Valor econômico, v. 17, n. 4373, 02/11/2017. Brasil, p. A3.

 

 

Trabalho formal recua, mas desemprego cai

Thais Carrança

02/11/2017

 

 

A informalidade continuou a ser o motor da melhora do mercado de trabalho em setembro. A taxa de desemprego voltou a cair no mês, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), puxada pelo trabalho por conta própria e sem carteira assinada. Com isso, o número de empregos formais chegou ao patamar mais baixo da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012.

Apesar da situação ainda frágil do mercado formal, economistas apostam em uma recuperação em 2018, à medida que a atividade ganhe corpo. Para a renda, a expectativa é de desaceleração no avanço real dos salários, com o fim do ciclo de queda acelerada da inflação. Já a massa de rendimentos deve seguir em alta, impulsionando o consumo.

A taxa de desemprego caiu a 12,4% no trimestre encerrado em setembro, sexta retração consecutiva desde o pico de 13,7% registrado em março. Ao fim do segundo trimestre, o indicador estava em 13% e, em agosto, em 12,6%. O patamar atual ainda é 0,6 ponto percentual superior à taxa de 11,8% de setembro de 2016 e o número de desempregados soma 13 milhões.

Foram geradas 1,1 milhão de vagas no terceiro trimestre, em relação aos três meses até junho. Desse total, 402 mil são trabalhadores por conta própria, 288 mil funcionários sem carteira e 191 empregados do setor público. Na contramão, o setor privado com carteira assinada perdeu 31 mil postos de trabalho no período.

"Era esperado [diante do aumento da população ocupada] que a carteira assinada estivesse subindo", disse Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE. "Essa crise tem se mostrado mais duradoura e informalizou muito o mercado."

A Tendências Consultoria avalia que o quadro é condizente com o momento de saída de recessão e deve se reverter já no ano que vem. "Para uma economia gerar postos qualificados, é preciso que haja uma atividade econômica em expansão consistente. Como agora vemos um crescimento moderado e errático, a recuperação fica concentrada em posições mais sensíveis ao ciclo, com a contratação sem vinculação aos compromissos do emprego formal", afirma Thiago Xavier, economista da Tendências.

Para a consultoria, com a atividade econômica mais forte em 2018 e também o impacto da reforma trabalhista, que passa a vigorar agora em novembro, já deve surgir alguma melhora mais significativa no emprego formal. Xavier lembra que, no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) - pesquisa que analisa apenas o mercado formal - o saldo até setembro é positivo, enquanto em 2015 e 2016 foram negativos, o que já indica alguma recuperação da atividade.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a taxa de desemprego deve continuar caindo, mas 2018 ainda será um ano de transição. "Há elementos de incerteza à frente que acabam impedindo uma recuperação vigorosa que poderia acontecer na saída normal de uma recessão", afirma. As eleições de 2018, a reação da Justiça à entrada em vigor da reforma trabalhista e a incerteza com relação à reforma da Previdência Social estão entre os principais fatores de insegurança, na perspectiva do economista.

"Passada a reforma trabalhista sem percalços e a eleição, com a vitória de alguém ponderado de centro, se consolida uma recuperação mais significativa de mercado de trabalho à frente. O ano que vem será um bom ano para o mercado de trabalho, mas números mais parrudos, acredito que venham de 2019 em diante", prevê Vale.

O banco Votorantim vê os astros alinhados para a taxa de desemprego terminar 2018 mais próxima de 11%. "Diversos indicadores apontam para continuidade dessa trajetória [positiva]: os dados de confiança e a perspectiva de contratação nos setores da economia têm mostrado uma tendência de recuperação; o indicador de admissões e desligamentos do Caged tem melhorado; e a expectativa para os próximos trimestres é de recuperação dos indicadores econômicos", escrevem os economistas.

Quanto ao comportamento da renda, os analistas são unânimes: os ganhos reais perdem força adiante, mas a massa de rendimentos continua a crescer com vigor. Em setembro, a renda média real foi de R$ 2.115, avanço de 0,3% em relação ao trimestre encerrado em junho, e de 2,4% na comparação anual. Ambas as variações são consideradas estabilidade pelo IBGE, por razões estatísticas. "Esse avanço deve ter ritmo menor à frente, porque uma parte desse processo está ligada à inflação", afirma Artur Manoel Passos, do Itaú Unibanco.

Já a massa de rendimentos somou R$ 188,1 bilhões em setembro, crescimento de 1,4% na comparação trimestral e de 3,9% na base anual. Para os economistas Carlos Pedroso e Mauricio Nakahodo, do MUFG, a melhora na massa de rendimentos da população contribui para reduzir o serviço da dívida das famílias e trilha o caminho para uma gradual recuperação do consumo.