Título: Luiz Estevão acusado de lavagem de dinheiro
Autor: Abreu, Diego; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2012, Política, p. 04

MP apresenta denúncia contra o ex-senador por utilizar as contas bancárias do Brasiliense para movimentação financeira do Grupo OK. Pena pode chegar a 16 anos de cadeia

Mandachuva do principal clube do futebol candango, o empresário e ex-senador Luiz Estevão foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, ele usou as contas bancárias do Brasiliense Futebol Clube, entre 2001 e 2005, para ocultar e movimentar recursos que teriam sido adquiridos a partir de atividades criminosas supostamente praticadas pelo cartola.

Luiz Estevão fundou o Brasiliense em 2000, pouco depois de ter o mandato de senador cassado, por quebra de decoro parlamentar. Na ocasião, os senadores entenderam que ele mentiu ao negar envolvimento com o desvio de R$ 169 milhões do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, em São Paulo. Depois de a Justiça decretar a indisponibilidade dos bens de Estevão e das empresas ligadas ao Grupo OK, um inquérito policial foi instaurado para investigar as movimentações financeiras do ex-senador. Com base nessa apuração, os procuradores da República Bruno Calabrich e José Alfredo de Paula Silva chegaram à conclusão de que ele usou o Brasiliense para lavar dinheiro.

Calabrich contou ao Correio que 16 operações com características típicas de lavagem de dinheiro foram encontradas durante a devassa feita nas contas do time. Segundo o procurador, mesmo com os bens bloqueados, Estevão movimentava vultosas quantias a partir do clube do qual é mandatário.

Recurso Durante a investigação, o MPF verificou que grande parte das operações bancárias do clube passava por contas de empresas do Grupo OK. As transferências eram feitas, segundo os procuradores, em datas próximas e com valores semelhantes aos recebidos pelo Brasiliense, caracterizando o uso de "contas de passagem". "O interesse dele foi utilizar esses recursos desvinculando-os da origem", afirmou o procurador.

De acordo com a denúncia, o Brasiliense recebeu transferências e depósitos de pessoas físicas e jurídicas que não têm nenhuma relação aparente com a atividade futebolística. O MPF detalha que até recursos relacionados a "afazeres" do clube acabaram transferidos para o Grupo OK.

"Ele fazia transferências como se fosse pagamento feito pelo Brasiliense ao Grupo OK. A partir daí, ele usava a quantia para outros fins. Os jogadores ouvidos disseram que recebiam os pagamentos em dinheiro", destacou Calabrich. Segundo o procurador, a investigação não tratou das movimentações realizadas depois de 2005. Ele acrescentou que os valores não foram divulgados por se tratar de dados bancários.

Luiz Estevão considerou a denúncia "despropositada e fantasiosa". Para o ex-senador, "o assunto TRT de São Paulo encerrou-se em 1997, quando embargaram a obra". E que, portanto, não teria cabimento vincular os supostos desvios da obra ao funcionamento do Brasiliense. Ele afirma que, entre 2001 e 2005, o time de futebol era patrocinado por duas de suas empresas, a OK Automóveis e a Itália Veículos. "Eram empresas regulares, sem nenhuma pendência. Além do mais, esse patrocínio estava escancarado nas camisetas dos jogadores", disse Estevão.

O ex-senador afirmou ainda que, entre 2003 e 2005, o time recebia a cota de transmissão dos campeonatos brasileiros das séries A e B, e que o Banco de Brasília (BRB) também financiava o Brasiliense. No período de investigação, segundo Estevão, não houve compra ou venda de jogadores. "As receitas eram a dos patrocinadores e as despesas, os salários dos atletas. Querer vincular a história do TRT de São Paulo ao Brasiliense é uma ilação despropositada, totalmente fantasiosa", afirmou Estevão. Ele foi condenado no caso do TRT a 31 anos de reclusão por estelionato, corrupção ativa, uso de documento falso e formação de quadrilha, mas ainda aguarda o julgamento de recursos contra a sentença.

Estevão disse que não é regra no clube pagar salários em espécie. Ainda que fosse, ele alega que não há nenhuma lei que proíba tal prática. Sobre os recursos oriundos de empresas não ligadas ao futebol, o ex-senador foi enfático. "É óbvio que o clube estampa na camisa publicidade de empresas que não necessariamente têm ligação com o futebol, assim como o Fluminense recebe da Unimed e o Corinthians da Jontex, empresas que não têm nada a ver com o futebol."

Caso a denúncia seja aceita pela Justiça Federal, Luiz Estevão passará à condição de réu pelo crime de lavagem de dinheiro, cuja pena varia de três anos a 10 anos de prisão. De acordo com o MPF, a pena poderá ser aumentada em dois terços por se tratar de um crime cometido com "habitualidade". Ou seja, se condenado a pena máxima, o mandatário do Brasiliense poderá pegar até 16 anos de cadeia.

A acusaçãoLuiz Estevão é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter usado o Brasiliense Futebol Clube como fachada para lavar dinheiro obtido a partir de atividades criminosas. A denúncia aponta que as investigações tiveram origem em razão do envolvimento do senador cassado com o desvio de R$ 169 milhões das obras do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Paulo, na década de 1990. Conforme o MPF, o Brasiliense recebia em suas contas valores de empresas sem qualquer vínculo com futebol e as quantias eram transferidas por Estevão para contas do Grupo OK, do qual é dono.