Valor econômico, v. 17, n. 4369, 26/10/2017. Política, p. A10.

 

 

Em depoimento, Coutinho nega cobrança de doações

Vandson Lima

26/10/2017

 

 

Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Luciano Coutinho depôs ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga supostas irregularidades nos empréstimos do banco. Coutinho refutou a acusação de que teria atuado para cobrar doações à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, conforme disse o ex-senador Delcídio do Amaral em delação.

O ex-presidente do BNDES foi veemente ao falar sobre o relatório da Polícia Federal ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), na Operação Acrônimo, em que foi indiciado por corrupção passiva por supostamente favorecer o Grupo Casino pelo fato de o banco não liberar empréstimo para viabilizar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour.

"Este relatório não tem fundamento. Nunca houve ingerência da minha parte no comitê de enquadramento de crédito. Quero repelir esta hipótese. Eu tenho uma biografia. Sou uma pessoa correta, o país sabe disso e os empresários sabem disso. O dano moral que isso causa numa pessoa é inaceitável. Não houve tal fato atribuído à minha pessoa ou ao ministro".

Ele disse ainda não manter relação com o então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel (PT), atual governador de Minas, e sua mulher, Carolina Oliveira, que assessorou Pimentel quando lotada no BNDES. "Superficialmente fui apresentado a ela. Ela nunca participou de processos decisórios na instituição." Carolina também foi indiciada pela PF.

Como já havia feito na CPI da JBS, Coutinho negou ingerência política para o financiamento de obras em países como Cuba e Venezuela. "Não há transferência de divisas do Brasil para financiar obra de infraestrutura lá fora. O que há é exportação de um serviço ou vários equipamentos. Esta operação gera empregos no Brasil, não no exterior, o BNDES não financia o gasto local".

A oitiva de Coutinho não mobilizou senadores. Além do presidente do colegiado e do relator, apenas quatro compareceram à sessão, alguns depois de iniciada a audiência.