O globo, n.30754 , 19/10/2017. PAÍS, p.5

Em dia de contas, governo tem surpresas e perde dois votos

CRISTIANE JUNGBLUT

 

 

Com emendas e mapeamento, Temer atua no convencimento de parlamentares

O Planalto passou o dia fazendo contas para garantir o placar de 39 votos a seu favor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), foi quem concentrou a contagem dos votos. Ao final, foram dois votos a menos do que na primeira denúncia contra o presidente Michel Temer. O Planalto sabia do cenário favorável, mas teve que correr e se esforçar para garantir os votos. O próprio Temer saiu a campo e recebeu parlamentares durante todo o dia. A receita foi a mesma da primeira denúncia: liberação de emendas, encontro com parlamentares e mapeamento voto a voto.

O próprio Beto Mansur admitiu, no entanto, ao final da sessão, que sempre há “surpresas” no momento da votação. O governo esperava pelo menos 40 votos e teve que se mexer para os 39. O Palácio do Planalto demorou para perceber a decisão do PSB de trocar os dissidentes da CCJ quando enviou os ministros Raul Jungmann (Defesa Nacional) e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia). As nomeações não surtiram efeito na CCJ, e os quatro parlamentares do PSB votaram contra Temer.

— Foi dentro do esperado. Mas sempre há surpresas na hora. Perdemos dois do PSB, e, no Solidariedade, também houve mudança — disse Beto Mansur.

No caso do Solidariedade, o deputado Benjamim Maranhão (SD-PB) não compareceu e foi substituído pelo Major Olímpio (SD-SP), que votou contra Temer. Momentos antes da votação, Major Olímpio gritava que estavam tentando substituí-lo por Wladimir Costa (SD-PA), ferrenho defensor de Temer. Mas, se essa manobra foi pensada, nem ocorreu: Olímpio votou contra Temer.

No PSDB, houve a conhecida divisão do partido. Mas os tucanos mineiros estiveram em peso com Temer: Paulo Abi-Ackel e Rodrigo Castro, como titulares, e ainda de o deputado Bonifácio de Andrada, que estava na vaga de suplente cedida pelo PSC, mas que entra na conta pró-Temer.

A situação no PSDB preocupou quando o deputado Elizeu Dionizio (PSDB-MS) não apareceu. Assumiria o primeiro suplente a registrar presença, e o governo não sabia se era aliado ou adversário. O alívio veio ao saber que era Rodrigo de Castro (PSDB-MG) que assumiria, porque votaria com o governo.

Os líderes governistas “baixaram” na CCJ para acompanhar a votação. O líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), disse que agora a mobilização será permanente até a votação em plenário, no dia 25.

— Vamos continuar trabalhando. Movimentação intensa até quarta — disse Aguinaldo.

 

MINISTROS REASSUMIRÃO MANDATOS

O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), da tropa de choque, disse que agora tinha que cuidar também da CPI da JBS. O Planalto vai continuar trabalhando em torno do PSDB e PSB, que nas bancadas têm divisões. Na CCJ, os partidos podem trocar os membros. Mas no plenário cada um vota por si. Assim como ocorreu na primeira denúncia, o governo deve exonerar na próxima semana os ministros que são deputados. O objetivo é que eles reassumam seus mandatos para garantirem votos favoráveis a Temer.