Valor econômico, v. 17, n. 4379, 10/11/2017. Política, p. A6.

 

 

Governo não ganhou votos na Câmara

Raymundo Costa

10/11/2017

 

 

A reforma da Previdência ganhou uma sobrevida, mas em relação ao Congresso está do mesmo tamanho - cerca de 280 votos - que tinha na segunda-feira. Para aprovar a proposta na Câmara este ano, o presidente Michel Temer precisa ainda garimpar um mínimo de 28 votos (50 para ter margem de segurança) entre deputados que se mostram mais arredios à medida que se aproxima a eleição de 2018 - para ser aprovada, a PEC da Previdência precisa de 308 votos. O tempo joga contra o presidente. O Congresso entra em recesso em 17 de dezembro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cancelou as sessões deliberativas da próxima semana. Ou seja, só no dia 20 o Congresso volta a trabalhar com os motores a pleno vapor. Além da Previdência, precisa votar o Orçamento do próximo ano, este sim prioridade dos deputados, a fim de assegurar recursos para suas emendas parlamentares. Temer foi emparedado na última segunda-feira pelo Centrão, que entrou na reunião disposto a enterrar a reforma da Previdência. Os partidos aliados somente queriam votá-la depois das eleições, ou seja, na janela a ser aberta para o Legislativo entre novembro e dezembro de 2018. Caiu a ficha. Velho conhecedor das manhas parlamentares, Temer reagiu botando a culpa pelo fracasso da reforma no colo do Congresso, a quem cabe agora manter viva a expectativa de alguma mudança na Previdência.

Há uma queda de braço entre Temer e a Câmara. Para avançar, os partidos que integram o Centrão querem os ministérios do PSDB, partido em via de abandonar a nau governista. O problema é que são pelo menos quatro as siglas - PP, PSD, PR e PTB - que querem a mesma vaga: o Ministério das Cidades (Itamaraty, Direitos Humanos e Secretaria de Governo entram no pacote só por estarem com tucanos, mas não despertam maior interesse). Ao atender um, Temer contrariará os outros três partidos. Sobretudo quando se sabe que o Ministério das Cidades é para o PP, que quer recuperar o feudo conquistado em 2005, quando o ex-presidente Lula reforçou as posições do partido no governo depois da eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara. De qualquer forma seria um ministro de três meses, a menos que o PP indique um nome como o de Gilberto Occhi, atual presidente da Caixa, que não deve disputar as eleições do próximo ano. O governo faz as contas para ver se vale a pena tirar seus aliados do PSDB do governo. Dos 23 deputados tucanos que votaram a favor da segunda denúncia do Ministério Público contra o presidente, apenas 5 votam sistematicamente contra os projetos de interesse do governo. O restante sempre vota com a pauta do Palácio do Planalto. Temer vai ganhar exatamente quantos votos tirando o PSDB do governo? Na contabilidade palaciana é bem provável que a semana termine como se iniciou: com 280 votos, mas com a chama da reforma da Previdência ainda acesa.