa acho que posso implementar: dar segurança ao nosso público de que as coisas serão corretas’