O Estado de São Paulo, n. 45284, 11/10/2017. Política, p.A5

 

 

 

 

 

 

Nova denúncia virou teatro enfadonho para atores e plateia

Por: Eliane Cantanhêde

 

ANÁLISE: Eliane Cantanhêde

 

A segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, por obstrução da Justiça e organização criminosa, transformou-se num espetáculo enfadonho para a plateia e num fardo para seus atores, que sabem antecipadamente o desfecho. A sensação é de que não vai dar em nada. Portanto, é acabar logo com isso. O próprio relator na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), colaborou bastante ao apresentar ontem um parecer enxuto, rápido, e juntar no mesmo texto Temer e seus ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Tudo para ganhar tempo, mas aproveitando para condenar a “criminalização da política”.

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, aliás, mirou no que viu e acertou no que não viu com suas derradeiras flechadas. Os adversários de Janot o acusam de “obsessão” para atingir Temer, mas ele acertou em cheio foi o PSDB, já combalido.

Se Temer resistiu bem na CCJ e no plenário da Câmara na primeira denúncia de Janot, mesmo com o áudio de Joesley Batista (J&F) no Palácio do Jaburu e o vídeo da mala de dinheiro com o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures, sobrou pouco bambu para a segunda flechada. Desde o início, oposição e governo sabiam que só consumiria tempo e energia do presidente, mas sem nenhum efeito prático. Só uma questão de paciência.

Temer foi obrigado a retomar a rotina de almoços, jantares e liberação de emendas parlamentares, ocupado demais com a política para comemorar as notícias positivas para a economia. É chato, mas suportável para quem passou a vida toda na política e presidiu a Câmara três vezes.

Pior mesmo foi o efeito desta segunda denúncia no PSDB, que já tinha sido atingido duramente com as delações de Joesley contra Temer e Aécio Neves, seu presidente. Sempre dividido, em cima do muro, o partido passou a conviver com denúncias da Lava Jato contra seus líderes, o esfarelamento da carreira política de Aécio e a fragilidade política do governo que ajudou a instalar e é peça fundamental para segurar.

O racha do PSDB é o único capítulo com alguma emoção no teatro da segunda de- núncia, oscilando entre o drama e a comédia. Se é dramática uma divisão meio a meio da bancada da Câmara, com troca pública de ironias e acusações, é cômico ter um tucano, sem ter, na relatoria da CCJ. Como assim? Bonifácio de Andrada é do PSDB, mas está na função pelo PSC. Para piorar, na vaga do deputado Pastor Marco Feliciano. É para rir ou para chorar?

Ninguém lucra com uma segunda denúncia contra o presidente, sabendo-se de antemão que não vai dar em nada. Temer amarga de 3%a 5% nas pesquisas, a opinião pública está irada, a reforma da Previdência desidratou, os investidores estão em compasso de espera, os deputados, ou ganham um palanque para proselitismo anti-Temer, ou têm de se expor defendendo um presidente impopular. E o PSDB esfarela. Alguém sabe dizer quem lucra com tudo isso?

 

 

 

 

 

Advogados veem criminalização da classe política

Por: Igor Gadelha / Daiene Cardoso

 

Igor Gadelha

Daiene Cardoso / BRASÍLIA

 

Os advogados do presidente Michel Temer e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) usaram ontem a mesma linha de defesa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Em discursos após apresentação do parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) pela rejeição da denúncia contra os três, eles acusaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) de perseguir e de tentar criminalizar a classe política.

Os advogados também declararam que a denúncia por organização criminosa contra seus clientes foi apresentada de forma açodada e sem provas pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que deixou o cargo em 17 de setembro.

As defesas ainda cobraram uma reação dos parlamentares contra o sistema de delações premiadas em vigor, sob pena de serem as próximas “vítimas” do Ministério Público Federal.

 

‘Libelo’. Advogado de Temer, Eduardo Carnelós afirmou que a denúncia teve como “vértice” a criminalização da atividade política. “A denúncia apresentada nos termos que se deu é libelo contra a democracia representativa. Tenta imputar, a homens que dedicaram suas vidas à política, a prática criminosa”, afirmou. Ele também acusou a Procuradoria-Geral da República de ter apresentado denúncia sem provas, baseada apenas na fala de delatores, chamados por ele de “malfeitores confessos”.

Advogado de Padilha, Daniel Gerber classificou a acusação formal da Procuradoria-Geral da República como um “ato político”. “Está na hora de o Poder Legislativo se erguer contra esse sistema de delações que hoje está sendo feito no Brasil. Não é contra a lei, contra o instituto, contra a Operação Lava Jato. É contra o sistema”, afirmou, ressaltando que os próprios parlamentares estão sendo vítimas dos “excessos”.

Já para o advogado de Moreira Franco, Antônio Pitombo, a denúncia do Ministério Público Federal se deu por perseguição política. Segundo ele, a Procuradoria-Geral da República recorre a método “persecutório” generalizado contra a classe política. “Vergonha, vergonha, vergonha”, declarou. Segundo o advogado, a Câmara dos Deputados não pode ficar apenas na briga entre partidos e precisa reagir.

 

‘Vértice’. O advogado de Temer, Eduardo Carnelós