Título: Bebida alcoólica longe das ruas
Autor: Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2012, Brasil, p. 6

São Paulo discute limitar a venda e o consumo de produtos como a cerveja e há quem defenda, na Câmara dos Deputados, a federalização da proposta

A cervejinha na beira da praia, com o pé na areia, e a caipirinha que acompanha o churrasco no parque podem, em breve, se tornar coisa do passado no Brasil e se tornar lembranças como as do tempo em que o cinto de segurança era quase um enfeite no carro. Pelo menos é isso o que prevê um projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo. O deputado estadual Campos Machado (PTB), autor do texto que proíbe a comercialização e a venda de bebidas alcoólicas nas ruas, quer que a proposta se torne referência nacional. E o projeto já encontrou aliados na Câmara dos Deputados.

A ideia — realidade em algumas localidades nos Estados Unidos e em países da América Latina, como o Chile — é muito bem vista pelo deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL). Relator da comissão especial que discutiu temas como segurança pública e drogas, o parlamentar apresentou à Câmara uma proposta semelhante, que veta a venda de bebidas alcoólicas geladas fora de bares e restaurantes. Mesmo nesses lugares fechados, só é permitida a venda se o produto for consumido imediatamente. "O projeto de São Paulo só é mais explícito, mas o espírito da lei é o mesmo. Copiamos esse modelo da Suécia e lá deu muito certo, refletiu na redução do consumo de drogas", defende o político.

O deputado estadual Campos Machado espelha seu projeto nas restrições que o país vem fazendo ao cigarro e lembra que, em 2009, dois anos antes da lei federal que proibiu o fumo em ambientes fechados, o estado de São Paulo implantou a norma. Darcísio Perondi, deputado federal pelo PMDB do Rio Grande do Sul, concorda com o colega e acredita que o projeto de São Paulo, caso aprovado, acabará acelerando a apreciação de propostas semelhantes na esfera federal. "Enfrentamos o tabaco e hoje o consumo está caindo, quer exemplo melhor que este? Não defendo o fim do consumo das bebidas alcoólicas, mas o fato de os filhos verem os pais bebendo em qualquer lugar fazem com que eles cresçam íntimos da bebida", compara.

Eficácia

No entanto, enquanto os parlamentares discutem medidas para inibir o consumo de bebidas alcoólicas, há quem acredite que a lei não será eficaz. O aposentado Ivo Holfs, 58 anos, adepto de uma cervejinha, já prevê que os brasileiros irão dar um jeito de burla a regra. "Sou a favor da proibição em estádios e para motoristas, mas acho mais importante conscientizar a nova geração do que tentar proibir quem já bebe de continuar a beber nas ruas. Vai ser uma perda de tempo", avalia.

O médico e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Joaquim Ferreira Neto, concorda, e acrescenta que a forma mais eficaz de reduzir o consumo é educar as pessoas. "Essa lei é complicada, vai ser muito difícil fazer a fiscalização. O Estado teria que se aparelhar muito e essa pode virar mais uma daquelas leis que não pegam."

Essa lei é complicada, vai ser muito difícil fazer a fiscalização. O Estado teria que se aparelhar muito e essa pode virar mais uma daquelas leis que não pegam"

Joaquim Ferreira Neto, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

O fato de os filhos verem os pais bebendo em qualquer lugar faz com que eles cresçam íntimos da bebida"

Darcisio Perondi, Deputado Federal (PMDB-RS)