O globo, n.30754 , 19/10/2017. PAÍS, p.6

Recepção fria do plenário

MARIA LIMA

 

 

PELA PORTA DA FRENTE Diante de colegas de partido constrangidos, Aécio Neves afirma que foi vítima de trama e que volta para ‘participar de todos os debates’; discurso de retorno não teve apartes de apoio

 

Foi um retorno difícil. Sob um silêncio constrangido dos senadores, inclusive dos companheiros do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou ontem à tarde ao plenário do Senado e fez um rápido pronunciamento para anunciar que está pronto para exercer seu mandato normalmente, participando de todos os debates. Ao contrário da rotina diária, quando entra para o gabinete pelo Anexo I do Senado, Aécio fez questão de entrar pela porta da frente do Congresso Nacional. Ao final do pronunciamento, feito no microfone do meio do plenário, em vez da fala tradicional da tribuna, os senadores permaneceram inertes, sem nenhum aparte de apoio.

Em seguida, sentou-se na fileira de cadeiras onde estavam os companheiros Tasso Jereissatti (CE), Cássio Cunha Lima (PB) e Antônio Anastasia (MG). Apenas Anastasia se levantou para cumprimentá-lo. Seguido da senadora Simone Tebet (PMDBMS), Helio José (Pros-DF), Dalírio Beber (PSDB-SC) e o líder do PMDB, Raimundo Lira (PB).

Em seu discurso, Aécio disse que sua história é digna e honrada e que foi vitima de uma “trama ardilosa”, que teve a participação de “homens de estado” que ocupavam, até pouco tempo, a Procuradoria-Geral da República. Ele elogiou o voto dos senadores que derrubaram seu afastamento do mandato e disse que, apesar dos duros ataques sofridos no plenário, não volta ao Senado com ódio ou rancor.

— Fui vitima dos mais duros ataques, mas não retorno a essa Casa com rancor nem ódio. Minha história é digna e honrada. Estou pronto para participar de todos os debates nessa Casa — disse Aécio, anunciando que irá usar cada dia e cada momento para se defender.

— No exercício desse mandato irei trabalhar a casa dia e a todo instante para provar minha inocência — disse Aécio.

Ele repetiu a nota de ontem, dizendo que irá usar o mandato para se defender de “acusações absurdas e falsas”.

— Fui vítima de uma ardilosa armação. Comandada por empresários que enriqueceram as custas do dinheiro público e não respeitaram as pessoas de bem. Corroboraram para essa trama ardilosa homens de estado que até há pouco tempo tinham assento na PGR — disse Aécio, sem citar o nome do exprocurador Rodrigo Janot.

Ao sair do plenário, questionado sobre as cobranças de Tasso para que renuncie a presidência do PSDB, Aécio respondeu que não tratava de questões partidárias pela imprensa. Depois de enfrentar a fria recepção do plenário, Aécio foi para a reunião da bancada, comandada pelo presidente interino Tasso Jereissati (PSDB-CE), desta vez para enfrentar a cobrança dos companheiros tucanos para que ele renuncie de forma definitiva a presidência do partido.