O Estado de São Paulo, n. 45327, 23/11/2017. Política, p. A10.
Garotinho e Rosinha são presos no Rio
Constança Rezende
23/11/2017
Os ex-governadores do Rio Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, ambos do PR, foram presos preventivamente ontem pela Polícia Federal. Outras sete pessoas – entre elas o presidente nacional do PR e ex-ministro dos Transportes Antonio Carlos Rodrigues – também tiveram prisão decretada por envolvimento em crimes de corrupção, concussão (extorsão cometida por servidor), participação em organização criminosa e falsidade em contas eleitorais.
A investigação foi conduzida pelo Ministério Público Eleitoral em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Há suspeita também de pagamento ilegal, pelo frigorífico JBS, de R$ 3 milhões à campanha de Garotinho em 2014.
Com a prisão do casal, apenas um ex-governador do Estado eleito após 1985 – Moreira Franco, do PMDB – não está na cadeia. Ele, que possui foro privilegiado por exercer o cargo de ministro-chefe da SecretariaGeral da Presidência, enfrenta, porém, acusações de corrupção na Operação Lava Jato.
Também da cúpula do poder estadual, estão presos os três presidentes da Assembleia Legislativa desde 1995 (Sérgio Cabral, Jorge Picciani e Paulo Melo). Cinco conselheiros do Tribunal de Contas também foram encarcerados. Soltos, estão afastados dos cargos.
Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz da 100.ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, Glaucenir Silva de Oliveira. Segundo o MP Eleitoral, Rodrigues e Garotinho captavam recursos ilegalmente. A ação se daria “principalmente para a prática de caixa 2”. Até o início da noite não havia a confirmação oficial de que Rodrigues fora preso.
O magistrado ordenou também o afastamento de Rodrigues e Garotinho dos cargos exercidos no PR. O objetivo é “cessar o perigo da continuidade de suas atividades ilícitas que, entre outras coisas, fraudam o processo eleitoral e as informações obrigatórias a serem prestadas à Justiça Eleitoral, com negativas e graves consequências ao processo eleitoral”.
Garotinho foi preso pela manhã em sua casa, na zona sul do Rio. Após se submeter a exame de corpo de delito, ele foi transferido, por ordem da Justiça, para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. Chegou sob gritos de “bandido!”. No local também estão presos Cabral, Picciani e Melo, desafetos de Garotinho.
Esta foi a terceira prisão do ex-governador, desde 2016. As outras duas ocorreram por supostas fraudes no programa Cheque Cidadão de Campos dos Goytacazes. A segunda ocorreu enquanto Garotinho apresentava seu programa na Rádio Tupi.
Delações. As informações prestadas pelo empresário André Luiz da Silva Rodrigues em delação premiada serviram como base para a operação. Ele disse ao MP Eleitoral que sua empresa, a Ocean Link Solutions Ltda., firmou um contrato fictício com a JBS que viabilizou a doação de R$ 3 milhões para a campanha de Garotinho. O serviço não foi prestado, segundo o delator.
Outros empresários disseram à PF que o ex-governador cobrava propina nas licitações da prefeitura de Campos. Disseram que ele exigia pagamento para que os contratos fossem honrados. Um ex-secretário municipal também foi preso.
‘Braço armado’. Silva Rodrigues afirmou ainda que interlocutores de Garotinho usavam armas e faziam ameaças veladas. O empresário disse que, quando ia fazer saques em dinheiro, recebia ligações do operador de Garotinho, Antônio Carlos Ribeiro da Silva. O ex-policial civil, apelidado de Toninho, “fazia questão de mostrar que estava armado”, segundo o delator. Ele também teve mandado de prisão expedido ontem.
Para o juiz, a acusação “demonstra de forma clara a imposição do líder da organização criminosa, ora réu Antony Garotinho, através do réu Antônio Carlos Ribeiro da Silva, vulgo Toninho, e que era o braço armado da organização criminosa, para que o colaborador obedecesse suas ordens”.
Defesa. Em nota, a assessoria do ex-governador negou as acusações e afirmou que “querem calar o Garotinho mais uma vez”. Declarou ainda que ele atribui a operação “a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo (Sérgio) Cabral na Assembleia Legislativa”.
“O ex-governador afirma que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de Garotinho, no ano passado.” O texto afirma ainda que nem Garotinho nem os outros acusados cometeram crime.
De acordo com a nota, Garotinho foi alertado por um agente penitenciário sobre uma reunião entre Cabral e Picciani no episódio da primeira prisão do deputado. “Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho. Agora, a ordem de prisão do juiz Glaucenir é para que Garotinho vá com sua esposa para Benfica, justamente onde estão os presos da Lava Jato”.
O Estado não conseguiu falar com as defesas dos demais acusados.
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