Correio braziliense, n. 19915, 01/12/2017. Política, p. 3

 

Ex-governador de Alagoas na mira

Renato Souza 

01/12/2017

 

 

PODER » Polícia Federal investiga Teotônio Vilela Filho por suspeita de envolvimento no desvio de dinheiro na construção do Canal do Sertão, obra que deve ficar pronta em junho do ano que vem

A Operação Caribdis, deflagrada ontem pela Polícia Federal, investiga o envolvimento do ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (PSDB) com possíveis fraudes no Canal do Sertão, obra criada para levar água para a população de diversas cidades do estado. Teotônio é acusado de ter recebido até R$ 2,1 milhões em propina. Além do político, o então secretário de Infraestrutura do Estado, Marco Fireman, foi alvo de busca. A operação cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em Maceió, Salvador (BA), Limeira (SP) e Brasília.

De acordo com a PF, são investigadas operações superfaturadas nas etapas 3 e 4 da obra. Elas foram realizadas entre 2009 e 2014. As empreiteiras Odebrecht e OAS são acusadas de integrarem o esquema criminoso e de terem pago propina para políticos e agentes estatais envolvidos. As investigações também apuram o envolvimento de órgãos públicos. No entanto, a polícia não informou quais setores do governo são alvos da operação.

A casa de Teotônio, em Maceió, foi alvo de um dos mandados de busca. A Polícia Federal apreendeu na residência dois celulares — um dele e outro da mulher. Marco Fireman atualmente é secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde. A Polícia Federal também esteve no gabinete dele, em Brasília. Em nota, o ministério informou que está colaborando com as investigações e que “nenhum documento foi levado durante a operação”. A 2ª Vara Federal de Alagoas autorizou a operação policial.

As primeiras investigações apontam que a obra havia sido utilizada para os crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa. As ações de ontem tiveram como objetivo recolher documentos dos fatos investigados. Uma das provas utilizadas no processo é uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU) revelando sobrepreço no contrato entre o governo de Alagoas e a Odebrecht. A licitação relacionada a esse serviço foi orçada em R$ 33.931.699,46.

O Canal do Sertão é um projeto que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A ideia é de que o projeto leve água para 1 milhão de pessoas em Alagoas, amenizando o clima quente do semiárido nordestino. Orçada inicialmente em R$ 1,5 bilhão, a previsão é de criação de um canal de 250 quilômetros de extensão que deve cortar 42 municípios alagoanos. A perspectiva é de que fique pronta em junho de 2018.

Em nota, o ex-governador negou as acusações. Ele afirmou que “tem consciência de que não praticou nenhum crime e que a verdade será restabelecida”. A Construtora Odebrecht informou, por meio da assessoria, que “está colaborando com as autoridades no esclarecimento de todos os fatos por ela revelados, e reafirma o seu compromisso com a verdade e com uma atuação ética, íntegra e transparente, no Brasil e em todos os países nos quais atua”. O nome da operação, Caribdis, se refere a uma criatura da mitologia grega vista como protetora dos limites do mar.

R$ 2,1 milhões

Valor, segundo a Polícia Federal, que teria sido repassado pela Odebrecht para o ex-governador de Alagoas