O Estado de São Paulo, n. 45277, 04/10/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

 

Temer recebe em 1 dia 43 parlamentares

Presidente repete estratégia adotada na primeira denúncia e cumpre agenda de mais de 12 horas; 42 deputados e 1 senador vão ao Planalto

 

Tânia Monteiro

Carla Araújo

Daiene Cardoso / BRASÍLIA

 

Na estratégia para tentar barrar a segunda denúncia por obstrução da Justiça e organização criminosa na Câmara, o presidente Michel Temer abriu ontem o Palácio do Planalto e recebeu, de acordo com a última agenda oficial divulgada, 43 parlamentares. Nesta lista, porém, não constavam os políticos que foram ao palácio “de última hora” e não estavam relacionados, como Beto Mansur (PRB-SP).

Houve também deputados que constavam da agenda, mas disseram que não iriam ao Planalto, como os tucanos Shéridan (RR) e Nilson Leitão (MT). Em maratona de mais de 12 horas, o presidente se reuniu, conforme a agenda oficial, com 42 deputados federais e um senador. Ontem, a última audiência começou às 22h20. O presidente deixou o palácio às 23h45.

Logo cedo, diante das críticas aos compromissos “turbinados”, Temer usou as redes sociais para justificar a série de reuniões e rebateu a denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O presidente disse que o “diálogo é fundamental para a harmonia entres os Poderes” e afirmou que iria “conversar com representantes de todos os partidos da base, de todas as regiões do Brasil”, acrescentando que esta “é uma rotina” que sempre manteve.

Sobre a acusação formal da qual é alvo, criticou a denúncia. “Precisamos lidar com mais uma denúncia inepta e sem sentido, proposta por uma associação criminosa que quis parar o País. O Brasil não será pautado pela irresponsabilidade e falta de compromisso de alguém que se perdeu pelas próprias ambições”, escreveu Temer.

Apesar do número oficial, auxiliares do presidente diziam que estava difícil fazer a contagem das audiências por causa do “entra e sai” no gabinete. Em algumas agendas, deputados que estavam com Temer foram ao Congresso e depois voltaram ao palácio.

Dos parlamentares que estiveram no Planalto, 12 integram a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara – o colegiado vai votar parecer sobre a denúncia contra Temer.

Além dos encontros com Temer, pelo menos outros dez deputados estiveram no Planalto para conversar com ministros também para apresentar demandas, como foi o caso dos deputados Paes Landin (PTB-PI) e Walter Ihoshi (PSD-SP). Landin votou a favor de Temer na primeira denúncia e já avisou que repetirá o voto. Ihoshi também apoiou o presidente em agosto, na votação da primeira denúncia, mas agora disse que ainda vai analisar.

 

Desgaste. Interlocutores do presidente tentaram minimizar o desgaste em torno da declaração da deputada Shéridan, de que não tinha pedido nem sido convidada para reunião com o presidente, que não tinha nada para tratar com ele e que essa ampla agenda era uma tentativa explícita de angariar votos contra a nova denúncia.

A “maratona” repetiu a estratégia usada na primeira denúncia, quando Temer chegou a sair quase meia-noite do Planalto, depois de um dia inteiro recebendo deputados. Único parlamentar a confirmar que o presidente está conversando com deputados para se defender, “explicando pontos contraditórios da denúncia”, foi Beto Mansur, que integra a tropa de choque de Temer e está fazendo as contas dos votos para o governo na CCJ e no plenário da Câmara.

 

Audiência. O presidente Michel Temer passou o dia no Palácio do Planalto recebendo parlamentares de diversos partidos

 

 

 

 

 

 

 

Presidente cancela viagem ao ABC para evitar protesto de sem-teto

Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

O Palácio do Planalto decidiu de última hora mudar de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para São Paulo a cerimônia de entrega de 225 ambulâncias pelo presidente Michel Temer marcada para hoje.

Segundo o Planalto, não houve mudança – pelo menos desde sexta-feira a intenção era fazer a cerimônia em São Paulo e um erro operacional do setor de credenciamento da Presidência motivou a confusão.

No entanto, fontes do governo informaram que a mudança teve razões de segurança, uma vez que a fábrica da Mercedes-Benz, onde seria realizada a cerimônia, fica relativamente perto da Ocupação Povo Sem Medo, liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Bernardo.

Há um mês, cerca de 7 mil famílias sem-teto ocupam uma área de 70 mil metros quadrados pertencente à construtora MZM na cidade do ABC. O terreno se transformou em um barril de pólvora e virou ponto de peregrinação de políticos de esquerda. Desde a ocupação, a empresa tenta na Justiça uma ordem de reintegração de posse e o MTST promete resistir.

Autoridades de São Bernardo alertaram a Presidência sobre o risco de protestos contra cortes do governo no programa Minha Casa Minha Vida durante a passagem de Temer pela cidade. Ontem, o Planalto informou que a cerimônia será em uma concessionária da Mercedes-Benz em São Paulo e não em São Bernardo, onde foram produzidas 222 das 225 ambulâncias que Temer vai entregar.

 

 

 

 

 

PSDB não decide sobre Bonifácio

Por: Daiene Cardoso

O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), disse que vai esperar até “o último minuto” para decidir se vai destituir ou não o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Tripoli enviou emissários para pressionar Bonifácio a desistir da relatoria da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, mas o deputado disse que não pretende sair.

A bancada tucana se reuniu na tarde de ontem para tentar um acordo, mas até a conclusão desta edição não havia decisão. /DAIENE CARDOSO