Título: O novato que desbancou o eterno Jucá
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2012, Política, p. 6

Perfis Eduardo Braga

Remando contra a maré no Congresso, novo líder do governo no Senado promete aliar dureza e humildade para enquadrar a base

O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) tem apenas um ano e três meses de mandato no Senado e conseguiu tirar do cargo o longevo Romero Jucá (PMDB-RR), o "eterno líder do governo, de qualquer governo", como diz a piada que corre no tapete azul da Casa. Antes disso, teve uma breve passagem pela Câmara dos Deputados, tomando posse em 1991 e deixando o mandato em 1992 para ser eleito vice-prefeito de Manaus. "Ele não conhece os escaninhos do Senado", alfinetou um peemedebista histórico. "Vai se perder no primeiro encaminhamento de votação", previu outro. "Entrou agora no ônibus e já quer sentar na janela", atacou um terceiro. A pouca experiência de Brasília pode atrapalhar, dizem interlocutores. Mas não deve intimidá-lo.

Conhecer Brasília como parlamentar federal, Eduardo Braga de fato conhece pouco. Mas sempre marcou presença na capital federal em votações que interessavam ao seu estado, nos tempos em que era governador do Amazonas. "Ele é um monstro político e sempre apareceu no Congresso, principalmente durante os debates de concessões para a Zona Franca de Manaus", lembra o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), que ora é aliado, ora é adversário do conterrâneo.

Braga tem fama de trator — mesmo perfil de seu equivalente na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) —, e próximo do estilo que a presidente Dilma Rousseff aprecia. Também é conhecido por se debruçar sobre os temas que tem de conduzir. E pela empáfia que desfila quando se sente à vontade na conversa. "Ele pode até não dominar o assunto. Mas, se achar que é preciso, vai te dar uma aula e passar a impressão de que o desentendido é você", conta um desafeto.

Nesta semana, no auge da crise com o PR no Senado, Braga elevou o tom do discurso, orgulhando a presidente Dilma. "O governo tem todo o interesse em conversar com o PR, mas ele deve abandonar essa posição de radicalização", referindo-se às ameaças do partido de tornar-se oposição caso não consiga reassumir o controle do Ministério dos Transportes. Mas negou o interesse de atropelar adversários no debate. "Espero que vocês não me rotulem de autoritário. Sempre fui firme e duro, mas também sei conversar, sei ser humilde e pedir desculpas quando é preciso", defendeu-se.

Não é só com o PMDB que Braga precisa se preocupar. Ele também tem um desafeto regional considerável, bem próximo, e com o qual terá que negociar nesta semana: o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM). Durante a campanha de Dilma, Braga veio a Brasília conversar com o ex-presidente Lula para anunciar que apoiaria o nome de Omar Aziz (PSD) para sucedê-lo. O petista queria toda a base apoiando Alfredo Nascimento, que deixara o Ministério dos Transportes para concorrer ao governo estadual. Braga não seguiu a ordem.

Omar foi eleito e os caminhos de Braga e Alfredo voltaram a se cruzar, dessa vez em Brasília. Na formação do primeiro ministério de Dilma, no fim de 2010, o PMDB tentava tirar do PR o Ministério dos Transportes e indicou Braga para escantear Alfredo. Dilma não caiu na armadilha da disputa regional e manteve o PR na pasta — pelo menos por sete meses, prazo ao fim do qual o partido perdeu o feudo por suspeitas de corrupção.

Dilma ofereceu para o PMDB o Ministério da Previdência, mas Braga recusou. Sobrou para Garibaldi Alves (RN). O curioso é que, como líder do governo no Senado, Braga terá que amaciar a base para votar a Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp), projeto conduzido pela pasta que rejeitou no fim de 2010.

Seus inimigos dizem que ele sabe ser humilde quando lhe convém, para vencer resistências e derrubar barreiras. Está substituindo Romero Jucá, querido por Lula. Sabe que o ex-presidente tem uma dívida com ele por ter derrotado o tucano Arthur Virgílio (AM) na disputa pelo Senado. Mas, por via das dúvidas, em mais um gesto que atesta seu tom conciliador, foi a São Paulo na última sexta-feira pedir a bênção do petista para a nova tarefa.

Espero que vocês não me rotulem de autoritário. sempre fui firme e duro, mas também sei conversar, sei ser humilde e pedir desculpas"

Eduardo Braga, líder do governo no Senado