O globo, n.30754 , 19/10/2017. PAÍS, p.6

PSDB pressiona para renúncia à presidência

 

 
Aécio, no entanto, resiste e pede mais tempo para decisão definitiva

Menos de 24 horas depois de receber o apoio quase integral dos senadores tucanos pela retomada do seu mandato, o senador Aécio Neves (MG) foi surpreendido ontem com o ultimato dado por integrantes da direção do PSDB para que renuncie de forma definitiva à presidência do partido. O presidente interino, senador Tasso Jeiressatti (CE), cobrou, logo cedo, que ele renunciasse, por falta de condições de continuar licenciado.

O entendimento majoritário é que sua continuação no comando da legenda, mesmo que licenciado, “arrebenta” com a imagem do partido, já arranhada com a votação pela anulação da decisão que o devolveu ao Senado. À noite, em reunião da bancada, entretanto, Aécio pediu mais tempo para tomar uma decisão. Apesar do pedido, o sentimento na bancada é que Aécio sabe que não tem condições de continuar e vai sair, mas quer acertar antes, com seus aliados governistas, o que fazer.

Interlocutores do mineiro reclamaram que ontem, dia do seu retorno, não era o melhor momento para o ultimato.

— Foi dado ao senador Aécio o tempo para a decisão que tem que tomar. Agora a responsabilidade é dele sobre o que vai fazer — disse Tasso após a reunião.

Aécio saiu da reunião mais cedo e bastante contrariado, segundo um dos participantes. Como ele ainda é o presidente licenciado, só ele pode tomar a decisão de renunciar.

— O senador Aécio tem plena consciência que vivemos uma crise, que o partido enfrenta uma crise. Vivemos um momento muito delicado, que exige uma decisão definitiva. Não podemos mais ter uma situação provisória, mesmo que só até dezembro, quando acontece a convenção nacional. Com certeza até a semana que vem ele tomará essa decisão — afirmou Tasso.

Alguns senadores, ao sair da reunião, ponderaram que Aécio passou muitos momentos difíceis e precisava de tempo.

— Se fosse eu, Roberto Rocha, me afastaria não só da presidência do partido, mas também do mandato por um mês, para me dedicar exclusivamente à minha defesa — disse o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).

No mesmo tom de Tasso, o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) defendeu que Aécio formalize seu afastamento da direção do partido. Hoje ele está licenciado e tem o apoio dos governistas para continuar. Se decidir renunciar, ele pode indicar um outro vice-presidente interino até a convenção nacional para escolher seu sucessor, em 9 de dezembro, ou manter a interinidade de Tasso Jereissatti.

Enquanto Aécio estava afastado, o processo no Conselho de Ética por quebra de decoro, apresentada pelo PT, ficou suspensa. Agora será retomado.