O Estado de São Paulo, n. 45279, 06/10/2017. Política, p.A10

 

 

 

 

PT aposta até o fim em Lula candidato

Sem um real ‘plano B’ no partido, Haddad e Wagner, os dois possíveis substitutos do ex-presidente, investem na disputa por vagas no Senado

Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

Nas últimas semanas se consolidou no PT a ideia de que o partido vai apostar na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até fim, mesmo que o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) mantenha a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro e o petista seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa e fique inelegível.

A cristalização da tese de que “não existe plano B” no PT tem feito com que os dois principais nomes citados como possíveis substitutos de Lula no pleito de 2018, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, ambos ex-ministros, cujo futuro estava indefinido por causa da situação do ex-presidente, passassem a investir de forma mais efetiva em outros projetos eleitorais. Ambos se colocaram como candidatos ao Senado Federal.

Embora a percepção geral no PT seja a de que o TRF-4 deve confirmar a condenação do petista, lideranças do partido como a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, dizem que a legenda vai insistir na candidatura de Lula.

Segundo ela, existem precedentes de políticos condenados por órgão colegiado que conseguiram disputar eleições com base em decisões de tribunais superiores como o Superior Tribunal de Justiça (STJ), Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Um caso citado nos bastidores petistas é o do deputado Paulo Maluf (PP-SP), que teve o registro de candidatura cassado pela Justiça Eleitoral em 2014 e conseguiu um recurso no TSE, disputou a eleição e foi o oitavo mais votado do Estado.

Além dos recursos aos tribunais superiores, o PT aposta na força das mobilizações de rua e em campanhas no exterior para garantir o nome de Lula nas urnas em 2018.

 

Wagner. No início, parte do PT pensou que se tratava apenas de uma tentativa de abafar as especulações cada vez mais frequentes sobre a substituição do ex-presidente. Nos últimos dias, porém, a ideia se cristalizou e os possíveis substitutos começaram a se mexer.

Com base em pesquisas locais que o apontam como favorito na disputa pelo Senado, Jaques Wagner já trabalha para consolidar a candidatura. Segundo interlocutores, ele tem dito explicitamente que a substituição de Lula está descartada e seu destino é mesmo o Senado Federal.

 

Haddad. O ex-prefeito de São Paulo, cujo nome é citado no PT para praticamente todos os cargos em disputa em 2018 (presidente, vice, governador, deputado, senador) almoçou na semana passada com o presidente estadual do PT de São Paulo, Luiz Marinho, e admitiu a possibilidade de ser candidato a senador.

Segundo auxiliares de Haddad, ele con- sidera improvável a hipótese de substituir Lula e muito difícil uma candidatura ao governo. Cerca de um mês atrás, em reunião com a bancada petista na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Haddad havia se colocado “à disposição do partido” para uma eventual disputa pelo governo.

Nas últimas semanas, com aval de Lula, Marinho tem consolidado a pré-candidatura ao governo de São Paulo e recebeu apoio de Haddad. Em troca ofereceu apoio ao ex-prefeito na disputa interna pela candidatura ao Senado. Haddad aceitou desde que haja um acordo com o vereador Eduardo Suplicy, que foi senador por três mandatos e também pleiteia a vaga.

“Quero ajudar o Brasil e o mundo a implantar a renda básica de cidadania e acho que seria mais produtivo no Senado”, disse Suplicy, que confirmou as tratativas com Haddad.

O vereador mais votado da cidade de São Paulo, que em 2002 disputou com Lula a vaga na disputa pela Presidência da República, disse estar disposto a enfrentar prévias contra o ex-prefeito petista.

Segundo petistas que acompanham a evolução do quadro em São Paulo, é Lula quem vai arbitrar a disputa.

 

Ex-prefeito. Haddad se colocou ‘à disposição do partido’

 

 

 

 

Em Belém, Bolsonaro pede palmas a militar que apoia intervenção

Em agenda de candidato, deputado afirma que ‘se chegar lá’ o homem do campo ‘vai ter fuzil para se defender do MST’
Por: Pedro Venceslau

 

Pedro Venceslau

ENVIADO ESPECIAL/BELÉM

 

Recebido como candidato à Presidência por centenas de simpatizantes em Belém, o deputado federal deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) deu ontem uma mostra do discurso que pretende adotar caso seja efetivada sua candidatura no ano que vem. Do alto de um carro de som, o parlamentar pediu palmas para o general Antonio Hamilton Mourão, que recentemente causou polêmica após defender a intervenção militar no País, disse que “se chegar lá” o homem do campo “vai ter fuzil para se defender do MST” e exaltou policiais afirmando que “nossos soldados não sentarão nos bancos dos réus nem serão processados por excesso”.

Bolsonaro também defendeu a alteração da legislação para permitir o porte de armas no Brasil e chegou a levantar a voz para dizer que no Brasil “não existe legítima defesa”. “Se depender de mim vocês terão armas de fogo em casa. Vamos flexibilizar muito o porte de arma no Brasil. Comigo não vai existir o politicamente correto. Vocês terão armas de fogo.”

O deputado ainda chamou de “bundões” integrantes do PSOL, partido que, segundo ele, “quer acabar com a família brasileira” e criticou exposições artísticas que recentemente causaram polêmica por conter nudez. “O Brasil precisa que a inocência das crianças seja respeitada. Comigo, não vai ter essa história de gastar dinheiro público com picaretas, como fizeram nessas exposições de São Paulo e Porto Alegre.”

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos para as eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro foi a Belém para participar do Círio de Nazaré, tradicional festa religiosa do Pará, e cumpriu uma agenda típica de candidato. Centenas de apoia- dores foram receber o deputado no aeroporto. Algumas pessoas passaram mal e tiveram de receber atendimento médico. Um homem de cabelos longos e brincos nas orelhas foi chamado de “viado”, “Jean Wyllys” e “Pablo Vittar”, em referência ao deputado federal pelo PSOL assumidamente gay e à cantora drag queen.

 

Outdoors. A visita de Bolsonaro a Belém foi organizada por grupos de direita e pelo deputado federal Delegado Éder Mauro (PSD-PA), membro da chamada “bancada da bala”. Mauro disse que o presidente licenciado de seu partido, o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) está ciente de sua movimentação em defesa da candidatura de Bolsonaro.

Questionado sobre a polêmica em torno das declarações do general Antonio Mourão em defesa de uma intervenção militar no Brasil, o deputado paraense, que passou 20 anos na Polícia Civil antes de ser eleito em 2014, disse que “admira” o posicionamento do oficial e repetiu seu discurso.

“Se a instituições não derem conta do recado e a democracia for ameaçada, não vejo outra saída além da intervenção dos militares. Não vejo o que houve no passado como ditadura, mas como governos militares. Não tinha roubalheira naquela época. Tenho maior respeito pelos governos militares”, afirmou.

Mauro disse que pagou do próprio bolso o equivalente a R$ 14 mil para espalhar 40 outdoors pela cidade saudando a chegada do colega pré-candidato. “Custou R$ 350 cada um. Vou pagar em parcelas”, afirmou. Parte desses outdoors amanheceram ontem com o rosto de Bolsonaro pichado. Em protesto contra a visita do parlamentar a Belém, a União da Juventude Socialista (UJS), braço jovem do PC do B, colocou pela cidade cartazes comparando Bolsonaro a Adolf Hitler.

Principal festa popular do Pará, o Círio de Nazaré recebeu anteontem o presidente Michel Temer. Hoje, é a vez do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que tenta firmar seu nome como candidato do PSDB à Presidência em 2018.

 

Apoio. Jair Bolsonaro (PSC-RJ) faz ‘selfie’ em cima de um carro de som onde discursou para centenas de apoiadores que foram recebê-lo no aeroporto

 

Armas de fogo

“Vamos flexibilizar muito o porte de arma no Brasil. Comigo não vai existir o politicamente correto. Vocês terão armas de fogo.”

Jair Bolsonaro (PSC-RJ)

DEPUTADO FEDERAL

 

 

 

 

Meirelles diz que pensará no futuro em 2018

Por: Célia Froufe

 

Célia Froufe

CORRESPONDENTE / LONDRES

 

Em entrevista à publicação The Banker, uma divisão do jornal britânico Financial Times, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que vai pensar sobre o futuro político do País no próximo ano, ao ser questionado sobre uma eventual candidatura à Presidência da.

A entrevista, divulgada ontem, foi concedida no fim de setembro, quando Meirelles foi a Londres participar de uma série de reuniões com investidores interessados no Brasil. “Eu não estou pensando sobre isso no momento. Estou focado em meu trabalho como ministro da Fazenda, acho que todas as reformas estão avançando, e na retomada da economia. Penso que eu tenho que estar completamente dedicado, com 100% da minha atenção, na recuperação da atividade”, disse.

Na avaliação do ministro, o desenvolvimento político no País está se dando de “forma natural”. A esquerda, apontada por ele como constituída basicamente pelo PT, tem praticamente a mesma fatia da intenção de votos das últimas décadas. “Este é um eleitor tradicional do partido, não há surpresa, era esperado”, afirmou, citando que o crescimento foi visto nas reeleições dos ex-presidentes Lula e Dilma.

Perguntado sobre a baixa popularidade do governo Michel Temer, o ministro ressaltou que a pouca aprovação é “compreensível”. “O presidente não foi eleito, pois chegou ao poder como um resultado do impeachment, e a segunda coisa é que ele é o responsável por realizar reformas importantes, mas impopulares, como a da Previdência”, citou. “O ponto é que justamente por ele ter um curto período de mandato é que decidiu fazer o que é necessário para o Brasil, pois não concorrerá à eleição de 2018”, disse.

Meirelles enfatizou à The Banker que boa parte das reformas já foi finalizada. O primeiro passo foi a PEC do Teto, aprovada em dezembro, e que outra “grande reforma” foi a trabalhista. “As reformas estão andando e a nossa expectativa é a de que a da Previdência seja aprovada.”