Correio braziliense, n. 19920, 06/12/2017. Política, p. 4

 

Multa de R$ 51 milhões a Geddel

Renato Souza 

06/12/2017

 

 

JUSTIÇA » Punição pedida pelo MP significaria confisco de todo o dinheiro encontrado em apartamento de Salvador. Ex-ministro, o irmão dele, Lúcio Vieira Lima, a mãe e outros envolvidos foram denunciados por lavagem de dinheiro e associação criminosa

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o irmão, deputado Lúcio Vieira (PMDB-BA) e a mãe deles, Marluce, paguem multa no valor de R$ 51 milhões por danos morais coletivos. O valor equivale ao que foi encontrado em apartamento de Salvador usado por Geddel e era, de acordo com as investigações, resultado de propinas.

Os três familiares foram denunciados pela procuradora-geral ao STF por lavagem de dinheiro e associação criminosa pela apreensão de R$ 51 milhões no apartamento, em setembro.

Também foram denunciados o empresário Luiz Fernando Machado da Costa Filho, sócio da empresa Cosbat, e os ex-secretários parlamentares Job Ribeiro Brandão e Gustavo Pedreira do Couto Ferraz. A investigação aponta que o dinheiro encontrado no apartamento teve origem em desvios da Caixa Econômica Federal, na prática de caixa dois em campanhas eleitorais e em desvios de salários de secretários parlamentares.

Na peça enviada ao STF, Raquel Dodge destaca os prejuízos que o esquema causou os cofres públicos. Por conta disso, a procuradora pede “a perda, em favor da União, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes imputados, notadamente o dinheiro que foi apreendido em 5 de setembro de 2017, no valor de R$ 51 milhões”.

Além do ressarcimento aos cofres públicos, o Ministério Público pediu a prisão domiciliar de Marluce e do deputado Lúcio Vieira. A solicitação é para que Lúcio seja obrigado a ficar em casa no período noturno e em feriados, monitorado por tornozeleira eletrônica. Se a medida for acatada, ele ainda poderá exercer as atividades relacionadas ao cargo de parlamentar. Geddel está preso na Papuda.

Raquel Dodge afirma na denúncia que os recursos desviados eram aplicados no mercado imobiliário, com a finalidade de disfarçar a origem ilícita. “O dinheiro sujo era ocultado por eles para, entre outros fins, ser aplicado em investimentos no mercado de incorporação imobiliária de alto luxo na capital baiana”, afirma Raquel.

Na ação, a procuradora-geral destaca que, mesmo com idade já avançada, a mãe do ex-ministro, que tem 69 anos, tinha um papel ativo no esquema criminoso. O MP aponta que os atos ilícitos da família Vieira Lima começaram em 2010. “Marluce tinha um papel ativo e relevante nos atos de lavagem. Apesar de ser uma senhora de idade, não se limitava a emprestar o nome aos atos e a ceder o closet. Era ativa”, afirmou Raquel.

A assessoria do deputado Lúcio Vieira Lima informou que o parlamentar está em Salvador. Ele não foi encontrado para comentar o caso. O advogado que atende Geddel Vieira Lima informou que estava cuidando de outro caso e não poderia falar sobre o assunto.

As investigações da Polícia Federal, que são descritas na denúncia, revelaram que, até janeiro de 2016, o dinheiro ficou escondido em um closet na casa de Marluce, a qual sabia se tratar de dinheiro de origem ilegal. Após essa data, o montante foi transferido em malas e caixas para um apartamento localizado no bairro da Graça, em Salvador. Algumas semanas depois os valores foram transferidos para um apartamento vizinho, esvaziado para que o dinheiro fosse armazenado no imóvel.

Após uma denúncia anônima, as equipes policiais chegaram até o apartamento. Os agentes esperavam encontrar dinheiro e bens de Geddel e de sua família no apartamento. Mas a quantia encontrada surpreendeu as equipes que realizavam as buscas.

Frase

"O dinheiro sujo era ocultado por eles para, entre outros fins, ser aplicado em investimentos no mercado de incorporação imobiliária de alto luxo na capital baiana”

Raquel Dodge, procuradora-geral da República

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Trocas regionais na PF

06/12/2017

 

 

O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, deve trocar o comando em pelo menos 12 superintendências regionais nos próximos dias. As mudanças vão começar pelos estados de Pernambuco e Paraíba. A expectativa é de que, em outras nove unidades da Federação sejam mantidos diretores escolhidos pela gestão anterior.

Além dos dois estados citados, devem ocorrer mudanças nas unidades da PF em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão e Acre. O delegado Cairo Costa Duarte deve assumir Pernambuco. Ele já atuou na superintendência do Distrito Federal e tem boa aceitação entre os delegados da corporação.

Na Paraíba, quem assume é André Vieira Andrade, que já trabalhou nas unidades de Goiás e do Paraná. André ingressou como delegado da PF em 2007 e, desde então, esteve à frente de várias investigações de combate a crimes contra órgãos do governo. Em alguns estados, há resistência dos agentes para alguns nomes apontados como futuros superintendentes. É o caso da delegada Érika Mialik Marena, cotada para assumir o comando da PF em Sergipe. Ela é integrante da equipe de investigação da Operação Lava-Jato, em Curitiba.

Apesar de não ter seu nome entre os confirmados nas novas equipes de gestão, o delegado Luciano Flores deve assumir o Mato Grosso do Sul. Ele participou de um dos interrogatórios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Felix de Paiva, avalia como positiva as novas nomeações. Ele destaca que os novos superintendentes regionais, anunciados até agora, já eram cogitados na gestão do antigo diretor-geral, Leandro Daiello. “Nós estamos acompanhando toda essa movimentação nos comandos. O doutor Cairo era do DF. Ele foi chefe do setor de repressão em desvios públicos. Ele é um nome qualificado. A atual administração só confirmou mudanças que já estavam previstas”, afirmou.

Paiva destacou ainda que a delegada cotada para assumir a direção-regional em Sergipe é uma das mais votadas em uma lista da associação. “A doutora Érika é uma das delegadas mais competentes e qualificadas na PF. É natural que ela tenha sido escolhida para algum local. Inclusive ela foi escolhida na lista tríplice da categoria para o comando da PF. Ficamos felizes com o fato de ela ocupar esse posto”, completou.

A Polícia Federal já informou que os delegados que conduzem os trabalhos no Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Goiás devem permanecer no cargo. Ao menos dois delegados cotados para assumir novos postos de gestão já atuam na Operação Lava-Jato.

Outro nome importante para as investigações de combate à corrupção é do delegado Maurício Valeixo, que já foi coordenador-   geral de Polícia de Repressão a Drogas. Maurício deve ser oficializado no Paraná, unidade que concentrou por três anos as investigações do esquema de corrupção revelado pela Lava-Jato.