O globo, n.30738 , 03/10/2017. PAÍS, p.6

Moro pede a hospital confirmação de visita

DIMITRIUS DANTAS

 

 

Juiz quer saber se Glauco da Costamarques recebeu advogado e contador de Lula para assinar recibos Valores de aluguel que constam em declarações de renda de Lula e Glaucos seriam, segundo o MPF, manobra para dar veracidade à locação

Após o empresário Glaucos da Costamarques contestar os recibos de aluguel apresentados pela defesa do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmar que assinou parte deles de uma vez só enquanto estava internado no Hospital Sírio-Libanês, o juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba, Sergio Moro, decidiu pedir informações à unidade de saúde. Glaucos ficou hospitalizado entre novembro e dezembro de 2015 para um procedimento cardíaco. O juiz quer saber se ele recebeu visitas de duas pessoas: do advogado e compadre de Lula, Roberto Teixeira, também réu no processo, e do contador João Muniz Leite, que teria levado os recibos para que fossem assinados. O hospital tem cinco dias para responder. Registros de entrada e saída na portaria podem ser usados.

A polêmica sobre os comprovantes cresceu após a defesa de Lula apresentálos em processo judicial como prova de que Lula e sua família teriam pagado pela locação do apartamento ao lado do seu em São Bernardo do Campo (SP). Glaucos afirma não ter recebido pelo aluguel do imóvel entre 2011 — ano em que Lula oficialmente deveria ter começado a pagar para ocupá-lo — e 2015.

 

SÍRIO DIZ NÃO TER RECEBIDO NOTIFICAÇÃO

A força-tarefa da Lava-Jato sustenta que o uso do apartamento era parte do pagamento de vantagens indevidas da Odebrecht a Lula, que incluiria também uma propriedade para ser a sede do Instituto Lula. Glaucos comprou um terreno com planos para instalação do instituto e, posteriormente, vendeu a opção de compra para a construtora DAG, considerada laranja da Odebrecht pelos investigadores.

“O pagamento de alugueres, esclareça-se, só começou a ocorrer após visita do Dr. Roberto Teixeira ao defendente, quando este estava internado”, escreveu a defesa de Glaucos em despacho. De acordo com os advogados, “foi nessa visita que o referido advogado informou-o de que os alugueres passariam a ser pagos regularmente”, sustentam.

Os valores correspondentes aos aluguéis constam das declarações de renda de Lula e de Glaucos. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), essa foi uma manobra para dar veracidade a um falso contrato de locação, já que não foi identificada movimentação bancária que comprovasse os pagamentos.

A defesa de Lula informou ontem que a responsabilidade sobre os documentos, e sobre “a veracidade do que eles atestam”, é da pessoa que os assinou.

“Não há questionamento sobre as assinaturas. A tentativa de transformar os recibos no foco principal da ação é uma clara demonstração de que nem o Ministério Público nem o juízo encontraram qualquer materialidade para sustentar as descabidas acusações formuladas contra Lula em relação aos contratos da Petrobras”, informou o advogado do ex-presidente Lula Cristiano Zanin Martins. A assessoria do Hospital Sírio-Libanês informou ontem não ter recebido a solicitação de informações sobre a internação de Glaucos. (*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)