Correio braziliense, n. 19917, 03/12/2017. Política, p. 3

 

"Desembarque elegante"

03/12/2017

 

 

PODERES » Temer e Alckmin se encontram durante evento em São Paulo e demonstram sintonia nos temas da reforma e das eleições 2018

Em meio a trocas públicas de gentilezas, o presidente Michel Temer e o governador de São Paulo e presidente eleito do PSDB, Geraldo Alckmin, vão se acertando em torno da principal e mais polêmica agenda do governo, que é a reforma da Previdência. O clima aparenta ajuda mútua. Por trás das conversas, a prática do velho ditado “uma mão lava a outra”. Os tucanos colaboram com as mudanças nas aposentadorias dos brasileiros e Temer apoia candidatura de Alckmin ao Palácio do Planalto, em 2018. Ontem, após entregar unidades do Programa Minha Casa Minha Vida em duas cidades de São Paulo, o chefe do Executivo afirmou que o desembarque do PSDB será “cortês e elegante”.

“Será uma coisa cortês e elegante, como do meu estilo e do governador. Eu tenho certeza que o PSDB deu uma grande colaboração ao governo. Nós temos um ano e meio. O PSDB esteve presente um ano e meio, aliás em ministérios de grande porte”, destacou Temer. Alckmin se mostrou receptivo. Em resposta, na cidade de Limeira, garantiu: “Presidente, conte conosco. A boa política é buscar entendimento. Entendimento para resolver os problemas do Brasil e melhorar a vida das pessoas”.

Pouco tempo depois, em Americana, Alckmin voltou ao assunto, ao lembrar o provérbio libanês, origem dos ascendentes de Temer, “com uma mão só, não dá para aplaudir”. “Nós precisamos dar a mão, fazer parceria em benefício do Brasil”, ressaltou, sinalizando que a cúpula está se acertando. Como, aliás, já havia dito o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, quando contou que o desembarque do PSDB dependia de um acordo entre os dois líderes.

Só falta agora combinar com as bases e conciliar os interesses eleitorais. Parlamentares de ambos os lados ainda estão divididos. Parte apoia as medidas de ajuste fiscal e parte contesta, para não perder votos. Alckmin, apesar do discurso, ainda não fala como presidente dos tucanos, porque só toma posse do cargo no dia 9. Mas segue em linha com suas declarações recentes de que é favorável ao texto da reforma da Previdência, até mesmo em sua versão mais dura, com um regime único de aposentadoria para todos os brasileiros: servidores civis, militares e funcionários da iniciativa privada.

Moradias

Nas cerimônias de entrega de moradias do Programa Minha Casa Minha Vida, Michel Temer prometeu que ainda serão lançadas 25 mil unidades até o final do ano. Ontem, em Limeira, inaugurou 900, e em Americana, 896. No segundo evento, ao contrário do que aconteceu na parte da manhã, ele foi vaiado. Ao lado de Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também candidato ao Planalto pelo PSD, apontou resultados positivos da atual gestão na condução da política econômica, como a queda da inflação e a redução do índice de desemprego. Ele afirmou que esse governo, “em um ano, fez uma diferença enorme na vida de todos”.

Também acompanhavam também o presidente Moreira Franco (Secretaria-Geral), Alexandre Baldy (Cidades) e Gilberto Occhi, presidente da Caixa Econômica Federal. Bruno Araújo, ex-ministro das Cidades, foi o primeiro tucano a desembarcar, em 13 de novembro. Na próxima semana, a previsão é de que Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos) devolvam os cargos. Apesar dos acertos para a revoada tucana em grande estilo, continua o mistério sobre a quantidade de votos que a bancada do PSDB — com 46 deputados — dará ao texto da reforma da Previdência. O governo precisa de 308 votos.