Valor econômico, v. 17, n. 4374, 03/11/2017. Política, p. A5.

 

 

Diferença entre Lula e Bolsonaro varia conforme acesso de eleitores à internet

Ricardo Mendonça

03/11/2017

 

 

A mais recente pesquisa do Ibope sobre a eleição presidencial de 2018 dá pistas sobre a importância das redes sociais na ascensão de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), deputado que se consolidou como segundo colocado na disputa, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

No principal cenário testado, Bolsonaro tem 13% das intenções de voto ante 35% de Lula. Se apenas entre os eleitores que costumam usar internet votassem, o deputado teria até dez pontos a mais, entre 18% e 23%, dependendo do rol de adversários.

A vice-liderança isolada de Bolsonaro desaparece, porém, quando são considerados apenas eleitores que não usam ou não têm acesso à rede. Nesse grupo, as intenções de voto em seu nome variam de 5% a 6%. Um desempenho modesto, que não se distingue dos resultados alcançados por Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), João Doria (PSDB) e Luciano Huck (sem partido) no mesmo segmento.

Com Lula ocorre o oposto. No universo dos eleitores sem internet, o petista sobe. Atinge 44% no principal cenário testado e chega a 46% em outras simulações. São taxas lhe dariam vitória no primeiro turno. Entre os conectados, porém, Lula não passa de 31%.

Conforme os critérios do Ibope, eleitores que costumam usar internet representam pouco mais de dois terços do total (68%). Os sem-internet são 32%.

Para fazer esses agrupamentos, os entrevistadores do instituto fizeram duas perguntas a cada uma das 2.002 pessoas que participaram da pesquisa, além das questões eleitorais.

A primeira foi se o entrevistado tem o costume de usar a internet. A segunda, aplicada só aos que responderam "sim" na questão anterior, foi para investigar a frequência de acessos à rede nos últimos três meses (todos os dias, ao menos uma vez por semana, ao menos uma vez por mês, menos de uma vez por mês ou nenhuma vez no período).

Foram classificados como os sem-internet os eleitores que responderam "não" à primeira pergunta e os que responderam "nenhuma vez [nos últimos três meses]" na segunda questão.

Diretora do Ibope, Márcia Cavallari lembra que outras pesquisas já mostram aumento da influência das redes sociais na definição do voto. Quando investigou esse tema pela última vez, o instituto apurou que 36% dos eleitores afirmam que internet/ redes sociais exercem "muita influência" na escolha de candidato à Presidência. Tradicionalmente esse ranking sempre foi liderado pela opção "conversa com amigos", agora citada por 29%.

"É interessante notar que muita gente se manifesta espontaneamente a favor de Bolsonaro na rede", diz Márcia. "Seria preciso fazer um estudo específico para confirmar, mas, aparentemente, essa militância espontânea está fazendo diferença a seu favor."

Para ela, o desempenho notadamente melhor de Lula entre os sem-internet não é estranho. "Coincide com o perfil do eleitor tradicional dele, com menor renda e baixa escolaridade."

Entre os políticos cotados para disputar a Presidência, talvez nenhum tenha apostado tanto na internet como o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Desde o início de seu mandado, em janeiro, uma equipe de profissionais especializados em redes sociais o acompanha diariamente gravando vídeos e produzindo posts em eventos, reuniões, homenagens, viagens e inaugurações -tudo pago do bolso de Doria, dizem.

Se o objetivo era impulsionar Doria nacionalmente e o destacar na disputa pela vaga do PSDB, não funcionou. Pelo menos até agora. O desempenho do prefeito entre os que usam internet varia de 5% a 7%, conforme o cenário. É uma diferença pequena na comparação com os sem-internet (2% a 5%). Muito mais tímido na rede, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, apresenta desempenho parecido no universo dos conectados, 5% a 8%.

O levantamento feito entre 18 e 22 de outubro. A margem de erro é de dois pontos.