Valor econômico, v. 17, n. 4370, 27/10/2017. Política, p. A7.

 

 

Eunício diz que momento é "inoportuno" para tema ser discutido no Congresso

Vandson Lima

27/10/2017

 

 

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou ontem que a reforma da Previdência não é prioridade e contraria a sociedade brasileira. A declaração foi feita um dia após o presidente Michel Temer conseguir apoio para derrubar a denúncia contra ele na Câmara dos Deputados.

Para Eunício, a reforma do sistema previdenciário é inoportuna. A agenda deveria ser focada em desenvolvimento e geração de empregos, defendeu. "Todos sabem que a questão da Previdência é muito polêmica e precisamos de algum tipo de ajuste. Mas todos sabem também que o momento político não é oportuno para se alterar posicionamentos que vão de encontro à sociedade brasileira, que pensa contrariamente [a essa proposta]", disse Eunício a jornalistas, ao deixar seu gabinete rumo ao plenário do Senado.

Senador pelo Ceará, onde Temer é muito impopular, Eunício procurou demonstrar distanciamento da atual gestão. O movimento do presidente do Senado se assemelha ao de outros pemedebistas da velha guarda do Senado, como Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA) e Edison Lobão (MA). Eles passaram a fazer acenos em direção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se mantém em alta conta com os nordestinos e tem se colocado novamente como candidato ao Palácio do Planalto em 2018.

Eunício foi ministro das Comunicações de Lula e terá de ir às urnas para renovar o mandato de senador.

Na semana passada chegou a declarar a um jornal do Ceará que apoiará Lula se o PMDB não tiver candidato à Presidência. No Estado, ele é rival do atual governador, Camilo Santana (PT), ligado aos irmãos Cid e Ciro Gomes.

Insistindo nos questionamentos ao presidente, Eunício lembrou que Temer não foi eleito. "Temos que pensar no Brasil, não no presidente Temer. Eleição vai ser discutida ano que vem. Temos de pensar em como o país vai gerar oportunidades, independente de ser o presidente Michel, Lula, Alckmin. Essa ideologia não está pregada aqui dentro", disse.

O presidente do Senado disse ainda que Temer é um presidente de circunstância. "Não é o presidente Temer. Nossa preocupação não é com o presidente A ou B. Até porque o presidente Michel Temer pegou uma posição que não foi pela disputa eleitoral das ruas. Foi por uma circunstância do regime presidencialista, que permite este desequilíbrio, que permite impeachment e gera uma crise. Por isso sou parlamentarista".

Eunício ressaltou que o Senado tem feito a sua parte, votando as matérias de interesse do governo, mas que o foco é criar condições para superar a crise que atinge em especial os mais pobres, segundo o pemedebista.

"Temos uma preocupação econômica, que atinge o contribuinte, o consumidor, o cidadão pobre, que precisa de emprego e renda, de botar comida na mesa. Esta é a preocupação deste momento. Não é a pauta econômica corporativa, mas de desenvolvimento. Temos que fazer o dever de casa, ser responsáveis".