O Estado de São Paulo, n. 45277, 04/10/2017. Economia, p.B3

 

 

 

Perdão a suspeito de corrupção é retirado do Refis

Essa é uma das emendas feitas ontem pela Câmara; se aprovadas pelo Senado, ainda precisam passar pela sanção do presidente

Por: Igor Gadelha

 

Igor Gadelha

 

A Câmara dos Deputados aprovou ontem em plenário uma série de emendas alterando as regras de adesão ao Refis previstas no texto-base da medida provisória (MP) aprovado na semana passada. Entre as emendas, os deputados aprovaram destaque para retirar da MP o trecho que permitia parcelamento de dívidas com a Procuradoria-Geral da União. Na avaliação de procuradores, isso poderia permitir que suspeitos de corrupção parcelassem e tivessem descontos ao devolverem à União dinheiro desviado dos cofres públicos.

Esse trecho havia sido incluído durante a análise da proposta em uma comissão mista do Congresso, mas acabou retira- do ontem no plenário da Câmara após a imprensa divulgar a brecha. As mudanças, se chanceladas pelo Senado, vão reduzir ainda mais a arrecadação do governo com o programa. As alterações anteriores, com regras mais benevolentes para os devedores, já tinham feito com que o governo diminuísse a expectativa de ingresso de recursos com o programa de R$ 8,8 bilhões para R$ 3,2 bilhões.

O líder do governo na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), disse que as mudanças poderão ser vetadas pelo presidente Michel Temer, pois contrariam texto acordado entre Executivo e Legislativo.

Durante a votação, foi rejeitada por 205 votos a 164 emenda que visava a proibir políticos, funcionários públicos e suas empresas de aderirem ao Refis. Com a rejeição, eles poderão aderir ao programa para parcelarem suas dívidas tributárias e previdenciárias, assim como seus cônjuges, parentes até segundo grau e sócios. Na primeira versão do programa, no primeiro semestre, esse público não pôde aderir ao Refis.

A liderança do governo se posicionou contra a emenda. “Daqui a pouco só ser político já vai ser crime”, disse Ribeiro.

Em julho, o Estadão/Broadcast mostrou que deputados e senadores deviam naquele mês R$ 532,9 milhões à União, de acordo com dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.

Outra alteração aprovada foi para isentar contribuintes que aderirem ao programa do pagamento de encargos legais e honorários advocatícios. O texto- base da MP previa apenas desconto de 25% nos valores desses encargos. Emenda apresentada pelo PP, porém, elevou para 100% o desconto.

Apesar da mudança em relação aos encargos, foram mantidos descontos nas multas e juros que contribuintes terão de pagar para aderir ao Refis. Para as multas, os descontos serão os seguintes: até 70%, para pagamento à vista; 50%, para pagamento parcelado em 145 meses; e 25%, quando parcelar em 175 meses. No caso dos juros, os descontos previstos são, respectivamente, de 90%, 80% e 50%.

Deputados ainda aprovaram emenda para permitir que empresas que estão no Simples Nacional possam aderir ao Refis. Também foi aprovado o fim do chamado “voto de qualidade” no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), tribunal em que se discute as multas do Fisco. A proposta aprovada estabelece que, a partir de agora, quando houver empate nos julgamentos, a decisão será sempre favorável ao contribuinte.

Outra alteração diz respeito a dívidas tributárias com a receita de igrejas, entidades religiosas e instituições de ensino vocacional sem fins lucrativos. A remissão vale para débitos inscritos ou não na Dívida Ativa da União, inclusive aqueles objetos de parcelamentos anteriores ou que são alvo de discussão administrativa ou judicial.

O relator Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) afirmou que o perdão da dívida “corrige” um erro. Segundo ele, essas entidades já seriam imunes à tributação e, por isso, não deveriam ser cobradas.

Na noite de ontem, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) informou que a votação do Refis no Senado pode acontecer amanhã ou na terça-feira da semana que vem.

 

Indignação

“Daqui a pouco só ser político já vai ser crime.”

Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)

LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS