Título: Mais uma alfinetada no PMDB
Autor: Correia, Karla; Lyra, Paulo de Tarso; Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2012, Política, p. 06

Dilma nomeia Chinaglia como líder do governo no Congresso. Petista sonha com a presidência da Câmara em 2013

A presidente Dilma Rousseff concluiu ontem o rodízio das lideranças do governo na Câmara com a nomeação do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) no lugar de Cândido Vacarezza. Ex-presidente da Câmara, ex-líder do PT e também do governo, a escolha de Chinaglia é mais um duro golpe para a cúpula do PMDB. Eles já haviam perdido o comando do governo no Senado, com a saída de Romero Jucá (PMDB-RR) e a nomeação de Eduardo Braga (PMDB-AM), ligado aos dissidentes do partido. Chinaglia não esconde o desejo de ser presidente da Câmara em 2013, cargo cobiçado pelo líder do PMDB na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN). "Nosso candidato é o Henrique e temos um acordo com o PT. Se ele não for cumprido, essa Casa vai se tornar ingovernável", disse ao Correio o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Para tentar afastar todas as impressões políticas negativas, um agitado Henrique Alves subiu à tribuna do plenário para lembrar que Chinaglia foi eleito presidente da Câmara em 2007 graças a uma dobradinha com o PT. "Quem articulou o acordo foi o Chinaglia e ele sempre cumpriu todos os tratos durante o período em que esteve na Mesa Diretora. O PMDB não tem nenhum problema em relação ao novo líder do governo", assegurou Alves, que trata a disputa pelo cargo como prioridade absoluta de toda sua articulação política.

Os demitidos demonstraram guardar mágoas do tratamento dispensado pela presidente. Em sua última entrevista como líder do governo, Vaccarezza disse que ficou sabendo de sua saída por notas na internet. Só depois, o chefe de gabinete de Dilma, Gilles Azevedo, teria ligado para seu gabinete. "Não acho que foi uma boa conduta das pessoas que sabiam (da demissão), mas tenho certeza de que isso não contou com o apoio de Dilma", disse Vaccarezza, visivelmente contrariado.

No Senado, os peemedebistas preferiram não passar recibo público de contrariedade. Mas tanto o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) quanto Jucá disseram que a troca de líderes não vai resolver os problemas dos atritos com a base. "O governo precisa fazer mais política com o Congresso, com as bancadas", disse Jucá, que será o relator do Orçamento Geral da União de 2013 e que sequer aplaudiu a presidente durante o pronunciamento no Senado. Optou por ficar "navegando" pela internet em seu celular. "A presidente disse que é uma tentativa de unificar o PMDB e a base. Quem sabe assim não dá certo?", ironizou Renan.

Na noite de segunda, Temer chamou Eduardo Braga para uma conversa no Palácio do Jaburu. "Você agora não representa apenas um segmento da bancada (em uma alusão aos dissidentes do PMDB). Você será líder de toda a base, lembre-se disso", alertou o vice-presidente. Os peemedebistas esperam apenas o momento para dar o troco, mas não sabem quando isso acontecerá. "É até melhor que demore, para que a vingança não seja associada diretamente a esse episódio", confessou um cacique peemedebista.

Colaborou Júnia Gama