Valor econômico, v. 17, n. 4370, 27/10/2017. Brasil, p. A4.

 

 

Contas externas têm melhor desempenho em 10 anos

Alex Ribeiro e Fabio Graner

27/10/2017

 

 

As transações correntes do balanço de pagamentos registraram superávit de US$ 434 milhões em setembro, melhor resultado para o mês em dez anos, a despeito do aumento do déficit na conta de serviços, em especial nos gastos de turistas brasileiros no exterior. O bom desempenho, puxado pelos saldos recordes da balança comercial, deverá levar o Banco Central a reduzir a projeção para o déficit em conta corrente de 2017, hoje estimado em US$ 16 bilhões.

"A tendência é que a gente continue a ter redução nas projeções", disse o chefe-adjunto do Departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini, lembrando que a primeira estimativa feita pela autoridade monetária em fins de 2016 era um resultado negativo de US$ 28 bilhões.

 

 

Nos 12 meses até agosto, o déficit em conta corrente soma R$ 12,646 bilhões, equivalentes a 0,33% do PIB, menor percentual desde março de 2008. O BC prevê que em outubro o déficit fique em US$ 1 bilhão, bem menor do que os US$ 3,341 bilhões apurados em igual mês de 2016, o que deverá reduzir o saldo negativo em 12 meses a US$ 10 bilhões.

O déficit em conta corrente é um dos mais importantes indicadores de vulnerabilidade externa do país. Ele é formado basicamente pela balança comercial (exportações menos importações), pelos serviços (fretes, turismo internacional, aluguel de equipamentos, entre outros) e pelas rendas primárias (remessas de lucros e dividendos e pagamento de juros da dívida).

Quando um país registra déficit em conta corrente, deve tomar empréstimos e atrair capitais no exterior para cobrir a diferença. Em geral, os economistas consideram altos déficits acima de 3,5% do PIB. Resultados negativos muito baixos, por outro lado, significam que o país atrai poucos capitais para bancar investimentos produtivos.

Os investimentos diretos no país (IDP), capital considerado mais estável, mantiveram fluxo robusto, com ingresso de US$ 6,339 bilhões em setembro. No acumulado no ano, de janeiro a setembro, esse fluxo soma US$ 51,758 bilhões, incremento de 11,2% em relação ao mesmo período de 2017.

Os ingressos de IDP acumulados em 12 meses até setembro somam US$ 83,339 bilhões, equivalentes a 4,18% do PIB. A previsão do BC é que, em outubro, entrem US$ 7 bilhões, cifra que, caso se confirme, será menor do que os R$ 8,4 bilhões observados em outubro do ano passado.

O IDP é mais do que suficiente para financiar o déficit em conta corrente e gera "sobra" de US$ 70,751 bilhões, nos dados acumulados em 12 meses. Esse capital, de forma preponderante, está sendo remetido para o exterior. O principal destino são os créditos comerciais, que somam US$ 45,608 bilhões no período de 12 meses até setembro. Os investimentos diretos no exterior, feitos por brasileiros ou estrangeiros que operam no Brasil, somam US$ 9,068 bilhões em igual período. Os investimentos em carteira, sobretudo fundos, somam US$ 8,417 bilhões.

Além dos IDPs, os ingressos mais importantes de capital no Brasil são os investimentos em carteira, que somaram US$ 2,110 bilhões em setembro. O fluxo de investimentos em ações somou US$ 992 milhões no mês, mas dados parciais de outubro indicam saída de US$ 272 milhões até dia 24. Nos investimentos em renda fixa, houve saída de US$ 884 milhões, mas em outubro entraram US$ 1,2 bilhão até o dia 24.

Baldini explicou que o item mais relevante no resultado em conta corrente de setembro foi o saldo de US$ 4,918 bilhões na balança comercial, recorde para esses meses. Por outro lado, o déficit de serviços de setembro, de US$ 2,979 bilhões, foi 10,7% maior que o mesmo mês de 2016.

O que mais pesou no aumento do déficit de serviço foi a rubrica de gastos de turistas brasileiros no exterior. Esse item subiu 32,6% ante setembro do ano passado, chegando a US$ 1,716 bilhão. No ano, a alta é de 68% ante os primeiros nove meses de 2016. O principal determinante do aumento dos gastos com turismo é o fortalecimento do real ante o dólar, reconhece o BC. "Esse fator é mais importante que o aumento de renda", disse Baldini. Segundo ele, a perspectiva é que em 2018 a taxa de câmbio não sofra alterações tão expressivas como a do período entre 2016 e 2017.

Já as remessas de lucros e dividendos somaram US$ 1,251 bilhão em setembro (alta de 39% em relação ao mesmo mês de 2016). O pagamento de juros da dívida externa ficou em US$ 762 milhões (queda de 3% no mês em relação a setembro de 2016).