Valor econômico, v. 17, n. 4376, 07/11/2017. Política, p. A8.

 

 

Temer admite que PEC da Previdência pode não ser aprovada em seu governo

Raphael Di Cunto e Bruno Peres

07/11/2017

 

 

Sem apoio suficiente hoje para aprovar a reforma da Previdência Social no Congresso, o presidente Michel Temer admitiu ontem, na primeira reunião mais ampla com os líderes dos partidos aliados na Câmara dos Deputados após a rejeição das denúncias criminais as quais responde, que a proposta pode sequer ser votada e que não interpretará isso como o fracasso do governo.

"Tenho visto na imprensa que ou o Temer aprova a reforma da previdência - veja que personalista - ou o governo não deu certo', afirmou aos líderes, a maioria deles publicamente contrária a votar o projeto. "Quero deixar claro que não é derrota eventual ou a não votação da Previdência que inviabiliza o governo. O governo já se fez", defendeu.

    O presidente disse que o Executivo iniciará uma campanha para divulgar o que é a reforma e qual sua importância.

    "Se num dado momento, se a sociedade não quer a reforma da Previdência, a mídia não quer a reforma da Previdência e a combate, e o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência", afirmou o presidente.

    Temer disse que teve coragem de propor uma reforma no sistema, sem a qual não sobrará dinheiro para investimentos públicos no país. O pemedebista sustentou que continuará a trabalhar para aprovar o projeto, mas não deu um prazo para votação.

    "Muitos pretendem derrotá-la, supondo que, derrotando-a, derrotam o governo. Não é verdade. Derrotam o Brasil", discursou.

    Os articuladores do governo e equipe econômica colocavam novembro como último prazo para votar a reforma na Câmara por causa da eleição de 2018, quando a maioria dos congressistas disputará um novo mandato. Com um "feriadão" na próxima semana e a agenda do Legislativo direcionada para outros assuntos, esse prazo se torna cada vez mais improvável.

    A reunião, acompanhada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi a primeira para (tentar) reunir todos os líderes da base aliada após a rejeição das duas denúncias criminais apresentadas pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

    O encontro, contudo, foi esvaziado. Por diferentes motivos, não apareceram representantes das bancadas do DEM, PP, PTB, PV e PSDB, todos com ministérios no governo.

    Apesar de reconhecer que poderá não fazer a reforma da previdência ou aprová-la de forma reduzida, Temer tentou mostrar aos líderes que não será um "pato manco" até o fim do mandato, após ver reduzida sua base de apoio no Congresso. Ele disse que terá outros projetos importantes para aprovar e destacou a "nítida recuperação econômica". O pemedebista não listou quais seriam esses projetos - entre os quais o maior, possivelmente, é a privatização da Eletrobras.

    Líder do PSD, o deputado Marcos Montes (MG) afirmou que Temer pediu que os parlamentares da base reconsiderem suas posições e que Meirelles veja o que é possível mexer no projeto sem desfigurá-lo. "Entendemos a importância da reforma, mas mostramos para ele as dificuldades hoje", disse.