MARLEN COUTO
RAYANDERSON GUERRA
Relatório da Polícia Federal apontou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes trocaram ao menos 46 ligações por meio do aplicativo WhatsApp entre 16 de março e 13 de maio deste ano. Do total, 22 chamadas foram completadas, uma no dia em que Gilmar decidiu a favor de Aécio.
Gilmar é o relator de quatro inquéritos que investigam Aécio. No período em que foram feitas as chamadas, as investigações já estavam sob a responsabilidade do ministro. Duas delas foram abertas em maio do ano passado. As outras duas foram autorizadas em março deste ano.
As ligações não foram interceptadas pela PF, mas identificadas a partir da análise de celulares apreendidos com Aécio Neves na Operação Patmos, fase da Lava-Jato deflagrada em 18 de maio e que teve o senador mineiro como alvo.
Não é possível saber o conteúdo das conversas porque não ficam gravadas nos aparelhos. Pelo relatório, Aécio fez as ligações por dois celulares. O relatório foi anexado a um processo respondido pelo tucano, que tramita no STF sem sigilo, sob a relatoria do ministro Edson Fachin.
No dia em que Gilmar atendeu um pedido da defesa de Aécio sobre a suspensão de um interrogatório da PF, o senador tentou ligar três vezes para o ministro e, só na quarta tentativa, conseguiu contato. Os registros indicam que a conversa durou 24 segundos e foi feita às 13h01m. No mesmo dia, o tucano voltou a ligar, às 20h59m, mas não conseguiu completar.
No dia seguinte, quando a decisão do ministro do STF foi tornada pública, Aécio voltou a chamar. Ao todo, foram cinco ligações via WhatsApp. Em quatro delas, o senador conseguiu falar com Gilmar. Segundo o relatório, as ligações somam seis minutos e 57 segundos.
Não é a primeira vez que a PF identifica ligações entre Aécio e Gilmar. Um telefonema do senador grampeado pela PF registrou conversa com o ministro do STF no dia 26 de abril. A chamada foi feita direto para o celular de Gilmar, em uma linha que pertence ao STF. Aécio diz que o ministro poderia ajudar na votação do projeto de abuso de autoridade no Senado, falando com o senador Flexa Ribeiro. Gilmar disse que faria a ligação.
— O Flexa. Tá bom, eu falo com ele — responde Gilmar.
“RELAÇÕES FORMAIS”
Em nota, Aécio afirma manter “relações formais” com Gilmar. Como presidente do PSDB, diz a nota, “manteve contatos com o ministro, presidente do TSE, para tratar de questões relativas à reforma política.” Segundo Alberto Toron, advogado de Aécio, a decisão de Gilmar que suspendeu o depoimento de Aécio “encontrase em harmonia com a pacífica orientação do STF e vai na linha de inúmeras outras (...)”. “Essa questão foi tratada pelos advogados junto ao tribunal, não tendo sido objeto de contato do senador com o ministro”, completa.
Em nota, Gilmar também diz que falou sobre reforma política não só com Aécio, mas com outros presidentes de partido. Sobre as ligações de abril, o ministro afirma que o Senado debatia o projeto de lei de abuso de autoridade “tratado nas referidas conversas e defendido publicamente pelo ministro desde 2009”.