O Estado de São Paulo, n.45283 , 10/10/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Desgaste com vídeo preocupa entorno de Doria

Prefeito não consultou assessores e aliados antes de gravar sua resposta ao ex-governador Alberto Goldman pelo celular em Belém

Por: Pedro Venceslau

 

Pedro Venceslau

 

A decisão do prefeito João Doria de publicar vídeo nas redes sociais em resposta a Alberto Goldman (PSDB), no qual diz que o ex-governador é “fracassado”, “improdutivo” e “vive de pijamas” em casa, foi considerada um erro por auxiliares e aliados do tucano. O temor é de que o material sirva de munição para adversários. Doria disse a interlocutores que esse foi o 16.° vídeo de Goldman contra ele, e que decidiu responder desta vez por ter sido muito ofensivo.

A decisão do prefeito João Doria de publicar um vídeo nas redes sociais em resposta ao ex-governador Alberto Goldman (PSDB) no qual o chama de “fracassado”, “improdutivo” e que “vive de pijamas” em casa foi considerada um erro por auxiliares e aliados do tucano, que temem que o material sirva de munição para adversários em uma eventual campanha ou disputa interna no PSDB.

A avaliação é de que a fala possa ser usada para desgastar Doria entre aposentados e desempregados, além de vitimizar o ex-governador, que fará 80 anos no próximo dia 12.

O prefeito não consultou assessores e aliados antes de gravar sua resposta pelo celular no começo da manhã de sábado em Belém, pouco antes de em- barcar em um barco alugado pela cantora Fafá de Belém para acompanhar a procissão fluvial do Círio de Nazaré.

“Hoje meu recadinho vai para você, Alberto Goldman, que viveu sua vida inteira na sombra de Orestes Quércia e do José Serra. Você é um improdutivo, um fracassado. Você coleciona fracassos na sua vida e agora vive de pijamas na sua casa”, afirmou Doria no vídeo. “Viva com a sua mediocridade que fico com o povo”, disse.

Também em vídeo, Goldman havia dito antes que falta ao prefeito “comprometimento com a cidade” e acusou a administração de dirigir licitações.

Doria disse a interlocutores que esse foi o 16.º vídeo do exgovernador contra ele, e que decidiu responder desta vez porque ele foi muito ofensivo.

Aliados e pessoas próximas ao governador Geraldo Alckmin, que assim como Doria pleiteia a vaga de candidato do PSDB à Presidência, telefonaram para Goldman para prestar solidariedade. A avaliação reservada de parte da cúpula estadual tucana é de que as declarações de Doria podem ter o mesmo efeito, em uma eventual campanha, da frase de Ciro Gomes na disputa presidencial de 2002, quando ele afirmou que a função de sua mulher na época, a atriz Patricia Pillar, era “dormir com ele”.

“Discordo que o vídeo tenha potencial negativo para além do episódio. Não tem o mesmo peso da frase do Ciro. São circunstâncias distintas, personagens também”, disse o secretário de Comunicação da Prefeitura, Fábio Santos.

 

Cliques. Ao Estado, Goldman disse que nunca teve tantas visualizações e cliques nas redes sociais como nesse episódio. “A repercussão do que digo nas redes sociais geralmente é pequena. Dessa vez tive 150 mil visualizações. Desde domingo meu telefone não para de tocar.”

Aliados de Doria no PSDB saíram em defesa do prefeito. “Chamar Doria de traidor não é um desabafo do Goldman, mas uma estratégia montada não sei por quem. Não acho que foi coincidência o vídeo sair no dia da pesquisa Datafolha”, afirmou o deputado estadual Fernando Capez (PSDB).

De acordo com o levantamento, o porcentual de pessoas que rejeitam a administração Doria foi de 22%, em junho, para 26% neste mês.

 

Juntos. Alckmin participou ontem de uma solenidade ao lado de Doria na qual autorizou um repasse de R$ 14 milhões para a Prefeitura de São Paulo, por meio do Fundo Estadual de Assistência Social (Feas). O governador não quis falar sobre a polêmica dos vídeos. O evento foi realizado no Palácio dos Bandeirantes e também teve a participação do secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, que é pré-candidato ao governo nas eleições de 2018.

 

Encontro. O prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, participam de cerimônia no Palácio dos Bandeirantes

 

Estratégia

“Chamar Doria de traidor não é um desabafo do Goldman, mas uma estratégia montada não sei por quem.”

Fernando Capez (PSDB)

DEPUTADO ESTADUAL

 

PARA LEMBRAR

‘Velhaco, não’, reagiu Ulysses

“Acusações” de “velhice” contra desafetos não são novidade na história da política brasileira. Até mesmo a expressão “velhaco”, usada pelo ex-governador Alberto Goldman para rebater declarações do prefeito João Doria já foi utilizada em discussões públicas. Em 1992, o então deputado Ulysses Guimarães foi chamado pelo presidente da época, Fernando Collor, que atravessava um processo de impeachment, de “senil e desequilibrado”. Ulysses respondeu: “Sou velho, mas não sou velhaco”. Já em 2003, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, reagiu a uma declaração de Fernando Henrique Cardoso de que faltava “imaginação” para o governo Lula decolar: “Ex-presidente da República tem de cuidar da biblioteca, de quando foi presidente, da memória da sua presidência, dos netos”, afirmou Dirceu na época.

 

 

 

 

Prefeito sabia dos riscos e não pretende cortar viagens

Por: Pedro Venceslau

 

BASTIDORES: Pedro Venceslau

 

Quando começou a organizar as agendas de João Doria pelo Brasil, o entorno do prefeito sabia que as viagens desgastariam a imagem do tucano. Parte de seus auxiliares e aliados foi contra a ideia, mas prevaleceu a tese de que esse era um mal necessário para quem planeja entrar em uma disputa presidencial. A rejeição de 49% dos paulistanos aos deslocamentos do prefeito registrada na mais recente pesquisa Datafolha não foi, portanto, uma surpresa. Outros levantamentos internos já apontavam nessa direção.

Nesse ponto, a estratégia seguirá a mesma. Apesar dos números, Doria não pretende reduzir o ritmo de viagens pelo Brasil e exterior. Amanhã ele embarca para a Itália para cumprir agendas entre Milão e Veneza com empresários e políticos. Ainda em outubro vai ao Paraguai para um evento empresarial do Lide, grupo fundado por ele.

Em outras frentes, a estratégia de Doria deve passar por ajustes. “É hora de fazer como os surfistas diante de uma onda grande demais: mergulhar e esperar passar”, disse um auxiliar. Em outras palavras, isso significa que o prefeito vai baixar armas e, pelo menos por enquanto, deixar de lado o estilo “bateu, levou”. Aliados esperam que Doria module melhor sua atuação no Facebook e Twitter e escute mais gente antes de fazer postagens.

As redes sociais do prefeito são coordenadas, operadas e monitoradas por uma agência especializada, paga por ele com recursos próprios. O desempenho dele e dos potenciais adversários em 2018 é monitorado permanentemente. Umas das conclusões é de que a média de visualizações dos vídeos do prefeito caiu bastante nos últimos meses.

 

 

 

 

 

‘Lascado’, Lula diz ter força como ‘cabo eleitoral’

Por: Vera Rosa

 

Vera Rosa / BRASÍLIA

 

Condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em primeira instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que está “lascado”, mas desafiou seus acusadores a ver o que acontecerá se o impedirem de ser candidato à Presidência em 2018. “Eles agem todo santo dia para me tirar da disputa. Não me deixam ser candidato e pronto. Se eles acham que, me tirando da disputa, está resolvido o problema deles, façam e vamos ver o que acontece no País. Se acham que não vou ter força para ser cabo eleitoral, testem”, afirmou o petista durante um ato em defesa das universidades públicas em Brasília.

O ex-presidente afirmou ainda que espera um pedido de desculpas do juiz Sérgio Moro, que o condenou no caso do triplex do Guarujá (SP). “Não quero nem que o Moro me absolva, só quero que peça desculpas.” Muito aplaudido pela plateia, Lula prosseguiu em sua ofensiva contra a Lava Jato. Em quase 40 minutos de discurso, ressuscitou o discurso do “nós contra eles”, disse não poder mais aceitar tantas “mentiras” e afirmou não ter medo da operação. Disse ainda que, se o objetivo da Lava Jato é não deixá-lo ser candidato, os investigadores não deveriam deixar “o povo sofrer” por causa disso.

Apesar de condenado no caso do triplex do Guarujá e também ser réu em outras seis ações penais, o ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Acompanhado do ex-prefeito Fernando Haddad, Lula criticou o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), presidenciável em 2018. “Se o Bolsonaro agrada ao mercado, nós temos de desagradar ao mercado.”

 

Recibos. Moro mandou ontem a defesa de Lula “esclarecer expressamente” se tem os originais dos recibos do aluguel do apartamento em São Bernardo do Campo (SP). O imóvel é vizinho ao de Lula e um dos pivôs da ação penal na qual o ex-presidente é réu por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.

A defesa de Lula apresentou recibos de pagamento. Dois dos comprovantes, no entanto, têm datas que não existem no calendário. O advogado Cristiano Zanin Martins disse que “a perícia nos recibos vai demonstrar que eles são idôneos”. / COLABOROU RICARDO BRANDT