O Estado de São Paulo, n. 45327, 23/11/2017. Política, p. A12.

 

PSDB faz Temer adiar nomeação de Marun

Vera Rosa / Tânia Monteiro / Carla Araújo / Igor Gadelha / Felipe Frazão

23/11/2017

 

 

Governo chega a anunciar posse, mas desiste após pressão de tucanos governistas

 

 

Pressionado pela ala governista do PSDB, o presidente Michel Temer recuou da decisão de nomear ontem o deputado Carlos Marun (PMDBMS) para a Secretaria de Governo no lugar do tucano Antonio Imbassahy (BA). A posse de Marun chegou a ser anunciada pelo Twitter oficial do Palácio do Planalto, mas a mensagem foi logo apagada. Em um dia marcado por muitas idas e vindas, Temer empossou apenas o deputado Alexandre Baldy (GO) no Ministério das Cidades.

Sob o argumento de que a saída de Imbassahy, neste momento, faria o PSDB votar contra a reforma da Previdência, o senador Aécio Neves (MG) fez um apelo para que o presidente mantivesse o tucano na articulação política até a convenção do partido, em 9 de dezembro. Em café da manhã com Temer, no Palácio do Jaburu, Aécio também afirmou que a substituição de Imbassahy, agora, atrapalharia o seu plano de convencer o PSDB a não desembarcar.

Duas horas mais tarde, porém, os líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PPPB), e da bancada do PMDB, Baleia Rossi (SP), além dos deputados Beto Mansur (PRB-SP) e Darcísio Perondi (PMDB-RS) foram ao Palácio do Planalto acompanhados de Marun. Saíram com a certeza da nomeação do deputado, indicado pelo PMDB, para a cadeira de Imbassahy.

A notícia da posse conjunta de Marun e de Baldy – que entrou no lugar do tucano Bruno Araújo – vazou em instantes e chegou a ser confirmada, em caráter reservado, por ministros do Planalto. Para tanto, o governo mudou até mesmo o horário da cerimônia, de 15h30 para 17 horas.

O anúncio agradou ao Centrão – bloco que reúne PP, PR, PSD e PTB –, mas contrariou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é amigo de Imbassahy e tenta fazer um jogo combinado com o PSDB de Aécio. Nos bastidores, Maia avaliou que a entrada de mais um peemedebista no núcleo político do Planalto – os outros dois são Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (SecretariaGeral) – também daria excessivo poder ao PMDB.

O Estado apurou que o nome de Marun não está descartado, mas o presidente optou por um recuo tático.

 

Desmentido. Diante do mal-estar com o PSDB, porém, Temer pediu que a Secretaria de Comunicação da Presidência desmentisse que ele tivesse batido o martelo sobre a substituição de Imbassahy. Minutos depois, no entanto, o Twitter do Planalto anunciava: “Em instantes, acompanhe a cerimônia de posse dos ministros do @MinCidades, @alexandrebaldy, e da Secretaria de Governo, @deputadomarun”. Na mensagem, o perfil de Marun foi marcado.

O post com a “gafe” provocou mais um desgaste no Planalto. À noite, a Secretaria de Comunicação Digital reconheceu a publicação como um equívoco.

Maia e Marun conversaram com Temer pouco antes da cerimônia de posse de Baldy. “Não fui convidado oficialmente”, desconversou o deputado, que é considerado da “tropa de choque” de Temer na Câmara. “Se vier a ser, estarei à disposição. Continuo defendendo o governo e a reforma da Previdência”, disse.

 

Disposição. Considerado da ‘tropa de choque’ do presidente na Câmara, Marun diz que continua ‘defendendo governo’

 

Gafe

“Em instantes, acompanhe a cerimônia de posse dos ministros do @MinCidades, @alexandrebaldy, e da Secretaria de Governo, @deputadomarun”

Palácio do Planalto

MENSAGEM NO TWITTER

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Em posse de Baldy, peemedebista ressalta ‘semipresidencialismo’

Tânia Monteiro / Carla Araújo / Leonencio Nossa

23/11/2017

 

 

Temer diz que busca ‘unidade absoluta’ com Câmara e Senado para garantir a aprovação da reforma da Previdência

 

 

O presidente Michel Temer afirmou ontem que governa em um regime “quase” semipresidencialista. Ao dar posse ao novo ministro das Cidades, Alexandre Baldy, no Palácio do Planalto, ele disse ainda que busca, em uma parceria com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), uma “unidade absoluta” para garantir, em especial, a aprovação da reforma da Previdência.

“Embora o presidencialismo seja o mesmo, demos uma nova significação e uma nova coloração ao presidencialismo”, disse Temer. “No nosso governo, a Câmara deixou de ser um apêndice, para ser parceira do governo”, afirmou. “É quase um semipresidencialismo, e tem dado certo.”

Em discurso de sete minutos, o presidente voltou a cobrar apoio de Maia, para que as mudanças nas regras previdenciárias avancem na Câmara. O presidente disse que Maia tem sido um parceiro “fundamental” para o “sucesso” do governo, assim como Eunício. “Esse entrosamento entre Congresso e Executivo está por trás dos atos exitosos que vêm sendo verificados nesse período”, disse, numa referência a projetos do governo aprovados na Câmara e no Senado.

 

Indicação. Temer também falou da indicação do nome de Baldy, que assume Cidades no lugar do tucano Bruno Araújo, por Maia. “A primeira pessoa que me lembrou de seu nome foi Rodrigo Maia”, disse Temer. Antes, o presidente causou risos ao observar que Baldy, ex-secretário de Indústria e Comércio do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), teve experiência como jogador do Goiás Esporte Clube, clube da segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Em seu discurso, Maia disse que está empenhado na reforma da Previdência. “Não vamos fugir de nossa responsabilidade”, disse. “A reforma da Previdência não interessa ao governo, mas aos brasileiros mais pobres”, ressaltou. “O maior programa de transferência de renda não é o Bolsa Família, mas a Previdência, em que os pobres financiam os ricos.”

No discurso de despedida, Bruno Araújo disse que volta à Câmara para defender a reforma da Previdência. Ele, no entanto, avisou que o PSDB está voltado para a “busca” de um “líder” para governar o País a partir de 2019.

Baldy, por sua vez, usou boa parte de seu discurso para agradecer a presença do governador Marconi Perillo, seu padrinho político. Uma claque que se deslocou de Anápolis e Goiânia estava no Salão Oeste do Planalto para dar os aplausos.

A posse de Baldy teve a presença de 13 ministros de Temer, incluindo o da Fazenda, Henrique Meirelles, da Agricultura, Blairo Maggi, e da Casa Civil, Eliseu Padilha.

 

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