Valor econômico, v. 17, n. 4377, 08/11/2017. Brasil, p. A7.

 

 

Dodge quer conclusão rápida das investigações da Lava-Jato no STF e STJ

André Guilhemer Vieira

08/11/2017

 

 

A equipe comandada por Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República (PGR) quer concluir o mais rapidamente possível as investigações da Lava-Jato que envolvem ministros, políticos e governadores e tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Dodge quer primar por resultados em lugar do "espalhafato" atribuído ao seu antecessor, Rodrigo Janot, por críticos dentro do próprio Ministério Público Federal (MPF). A ideia, conforme apurou o Valor, é acelerar os casos em que foram colhidas provas robustas contra os investigados. Inquéritos criminais e acusações com evidências consideradas mais frágeis serão arquivados. Os procedimentos no STF e no STJ dizem respeito a detentores de foro privilegiado. A avaliação é que, ainda que se trate da mais bem-sucedida investigação da história do país, a Lava-Jato é uma operação policial e, como tal, precisa cumprir o propósito para o qual foi deflagrada - a condenação dos investigados - e ser encerrada. A procuradora-geral já disse a interlocutores que a "ribalta" interfere na qualidade do trabalho de investigação criminal. A discrição, acredita, é uma aliada importante na atividade de enfrentamento à corrupção e repressão ao crime organizado. Dodge também não é entusiasta do "ativismo" de alguns integrantes do MPF, disseram à reportagem pessoas que atuam na PGR.

Iniciada em Curitiba em março de 2014 para investigar doleiros do Paraná, a Lava-Jato desvelou o esquema de corrupção infiltrado há anos na Petrobras e ganhou desdobramentos em outros Estados. Revelou que a corrupção era sistêmica e se alastrou para outras estatais, fato que demandou a instalação de forças-tarefa em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Ultrapassou as fronteiras nacionais e chegou aos Estados Unidos, à Suíça e a países da América Latina após as revelações feitas por 77 executivos e sócios da Odebrecht na delação premiada firmada com a PGR. Há, no entanto, uma preocupação por parte de integrantes da procuradoria-geral em evitar que a necessidade formal de encaminhar as investigações para o desfecho seja interpretada como um ataque ao combate à corrupção. A ordem é concluir do modo mais rápido e efetivo possível os procedimentos investigatórios herdados da gestão Rodrigo Janot, que cumpriu dois mandatos consecutivos à frente da PGR (2013-2015 e 2015-2017).

Ouvido pela reportagem sob condição de anonimato, um dos integrantes da equipe de Raquel Dodge manifesta preocupação com a possibilidade de a sociedade apresentar uma 'saturação' com o comportamento de procuradores que, na sua opinião e sem citar nomes, 'exageram' ao exercer a liberdade de expressão na internet. Esse ativismo de parte de membros do MPF cria, de acordo com essa fonte, o risco de haver "percalços institucionais", citando como exemplo a proposta das 10 medidas contra a corrupção encampada pelo coordenador da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol - que foi completamente modificada pela Câmara dos Deputados. O pacote de medidas que objetivava estabelecer parâmetros de modo a prevenir a corrupção no serviço público foi interpretado por setores da sociedade e por parte dos deputados como uma tentativa de o Ministério Público interferir no Legislativo, fato que levou a embates cada vez mais intensos e a críticas aos investigadores da Lava-Jato. Procurada, a força-tarefa do MPF em Curitiba informou, via assessoria de imprensa, que não se manifestaria sobre o assunto. A reportagem não conseguiu contato com Rodrigo Janot até o fechamento desta edição.