Valor econômico, v. 17, n. 4379, 10/11/2017. Política, p. A8

 

 

Tasso é destituído por Aécio da presidência interina do PSDB

Vandson Lima e Fabio Murakawa

10/11/2017

 

 

O senador Tasso Jereissati (CE) foi retirado da presidência do PSDB. Em uma atitude que aumentou a divisão existente no partido, o senador Aécio Neves (MG) que estava licenciado do posto, retomou o comando partidário apenas para destituir Tasso. Em seu lugar, o ex-governador paulista Alberto Goldman (SP), vice-presidente mais idoso, conduzirá o PSDB nos próximos 30 dias, até a convenção que escolherá a nova direção tucana. Aécio argumentou que queria garantir "isonomia" na disputa pela presidência do PSDB, o que não ocorreria, segundo ele, com Tasso à frente do partido. Ele havia anunciado no dia anterior que disputaria a permanência no cargo com o governador de Goiás, Marconi Perillo, preferido de Aécio e seu grupo político. "Decisão é totalmente legítima e, a meu ver, necessária. Nomeei Goldman por uma simples razão: Tasso anunciou sua candidatura", justificou Aécio. Ele chegou a pedir que Tasso abdicasse voluntariamente do cargo, diminuindo o atrito. "Me preocupa o PSDB sair da agenda das grandes reformas que precisam ocorrer no Brasil para se limitar a uma disputa interna". O senador cearense se negou. Destituído, Tasso acusou Aécio de mentir ao justificar a atitude. "Pedi a ele uma certa sinceridade. Disse que sabia que ele não queria isso em nome da equidade [na disputa]", disse. E sublinhou que as diferenças entre ele e Aécio vão "desde comportamento político, ao comportamento ético e visão de governo". Ele assegurou que sua candidatura à presidência do partido fica "mais fortalecida neste momento". Ele citou ainda lideranças históricas da legenda para criticar um suposto fisiologismo do grupo de Aécio. "O PSDB desses caras não é o meu. E não só o meu, não é o do Fernando Henrique, do Mário Covas, do José Richa, do Franco Montoro esse PSDB que está aqui", afirmou.

Segundo aliados de Aécio ouvidos pelo Valor, um dos motivos da ação mais forte contra Tasso é a desconfiança de que, ao final, a intenção dele não seja apenas presidir o partido, mas criar condições para ser o próprio candidato tucano a presidente da República nas eleições de 2018. Apesar do clima pesado, o novo interino do PSDB, Alberto Goldman disse que até a convenção trabalhará pela unidade da legenda. Ele pretende reunir o senador Tasso e Marconi para testar a viabilidade de um acordo. "Vou trabalhar para que haja um processo de convergência no PSDB. Conflito interno não ajuda. Importante seria o partido ter unidade. Isso faltou ao PSDB nos últimos tempos", admitiu. Goldman não descartou um acerto por um terceiro nome, consensual. Pré-candidato à Presidência da República, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin seria uma possibilidade, avaliou. "Se conseguirmos encontrar uma pessoa para o papel da unificação, é bom". As reações à decisão de Aécio variaram dentro do PSDB. Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes elogiou a atitude, demonstrando que os tucanos que compõem o governo do presidente Michel Temer concordam com Aécio. "Isso dará mais equanimidade ao processo de escolha do novo presidente do PSDB. É melhor que Tasso se afaste para que a disputa seja equilibrada". Adversário de Tasso na disputa interna, Marconi Perillo saiu em defesa da atitude de Aécio. Por nota, disse que "seria antiético e nem um pouco isonômico se essa decisão não fosse adotada, já que a máquina partidária poderia pender para o lado de quem estivesse no comando do partido".

Perillo continuou: "De minha parte, continuo determinado a manter o nível elevado dos debates e proposições e, sobretudo, aberto ao permanente diálogo em defesa da unidade e da pacificação do PSDB". Os defensores de Tasso foram mais duros nas palavras. Líder do PSDB na Câmara, o deputado Ricardo Tripoli (SP) classificou a destituição de Tasso de "descabelada" e "fora de prumo". Para ele, esse movimento não fortalece a "ala Jaburu", como está sendo chamado o grupo de tucanos que defende a permanência do partido na base aliada. "Isso apenas envergonha o partido. Quem gera mais problemas para o PSDB? O Tasso ou o Aécio? Quem causa mais constrangimento? O Tasso ou os ministros", questionou Tripoli. Líder dos "cabeças-pretas" do PSDB, grupo que tem pregado o rompimento com o governo Temer, o deputado Daniel Coelho (PE) foi à tribuna da Câmara e esbravejou. Classificou a destituição como um "golpe rasteiro" de Aécio, que teria sido articulado com os ministros do governo e o PMDB para evitar que o partido rompa com o governo. "O PSDB está enterrando sua história se não reagir a isso. Desrespeitando aqueles que fundaram o PSDB para se distanciar do PMDB corrupto e do fisiologismo". Aliado de Aécio, Marcus Pestana (MG) tentou minimizar as críticas públicas e disse que o plenário da Câmara não era o ambiente adequado para aquela discussão. "O senador Tasso foi indicado pelo Aécio, que se afastou para se defender, para ser o líder de todos, não de uma facção", afirmou.