O globo, n.30755 , 20/10/2017. PAÍS, p.3

O ELEFANTE DA SALA TUCANA

MARIA LIMA

SILVIA AMORIM

 

 

 
PSDB aprofunda divisão com impasse sobre permanência de Aécio na presidência do partido

A guerra interna pela escolha do presidente que irá comandar o PSDB nas eleições de 2018, acirrada pela disputa das alas pró e contra o governo do presidente Michel Temer, tende a pegar fogo nos próximos dias. De um lado, um grupo de senadores e deputados tenta convencer o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a “mergulhar” por um tempo, afastando-se não só da presidência da legenda, mas licenciando-se do mandato no Senado para “sair da linha de tiro”.

A avaliação é que, no momento, qualquer movimento do tucano será visto como afronta à opinião pública ou acordão com o governo para se salvar das acusações no Supremo Tribunal Federal. Mas, segundo dirigentes do partido, Aécio não só resiste, como insiste em buscar protagonismo. O discurso no plenário, ao voltar ao Senado, por exemplo, foi desaconselhado, mas feito mesmo assim.

Por outro lado, Aécio recebeu ontem dois apoios públicos relevantes: do candidato à presidência do partido, o governador de Goiás, Marconi Perillo, e do prefeito de São Paulo, João Doria. Em Goiânia, Dória e Marconi Perillo saíram em defesa da permanência do presidente licenciado. Se depender dos dois, que pertencem à corrente governista tucana, Aécio só sai daqui a 40 dias, quando haverá convenção nacional.

Depois da tentativa fracassada de convencer Aécio a renunciar a presidência do PSDB, o presidente interino da legenda, Tasso Jeiressati (PSDB-CE), foi ontem a São Paulo conversar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Gerado Alckmin, para pedir ajuda no convencimento de Aécio sobre uma possível licença. Segundo participantes da reunião de senadores na noite de quarta-feira, Aécio ficou indignado com as declarações públicas de Tasso pedindo seu afastamento e dizendo que ele não tinha mais condições de continuar na presidência, mesmo licenciado.

— Todo mundo vem dizendo para o Aécio submergir, tirar uma licença para cuidar de sua defesa. O mandato já foi recuperado, mas ele escuta? Está agarrado ao Temer e não quer de jeito nenhum. Olha o Serra. Quando a coisa estourou para o lado dele, sumiu, ninguém ouve mais falar dele, mas está mais esperto que nunca. O Aécio, em vez de se recolher, comete um erro atrás do outro e está na mira da turma lá do Supremo — explica um dos tucanos que defendem a tese de que Aécio deve “sumir”.

Tasso, FH e Alckmin conversaram por quase três horas e não concederam entrevista ontem. O caso de Aécio é constrangedor mesmo para os líderes da sigla. Até hoje, nem FH nem o governador se pronunciaram sobre a situação do senador.

 

DISCURSO “DESASTROSO”

Em São Paulo, tucanos colocaram ontem sob questionamento a continuidade de um acordo que lideranças do partido fecharam com Aécio meses atrás. Em agosto, no auge da divisão do PSDB exposta na votação da primeira denúncia contra Temer na Câmara, a cúpula do PSDB, incluindo Alckmin, combinou com Aécio que ele permaneceria na presidência do partido até dezembro, data da convenção nacional, como um gesto de armistício. A revolta foi debelada, e o partido vinha administrando a divisão até que, esta semana, com Aécio voltando a ser foco de desgaste para o partido, o movimento pela saída definitiva dele da direção da legenda renasceu.

— Não se fala em outra coisa nos jornais e na TV além do Aécio. Até esqueceram que temos um presidente sendo acusado de corrupção e formação de quadrilha. Não sei se é bom para o partido manter esse acordo com Aécio até dezembro — comentou um tucano paulista.

Por enquanto, a ordem no partido, pondera esse mesmo tucano, é dar o tempo que Aécio pediu — até a semana que vem — para tomar uma decisão.

O resultado do discurso de Aécio no plenário, avaliam os tucanos, foi desastroso. Além da recepção fria dos colegas — ao aparecer no noticiário se dizendo vitima de uma trama ardilosa depois de ter uma conversa comprometedora com Joesley Batista gravada e mala de dinheiro entregue ao primo — há ainda mais raiva na população, dizem tucanos.

Um dos complicadores apontados pelos senadores tucanos é a pressão dos aliados do Planalto e tucanos governistas para que Aécio continue como presidente licenciado. A avaliação, nesse grupo, é que o afastamento de Aécio fortalece a posição antigovernista de Tasso, que pode levar o partido ao rompimento com o governo Temer.

Em Goiânia, Doria e Marconi elogiaram a gestão de Tasso Jereissati num momento de crise do partido, mas chamaram a discussão sobre a saída de Aécio de inócua e desnecessária neste momento.

— A mim não me parece fazer sentido mudanças agora havendo uma eleição programada para o início do mês de dezembro para escolha do novo presidente — afirmou Doria.