Valor econômico, v. 17, n. 4379, 10/11/2017. Política, p. A7.

 

 

Equipe de Segovia na PF reforça ligação com o PMDB

André Guilherme Vieira e Murillo Camarotto

10/11/2017

 

 

Cotado para assumir a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor) da Polícia Federal (PF), o delegado Eugênio Coutinho Ricas é ligado ao PMDB. Ele é o atual secretário de Controle e Transparência do Espírito Santo, nomeado em março de 2016 pelo governador Paulo Hartung (PMDB). Antes ocupou a Secretaria de Justiça do Estado, também na gestão Hartung. O pemedebista Sandro Avelar, candidato a deputado federal no Distrito Federal em 2014, deve ser o diretor executivo (Direx), o número dois da Polícia Federal. A Dicor é uma das diretorias mais estratégicas da PF. Seu diretor tem acesso a informações sobre todas as operações em andamento - incluindo a Lava-Jato - e toma conhecimento prévio sobre a deflagração de novas operações policiais. É o chefe da Dicor o responsável por autorizar a liberação de verba específica para custear o combate ao crime organizado. Seu atual diretor, Maurício Leite Valeixo, é um delegado de perfil pouco político e que priva da confiança do agora ex-diretor-geral Leandro Daiello Coimbra, que vai se aposentar. Valeixo ingressou na PF em 1994 e é mais experiente do que Eugenio Ricas, que chegou à corporação em 2003.

Apesar de atualmente ocupar cargo de cota política e da relação mantida com o pemedebista Paulo Hartung, Ricas é descrito como um policial qualificado por colegas dele ouvidos pelo Valor. Em 2012 foi o único policial brasileiro a se habilitar para o curso da Academia Nacional do FBI, a Polícia Federal americana, ministrado em Quantico, na Virgínia. Sandro Avelar concorreu a deputado federal em 2014 recebendo 22 mil votos e não se elegendo. Ele recebeu doação de R$ 11,6 mil reais do comitê de Michel Temer na eleição de 2014, além de R$ 20 mil doados pela fabricante nacional de armas Forjas Taurus, segundo a prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Avelar foi secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no governo do petista Agnelo Queiroz e será o número dois na hierarquia nacional da PF. Caberá a ele a liberação de verbas para a realização de operações policiais em Brasília. Avelar também presidiu a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) de abril de 2006 a abril de 2010. Cotado até poucos dias atrás para assumir a diretoria-geral da Polícia Federal, o delegado Rogério Galloro será o novo secretário Nacional de Justiça. O cargo ficou vago ontem, após o pedido de demissão de Astério Pereira dos Santos, que alegou motivos pessoais para a saída.

Em nota, o Ministério da Justiça informou que a atuação de Galloro na secretaria é compatível com o exercício do cargo de diretor do comitê executivo da Interpol, para o qual ele foi eleito no último dia 29 de setembro. O delegado Claudio Ferreira Gomes, que já ocupou cargo na corregedoria, assumirá a Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da PF, substituindo o delegado Elton Roberto Manzke. Entidades de classe de delegados e policiais federais avaliaram como positivas as indicações de cargos feitas pelo novo diretor-geral Fernando Segóvia. A expectativa é que Segóvia abra diálogo com os representantes sindicais das categorias. Daiello sempre foi criticado pelas entidades, que o acusavam de ser centralizador e pouco sensível às pautas reinvindicadas, como a criação de uma lei orgânica específica para a PF, a exemplo do que já ocorre com a magistratura e o Ministério Público. Por outro lado, delegados que atuam em operações que estão em andamento acenderam o alerta pelo fato de postos fundamentais da instituição estarem sendo ocupados por pessoas que mantêm laços com o PMDB. O receio é que as superintendências regionais da PF passem por um processo de loteamento político - contra o qual Daiello lutou durante seus quase sete anos de mandato. Sua resistência em permitir o fatiamento político da PF foi um dos fatores preponderantes para a sua queda.