O Estado de São Paulo, n.45279 , 06/10/2017. Negócios, p.B8

 

 

 

 

STF devolve projeto do novo marco das telecomunicações para o Senado

Mudança. Projeto passa a tratar operadoras pelo regime de autorizações e transfere bens do governo para as empresas, em troca de investimentos; proposta, que parou na Justiça após aprovação expressa pelos senadores, é vista como vital para a sobrevivência

Por: Anne Warth

 

Anne Warth / BRASÍLIA

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o retorno do novo marco regulatório das teles ao Senado. O projeto de lei está parado no STF desde fevereiro, quando 13 senadores da oposição entraram na Justiça para impedir que ele fosse sancionado pela Presidência da República. O projeto é considerado fundamental para que a Oi possa atrair um novo investidor. A empresa está em recuperação judicial, com dívidas de R$ 65 bilhões, sendo cerca de R$ 20 bilhões com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

O novo marco regulatório das teles permite que as empresas que exploram os serviços de telefonia fixa migrem do regime de concessões para o de autorizações, com liberdade de preços e sem a obrigação de universalização dos serviços, ficando livres de obrigações como a regulação de tarifas e o investimento em itens como orelhões. A proposta também transfere para as empresas a posse de bens reversíveis, como redes, cabos de fibra óptica e imóveis. Em troca, as teles terão que assumir o compromisso de realizar investimentos na expansão da internet banda larga no País.

A principal polêmica está na valoração desses bens. O governo acredita que eles valham R$ 20 bilhões, o que obrigaria as empresas a investir o mesmo valor na banda larga. As teles falam em R$ 10 bilhões, enquanto o Tribunal de Contas da União (TCU) acredita que a conta seja bem maior: R$ 100 bilhões.

 

Tramitação veloz. Diante desses dados, a controvérsia ocorreu porque a proposta teve uma tramitação expressa no Senado. Ela chegou no Senado em 30 de novembro e foi aprovada em 6 de dezembro, por 12 votos a zero, na Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional. Ela não passou pelas três comissões permanentes – Constituição e Justiça, Ciência e Tecnologia e Comunicação e Informática – nem pelo plenário.

Logo após a aprovação do projeto no Senado, a oposição apresentou recursos à Mesa Diretora para que o projeto fosse apreciado pelo Plenário, mas nenhum dos pedidos foi aceito. Em 20 de dezembro, os senado- res entraram com mandado de segurança no STF para evitar a sanção presidencial e devolver o projeto à Casa.

Em meio ao recesso judiciário, a ministra Cármen Lúcia avaliou que não havia urgência para avaliar o pedido dos senadores. Em 31 de janeiro, no último dia à frente do cargo, o então presi- dente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), enviou o texto à sanção presidencial. Logo em seguida, em 4 de fevereiro, o ministro Luís Roberto Barroso concedeu a liminar que impediu a sanção. Desde então, o projeto estava no STF.

Na nova decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), analise os recursos apresentados pelos senadores da oposição. Na avaliação de Moraes, os requisitos formais para que o texto seja votado no Plenário estão “presentes”. Após a análise desses recursos, o projeto poderá ser apreciado. Se for aprovado, seguirá para sanção presidencial.

A decisão ocorre três semanas após uma comitiva formada por integrantes do governo, da Anatel e das próprias teles terem ido ao gabinete do ministro para tentar destravar o projeto.

 

Reação. O presidente da agência reguladora, Juarez Quadros, disse que o retorno do novo marco regulatório das teles ao Senado é um ato positivo, mas ponderou que é preciso aguardar os próximos passos que a proposta terá na Casa. “Não vamos festejar tão rapidamente”, afirmou. “Vamos esperar para ver o que o Senado vai fazer.”

Quadros disse que a aprovação do novo marco regulatório das teles muda a perspectiva para todo o setor, e não apenas para a Oi. Porém, é preciso aguardar para saber se o projeto será votado pelo Plenário do Senado ou se passará por comissões especiais ou permanentes. “Tem de haver um grande acordo de líderes. Se não houver e tiver que reabrir a proposta em comissão especial ou específica, e se for alterado, o projeto teria que voltar para a Câmara.”

Uma vez aprovado, caberá à Anatel fazer a regulamentação de toda a lei. “Tem muito trabalho para fazer”, afirmou. Segundo ele, o trabalho que a agência fará vai depender do texto que for aprovado pelo Congresso.

 

Saída. Entendimento é que novo marco regulatório ajudaria a atrair investidor para a Oi

 

Contas díspares

R$ 20 bi

seria o valor que as teles teriam de transformar em investimento, segundo o governo; cálculo do TCU é de R$ 100 bi e o das operadoras, de R$ 10 bi

 

 

 

 

 

 

Internet 5G só deve virar realidade em 2021

Por: Carolina Ingizza

 

Carolina Ingizza

 

A quinta geração de internet móvel, chamada de 5G, promete oferecer banda larga móvel até dez vezes mais veloz do que o 4G. A nova geração abrirá espaço para um grande número de objetos conectados. Mas essa realidade está longe do País: os primeiros testes comerciais da tecnologia só devem ocorrer em 2021, quando os padrões globais do 5G forem definidos.

Além de melhorar a qualidade da rede, o 5G vai apoiar o crescimento do tráfego de dados e a levar internet a áreas desconectadas. “O 5G em frequências altas vai permitir a massificação da internet das coisas. Em frequências baixas, pode facilitar a inclusão do campo”, disse Marcos Scheffer, vice-presidente de redes da Ericsson durante a Futurecom, evento de telecomunicações encerrado ontem.

Uma rede completa 5G, porém, deve se concretizar somen- te quatro anos após os primeiros testes, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. “As operadoras demoram para conseguir expandir um novo mode- lo – é só olhar para o 4G”, diz.

O grande problema, dizem analistas, é a falta de recursos para novos aportes. “As redes dos EUA vão estar preparadas para o carro sem motorista. As nossas não”, alerta Ricardo Distler, diretor executivo da consultoria Accenture na América Latina.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) também discute como liberar frequências para quando as operadoras começarem os testes. Segundo Agostinho Linhares, gerente de espectro da Anatel, EUA e Europa já definiram as frequências que vão usar. “No Brasil, a Anatel espera atualizar sua regulamentação para garantir a faixa de 3.500 MHz para o 5G.”

 

Evolução. Enquanto os padrões não saem, as operadoras investem na evolução do 4G, chamada de 4,5G ou 4G+. Com a liberação da faixa de 700 MHz, pelo desligamento do sinal analógico de TV, as operadoras aumentam a velocidade nas cidades. A mudança para o 5G será gradual, de acordo com Átila Branco, diretor de engenharia móvel da Vivo.

Na Claro, o plano é ofertar o 4,5G de forma universal à base de clientes até 2019. “Esperar até 2020, 2021 (para implantar o 5G) nos mantém no tempo certo”, diz Andre Sarcinelli, diretor de engenharia da Claro. “Adiantar-se pode ser um problema. Nos EUA, onde os testes já começaram, será preciso melhorias. O padrão vai evoluir.”

 

Perspectivas

“As operadoras demoram para conseguir expandir para um novo modelo – é só olhar para o 4G.”

Eduardo Tude

PRESIDENTE DA CONSULTORIA TELECO

 

“As redes dos EUA vão estar preparadas para carro sem motorista. As nossas, não.”

Ricardo Distler

EXECUTIVO DA ACCENTURE

 

 

 

 

Anatel adia pedido sobre conversão de multas da Oi

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) adiou ontem análise de outro pedido da operadora Oi para acordo de conversão de multas por investimentos. A deliberação sobre mais esse Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) estava pautada para a reunião do conselho da agência, mas foi adiada. A Anatel não informou qual era o montante de multas contemplado no pedido de acordo que teve análise adiada. Outro TAC, envolvendo R$ 1,2 bilhão em multas, está suspenso por ordem do Tribunal de Contas da União (TCU). /REUTERS