Valor econômico, v. 17, n. 4375, 06/11/2017. Política, p. A8.

 

 

Marinho aposta em polarização com tucanos em SP

Ricardo Mendonça

06/11/2017

 

 

"Se nós temos problemas do lado de cá, eles têm muito mais do lado de lá." É assim que o petista Luiz Marinho, cuja pré-candidatura ao governo paulista deverá ser oficializada em dezembro, resume o que acredita ser as situações do PT e do PSDB nos domínios controlados há 22 anos pela turma "do lado de lá", os tucanos.

Conhecido como um dos mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-prefeito de São Bernardo (2009-2016) e ex-ministro do Trabalho e da Previdência entende que a corrida pelo ao Bandeirantes será mais uma eleição polarizada entre as duas siglas. Aposta nisso para definir sua estratégia de campanha eleitoral.

"Não vejo [Paulo] Skaf (PMDB) com tamanho para atropelar a máquina do PSDB junto com o PSB do [vice-governador] Márcio França", diz. Também não arrisca dizer quem vê como favorito para representar a outra ponta da polarização, o PSDB. Lista nomes, mas sem hierarquizar: o senador José Serra; o vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas; o prefeito da capital, João Doria. Especula que, no limite, o atual governador, Geraldo Alckmin, poderá disputar a Presidência da República com até três palanques no Estado: o de Skaf, o de França e o tucano.

Por isso, aposta desde já na desconstrução da imagem de gestor associada à principal figura do "lado de lá". O alvo é Alckmin. Em uma hora de entrevista, Marinho repetiu várias vezes que não consegue enxergar "a tão falada capacidade de planejamento ou competência de gestão" do PSDB. E insiste na ideia de que Alckmin vive de reciclar promessas.

"É uma coisa até invejável sua capacidade de enrolar, empurrar com a barriga, engambelar", ensaia. "Sempre com muito cafezinho. Só o cafezinho. Parece que está trabalhando, mas está só tomando café".

Para falar de 2018, Marinho recebeu o Valor na panorâmica sala de sua casa em São Bernardo. Uma edificação vermelha por fora e espaçosa por dentro, mas sem ostentação. Escondida em meio à vegetação das margens da represa Billings, é vizinha de cerca da famosa chácara Los Fubangos, pequena propriedade de Lula onde o ex-presidente, antes de chegar ao poder, recebia amigos para assar coelhos na churrasqueira.

Dali, Marinho lista o que entende por "promessas repetidas" e "ausência de planejamento" do governador. Mira em uma saraiva de exemplos de uma suposta má gestão do governador. "Ele é capaz de visitar quatro cidades apresentando quatro viaturas; depois, deixa uma em cada cidade, como aconteceu no interior. Que planejamento é esse? Cadê a capacidade de gestão?"

Às vezes, o exemplo vai um pouco além da crítica administrativa. "Ele também é capaz de fazer trevo numa rodovia que será duplicada em menos de um ano". Pergunta então se isso não teria sido feito com "outros objetivos". Provocado a dizer onde isso teria ocorrido, desconversa. Pede para esperar, com a alegação de o caso será levado ao Ministério Público.

Marinho afirma que enriquece seu arsenal em viagens pelo interior. Desde março, já percorreu quase cem municípios, afirma. Em cada um, senta com o prefeito, vereadores e lideranças locais. Numa semana típica, passa dois dias úteis na capital e três "fazendo agenda". Faz questão de ressaltar que não se encontra só com dirigentes e políticos do PT. Lista PSB, PDT, PMDB, PSD "e até o DEM" no rol dos já visitados.

Embora já tenha vencido quatro eleições presidenciais e três na capital paulista, o PT nunca chegou perto de ganhar uma disputa pelo governo de São Paulo. Foi o segundo colocado nas eleições de 1998, 2002, 2006 e 2010, sem ameaçar o vencedor tucano. Em 2014, perdeu o segundo posto para Skaf. Na única vez que foi ao segundo turno (2002, com José Genoino), Marinho era vice na chapa. Ele afirma que o PT tem dificuldade no Estado porque sempre concentrou esforços na disputa nacional. "Aí também tem falta de planejamento nosso", reconhece.

"O PT não tem conseguido se dedicar ao debate sobre o Estado. O próprio Lula e a Dilma não priorizaram debater em São Paulo", disse. Com exceção da eleição presidencial de 2002, em que Lula ficou em primeiro lugar no Estado, os petistas foram sobrepujados em São Paulo por Fernando Collor, em 1989; e pelo PSDB nas demais eleições presidenciais.

A autocrítica não é desacompanhada das tradicionais reclamações de "proteção da mídia ao PSDB" e do "controle absoluto" de Alckmin sobre Ministério Público, Assembleia e outras instituições que servem de contrapeso ao Executivo.

Para piorar, também há agora os efeitos da Lava-Jato, operação que abateu várias lideranças do PT e ameaça tirar Lula da eleição presidencial -o que Marinho diz não acreditar que irá acontecer.

O sindicalista reconhece que tem um flanco no próprio ninho. Após dois mandatos de prefeito em São Bernardo, não conseguiu sequer levar seu candidato ao segundo turno em 2016. Atribui o fracasso ao "bombardeio" contra o PT e dá um jeito de compartilhar a responsabilidade com Dilma.

"O cidadão falava assim: 'Marinho, se fosse você o candidato, teria meu voto, mas teu candidato (Tarcisio Secoli) não vai ter, eu não conheço direito'. Eu dizia: 'Mas ele é bom'. Aí o cidadão respondia: 'Mas o Lula também falava que a Dilma era boa. O PT precisa de uma lição, depois volta'."

A partir desse raciocínio, Marinho se esforça para fazer um prognóstico otimista para o PT em 2018. "Em 2016, sofremos derrota fragorosa. Mas a maior expressão de vitória do tucanato, o João que não trabalha [Doria], teve 30% dos votos. Perdeu para brancos e nulos, sem contar abstenção. Qual é a conclusão? Uma parte do eleitorado foi levada a não votar em nós, mas não votou neles. O desafio é reconquistar."

Marinho entende que "os retrocessos do governo golpista" e a sucessão de escândalos no entorno de Temer criam ambiente eleitoralmente mais favorável ao PT. "Eles prometiam resolver todos os problemas, 'tira a Dilma que resolve'. Mas não resolveram. A situação se agravou e só estão tirando direitos. E, convenhamos, os golpistas estão ajudando no debate da ética. O PT era acusado de corrupção. Mas quem estava praticando corrupção pra valer nas estranhas do governo era o PMDB. Com eles assumindo [o governo], isso vem à tona. Desmascara. Desnuda. Os grandes corruptos não estão no PT, estão em outros partidos. Aécio Neves, Temer, Moreira Franco, Geddel [Vieira Lima]."

O sindicalista avalia que em 2018 o PT não conseguirá fazer uma eleição "tão boa como a de 2010". Mas aposta que será melhor que a de 2014. E paradisíaca na comparação com 2016.