Correio braziliense, n. 19916, 02/12/2017. Política, p. 4

 

Janot alfineta Segóvia

Renato Souza 

02/12/2017

 

 

Ex-procurador-geral da República diz que novo diretor da Polícia Federal foi escolhido pelo presidente para frear investigações contra políticos. Em entrevista ao Correio, quando assumiu o órgão, delegado garantiu continuidade da Lava-Jato

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou que o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, “chegou ao cargo para frear a investigação sobre políticos na Operação Lava-Jato.” As declarações foram feitas em entrevista dada à agência Reuters em Brasília, publicada ontem. Essa foi a primeira vez que Janot falou sobre a mudança no comando da PF após Segóvia tomar posse.


Janot deixou o cargo em setembro deste ano e foi responsável por enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) três pedidos de abertura de inquérito contra o presidente Michel Temer e uma infinidade de ações contra pessoas com foro por prerrogativa de função. A escolha do diretor da PF foi feita pelo presidente da República. Nos primeiros dias à frente da corporação, o delegado fez críticas ao mandato de Janot e falou em eventuais erros do Ministério Público na condução de algumas operações.

O procurador acusou Segóvia de ter como objetivo o desvio do foco da Polícia Federal em combater a corrupção. “Segóvia foi nomeado para completar uma missão — desviar o foco das investigações”, afirmou o ex-procurador-geral. Após sair de um evento no Rio de Janeiro, o diretor da PF afirmou “ainda não avaliei as declarações de Janot e não posso prejulgar”. Por esse motivo, segundo ele, preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

Corrupção
Na reportagem da agência de notícias, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, é acusada de pedir aos procuradores do Ministério Público que “evitem falar a palavra corrupção”. Segundo a Reuters, Dodge também teria determinado que seus subordinados dessem menos declarações públicas sobre as investigações. De acordo com fontes da matéria, a procuradora-geral atuaria para atrasar os trabalhos da Operação Lava-Jato.

Em entrevista ao Correio, publicada em 19 de novembro, Fernando Segóvia colocou em dúvida as provas usadas em uma ação controlada que flagrou o deputado Rodrigo Rocha Loures carregando uma mala com R$ 500 mil em espécie, em São Paulo. No entanto, Segóvia afirmou que tem como “prioridade continuar o combate à corrupção e afirmou que a Lava-Jato vai continuar em sua gestão.” Ele também destacou que as investigações contra autoridades vão continuar, sem interferência do governo.

Em nota, a Secretaria de Comunicação da Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que Raquel Dodge “nunca pediu que os procuradores evitassem mencionar a palavra corrupção, pois todos os procuradores têm independência funcional”. A PGR informou ainda que de 840 manifestações enviadas ao Supremo Tribunal Federal, 450 são referentes à Operação Lava-Jato, todas na gestão de Dodge.