O globo, n.30742 , 03/10/20175. PAÍS, p.3

AS NOVAS REGRAS DO JOGO POLÍTICO

CRISTIANE JUNGBLUT

PATRÍCIA CAGNI

MARIA LIMA

 

 

 
Temer sanciona reforma, com veto ao artigo que permitiria censura na internet

 

Após longas discussões, sessões que entraram pela madrugada, idas e vindas em textos emendados e remendados, a reforma política acabou aprovada pelo Congresso. O presidente Michel Temer sancionou ontem à noite os projetos que tratam do tema. Após a repercussão negativa da emenda incluída de última hora no texto da reforma política aprovada pela Câmara, que abria margem para a censura de comentários na internet, o presidente optou por vetar esse artigo do texto do projeto.

Também foram vetados trechos que tratavam da divisão dos recursos e retirada a previsão de que valores do Fundo Partidário pudessem financiar apenas candidatos majoritários. Os percentuais que valem a partir de 2018 estão no projeto do deputado Vicente Cândido (PT-SP), que regulamenta a distribuição do Fundo e cria as regras eleitorais.

“Os vetos ora apostos visam eliminar regras específicas propostas, antinômicas com outro projeto de lei ora sancionado, e que poderiam distorcer os objetivos maiores da reforma, preservando-se a proporcionalidade dentre os partidos, garantindo-se maior isonomia dos pleitos eleitorais e a observância estrita das regras eleitorais e do princípio democrático’’, declarou o presidente em nota.

O deputado Áureo (SD-RJ), autor da emenda da censura na internet disse, logo cedo, que se arrependeu do teor proposto. Ao colunista Lauro Jardim, Áureo afirmou que pediria ao presidente que vetasse o trecho da reforma. De acordo com ele, a proposta foi mal interpretada, e o projeto precisa ser melhor discutido com a sociedade, mas avaliou que este não é o momento certo para entrar nessa discussão. Em nota, o Palácio do Planalto confirmou a decisão. “O presidente atendeu ao pedido do deputado Áureo (SD-RJ) após conversar por telefone, hoje de manhã, com o parlamentar’,’ diz o documento.

Na quinta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) emitiram nota conjunta na qual criticam a emenda.

Na reta final da tramitação dos projetos no Legislativo, a reforma política se dividiu em três partes: o projeto que cria o Fundo Eleitoral com recursos públicos; o projeto que fixa como o dinheiro do Fundo será dividido e cria regras eleitorais para a eleição de 2018 e ainda uma Proposta de Emenda Constitucional que decreta o fim das coligações partidárias a partir de 2020 e cria a cláusula de desempenho para os partidos a partir de 2018.

Com a reforma sancionada, cria-se o chamado Fundo Especial de Financiamento de Campanha. O chamado “fundão” será abastecido por 30% do valor total das emendas parlamentares de bancada previstas para 2018 e ainda por recursos equivalentes à compensação fiscal que era dada até agora às emissoras de rádio e televisão pela veiculação da propaganda partidária eleitoral. Pelos cálculos, o fundo terá cerca de R$ 2 bilhões para 2018.

Parte dos recursos do fundo virá das emendas de bancada. Além dos R$ 2 bilhões, os políticos terão à disposição o chamado fundo partidário, que já existe e terá, em 2018, cerca de R$ 850 milhões. O resultado é um caixa de quase R$ 3 bilhões para ser usado nas eleições.

O pacote da reforma inclui também a permissão para que pré-candidatos comecem a arrecadar recursos antes do prazo. Em vez de agosto, será a partir de 15 de maio. O ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou ontem, no entanto, estar preocupado porque a pré-habilitação vai provocar uma sobrecarga de trabalho na Justiça Eleitoral.

Cada candidato a presidente poderá gastar até R$ 70 milhões, por exemplo. Durante análise do texto, o Senado retirou a proposta de dar uma espécie de Refis para os partidos políticos, que ganhariam 90% de desconto se quitassem suas dívidas eleitorais. Mas, em contrapartida, os senadores acabaram com o limite ao autofinanciamento de campanha. Para deputados, o fim dos gastos para o autofinanciamento beneficiará os mais ricos.

Diante da pressa para aprovar a reforma antes do prazo final de um ano antes das eleições, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), costuraram todo o acordo com o Palácio do Planalto para viabilizar a aprovação das regras eleitorais a toque de caixa. O presidente da Câmara conversou, na véspera, com Gilmar Mendes.

 

TSE VAI DECIDIR SOBRE VOTO IMPRESSO

Alguns pontos terão que ser resolvidos pelo TSE. Um deles é sobre a aplicação do voto impresso em 2018, já que Gilmar disse não haver recursos disponíveis — R$ 2 bilhões — para implementar a proposta. O TSE pediu que a novidade fosse adiada para 2022, mas foi derrotado.

Antes da sanção, Temer estabeleceu novos limites para o autofinanciamento, fixados em lei para cada cargo eletivo. Cada candidato a presidente poderá gastar até R$ 70 milhões, por exemplo. Para governadores, esse valor é de R$ 2,8 milhões a R$ 21 milhões. No caso de senadores, o montante pode chegar a R$ 5,6 milhões e, em relação aos deputados, o limite fica estabelecido em R$ 2,5 milhões. Gilmar Mendes disse, ao GLOBO, que considerou boa a forma final da reforma.